Sem novas restrições no próximo inverno pode ocorrer uma nova onda epidémica

“O risco de transmissibilidade é efetivamente é mais baixo”, assinalou o epidemiologista do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) Baltazar Nunes, na reunião que decorre no Infarmed, esta quarta-feira.
Segundo o especialista, o Rt atual está fixado em 0,76 e há “cerca de nove dias” passou a verificar-se uma redução em metade dos casos diários, o que faz Baltazar Nunes prever que, “em dois meses possa ser atingido um valor muito mais baixo”. No entanto, denotou, “continuamos com nível de incidência muito elevada”.
De acordo com Baltazar Nunes, manteve-se o cenário de perda intermédia de imunidade conferida pela vacinação,
Em janeiro de 2021, o número de óbitos foi muito superior do que nos restantes anos anteriores. Agora, a combinação de várias medidas, a cobertura vacinal e o surgimento e domínio de uma variante que produz doença menos grave levaram a que fosse atingida um número de mortos “ao nível de um inverno com baixa mortalidade”.
Baltazar Nunes aponta, por isso, o “potencial” de adotar algumas destas medidas preventivas para evitar períodos de infeções respiratórias, dada a sazonalidade já reconhecida destas patologias. “A atividade epidémica é mais intensa durante outono/inverno do que na primavera/verão”, reconhece o especialista.
“Há um potencial de sazonalidade” na circulação do coronavírus e na doença Covid-19, e uma maior atividade epidémica e ocupação de camas no outono/inverno fornecem pistas em relação aos padrões epidémicos para o futuro.
Quanto à perda de proteção da vacina, importa saber o que acontecerá, à medida que ocorre o decaimento dos anticorpos. Colocado o cenário de ausência de novas restrições, conclui o especialista que, à medida que a população vai perdendo a proteção, “em setembro, outubro ou no próximo inverno, pode ocorrer uma nova onda epidémica”. Este é um cenário que não inclui qualquer medida de mitigação, volta a salvaguardar.
Existe uma perda de proteção intermédia, face ao domínio da variante Ómicron. Para o futuro, importa compreender este possível padrão de sazonalidade e acompanhar o que trará a introdução ou não de uma nova variante (vai depender muito do período em que surja e da capacidade de fuga ao sistema imunitário, explica o epidemiologista do INSA).
Como o tempo de proteção vacinal é de cerca de um ano, é necessário manter uma monitorização atenta nos próximos meses, aconselha.
Pandemia com “tendência decrescente”. Pico da quinta vaga foi a 28 de janeiro
O especialista em saúde pública da DGS Pedro Pinto Leite avalia a situação epidemiológica em Portugal, tendo como base o período até ao último domingo, dia 13 de fevereiro.
Portugal passou por “cinco grandes ondas epidémicas”, sendo que o pico da quinta vaga foi a 28 de janeiro.
Na última semana, foi registada uma média diária de 22 mil casos. Pedro Pinto Leite destaca que estamos “numa fase decrescente da onda pandémica relacionada com a Ómicron”.
Todas as regiões do país estão com uma “tendência decrescente” da pandemia, bem como todos os grupos etários.
“Ao longo desta onda conseguimos manter com incidências relativamente mais baixas os grupos etários mais velhos”, explica o especialista, que sublinha que a proporção de positividade está a decrescer. “Temos uma diminuição da incidência acompanhada pela diminuição da positividade.”
Pedro Pinto Leite destaca também a proteção conferida pela vacinação, com 91% da população vacinada com as duas doses da vacina. O especialista refere também que há 88% da população com 50 ou mais anos que já tomaram a dose de reforço da vacina.
Pedro Pinto Leite destaca o impacto positivo da vacinação nos indicadores da pandemia. O risco de internamento foi “duas a sete vezes inferior” com vacinação completa. Os serviços de saúde verificaram uma “estabilização”, com “tendência decrescente no número de doentes em unidades de cuidados intensivos”.
“Estamos muito longe do que estivemos no inverno passado”, afirma.
O impacto na mortalidade também “estabilizou” e está agora com “tendência decrescente”.
“O risco de morte com vacinação completa é duas a seis vezes menor”, nota Pedro Pinto Leite.
Por fim, o especialista diz que a fase atual é “favorável” à revisão das medidas de combate à pandemia.
