Quase 30% dos portugueses perderam seis ou mais dentes

Perto de 2,6 milhões de portugueses (28%) perderam seis ou mais dentes e cerca de 590 mil vivem sem qualquer dente natural. Os dados do Barómetro da Saúde Oral de 2024, que indicam ainda que 66,7% da população portuguesa apresenta ausência de pelo menos um dente natural (excluindo terceiros molares), constam do estudo “A relação entre a saúde oral e a qualidade de vida da população idosa em Portugal”, que o Fórum Saúde XXI apresenta hoje durante a conferência “O Poder do Terceiro Sorriso”.
“Temos 2,6 milhões de pessoas que apresentam uma perda de seis ou mais dentes e a maior parte delas são idosos”, aponta Pedro Serra Pinto, fundador e diretor executivo do Fórum Saúde XXI, sublinhando que Portugal é dos países mais envelhecidos da união Europeia.
O estudo faz uma análise de informação existente, concluindo que “a falta de saúde oral compromete a saúde geral e a saúde mental”. A falta de saúde oral vai agravar outro tipo de doenças, como a diabetes e problemas cardiovasculares. Também há problemas do ponto de vista da nutrição. “À medida que as pessoas ficam sem dentes, começam a ter dificuldade em mastigar e escolhem muitos alimentos processados. Começam a ter dificuldades em falar e a dicção piora. Se forem muitos dentes, do ponto de vista psicológico, não se sentem bem e têm tendência a isolar-se, influenciando a sua saúde mental”, refere Pedro Serra Pinto.
O diretor do Fórum Saúde XXI realça o peso de características sociais, nomeadamente a educação e a pobreza, que pesam na equação. “As pessoas com rendimentos mais baixos são as que têm, normalmente, mais problemas de saúde oral. Quem não tem recursos para poder ir ao privado, não tem acesso a cuidados através do SNS e vai ter problemas”, sublinhando que o SNS tem oferta nesta área, mas “é muito baixa e não responde às necessidades da população”.
Dar visibilidade
O tema da saúde oral na população idosa é de tal forma importante, diz Carlos Ribeiro Ferreira, da Medis, parceira no estudo, que “tem de vir para a discussão pública”. O debate do tema ajudará a “perceber como, face aos mecanismos que estão criados, conseguimos afetar uma resposta adequada”.
Através deste estudo pretende-se dar visibilidade à situação, para que se procurem soluções, o que pode passar por “ampliar o acesso aos cuidados de saúde oral no SNS e termos, por exemplo, programas de prevenção e reabilitação de saúde oral em Unidades de Cuidados Continuados e Lares de idosos – locais onde se registam muitos problemas”, acrescenta Pedro Serra Pinto. Outro fator importante é a “sensibilização dos médicos de família”, porque não se pode separar a saúde oral das outras vertentes. Estes médicos, diz, “devem promover a literacia da saúde oral e as implicações que esta tem na saúde geral”.
Jornal de Notícias
