Primeiro avião com oito toneladas de material médico aterra no Sudão

Um primeiro carregamento aéreo de oito toneladas de ajuda humanitária chegou este domingo a Porto Sudão, cidade costeira a 850 quilómetros a leste de Cartum, onde decorrem os combates mais duros entre o exército sudanês e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido. A Cruz Vermelha alerta para uma situação “muito difícil” na historicamente martirizada região do Darfur, ao passo que o Programa Alimentar Mundial antevê já uma crise em toda a África Oriental.
O avião partiu de Amã, na Jordânia. Transportou para Porto Sudão “produtos anestésicos, pensos, materiais de sutura e outros materiais cirúrgicos”, adiantou o Comité Internacional da Cruz Vermelha.
Com este material, afirmou aos jornalistas o diretor regional da Cruz Vermelha para África, Patrick Youssef, vai ser “possível tratar 1.500 feridos”. A organização espera poder fazer chegar o equipamento “rapidamente aos hospitais de Cartum”.A Cruz Vermelha espera que este primeiro voo com material humanitário permita prestar cuidados médicos a 1.500 pessoas no Sudão, país onde a maior parte das unidades hospitalares fechou portas por causa da guerra civil.
Youssef alertou, ao mesmo tempo, para um quadro “muito difícil” no Darfur, onde, em “tempos normais”, seria possível acompanhar os deslocados internos. Atualmente, essa é uma missão que o Comité Internacional da Cruz Vermelha não pode cumprir. Faltam “mais garantias de segurança”, quer no Darfur, quer na capital, Cartum. Isto a somar à escassez de água corrente e eletricidade, além da necessidade de retirar combatentes de estabelecimentos de saúde.
O responsável da Cruz Vermelha adverte também para a necessidade de encontrar alternativas aos 15 hospitais já bombardeados no conflito em curso e substituir médicos esgotados.
“Só 16 por cento dos hospitais estão a funcionar em Cartum, segundo as Nações Unidas, e a situação é catastrófica por causa da falta de médicos e de equipamento médico”, afirmou Patrick Youssef, para acrescentar que, “em tempos normais, um hospital deve ser reabastecido de dois em dois dias, mas em tempos de guerra, especialmente como agora, em que os hospitais são saqueados e atacados, o prazo fica mais curto”.
“As doenças crónicas serão uma das nossas próximas prioridades”, apontou ainda o diretor regional.O espaço aéreo do Sudão encontra-se fechado desde o passado dia 15 de abril, data em que eclodiram confrontos no aeroporto de Cartum. Na base do conflito estão diferendos sobre a integração de paramilitares nas Forças Armadas, ao abrigo da transição democrática.
Desde o início dos confrontos, morreram pelo menos 528 pessoas e mais de quatro mil ficaram feridas, de acordo com o balanço em permanente atualização do Ministério sudanês da Saúde. Acumulam-se os corpos nas ruas tomadas pelos combates, o que dificulta a contagem de vítimas.
O Programa Alimentar Mundial (PAM) veio entretanto avisar que a guerra fratricida sudanesa pode dar lugar a uma crise alimentar generalizada na África Oriental. A estrutura teme mesmo que este conflito possa alimentar a violência nos sere países que fazem fronteira com o Sudão: Egito, Líbia, Chade, Sudão do Sul, Etiópia, Eritreia e República Centro-Africana.
Martin Frick, diretor do PAM na Alemanha, fez notar, em declarações à agência DPA, que “um terço dos 45 milhões de pessoas do país passava fome antes do início dos combates e agora há escassez de tudo e os preços estão a aumentar”.O grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido anunciou este domingo, unilateralmente, o prolongamento de tréguas, tendo em vista manter abertos corredores humanitários.
A situação estende-se ao Sudão do Sul e ao Chade, países que já receberam largos milhares de refugiados sudaneses.
A reforçar o sinal amarelo acionado pelo PAM, Anicet-Georges Dologuele, antigo primeiro-ministro da República Centro-Africana, assinalou à Bloomberg que se trata de “uma região onde há muito ouro e diamantes”
“Os grupos armados financiam operações através destes recursos e temo que isto possa ser um fator de atração”, vincou.
c/RTP e agências
