Pergunta do dia. Afinal a feira fica no sopé do Monte Picoto ou faz as malas para outro lado?

As vozes das campanhas misturaram-se com o pregão dos feirantes. No sopé do Monte Picoto, onde a feira corta o trânsito todas as terças-feiras, a política também montou banca e a pergunta impôs-se: depois das eleições, a feira fica onde está ou muda de lugar?
João Rodrigues, candidato da coligação Juntos por Braga (PSD/CDS-PP/PPM), foi dos primeiros a chegar e não deixou margem para dúvidas. Disse que tem assegurado aos comerciantes, “um a um”, que a feira sairá daquele local. O atual executivo, liderado por Ricardo Rio, tem sido criticado pela mudança de sítio e o cabeça de lista da coligação no poder reconhece o descontentamento generalizado. “Esta medida não agrada à maior parte dos comerciantes, nem aos clientes, e muito menos aos bracarenses que ficam com uma estrada nacional cortada todas as terças”, afirmou. Apesar disso, não fecha portas a alternativas e promete diálogo. “Uma coisa é certa, nunca vamos tomar a decisão contra os feirantes. Vai ser sempre em consonância com eles”, garantiu.
Na coligação Somos Braga (PS/PAN), António Braga foi taxativo. “Na semana seguinte à tomada de posse, vencendo as eleições, eles estarão no parque automóvel do Fórum Braga.” O socialista considera que esse é “o sítio de onde nunca deviam ter saído” e fala em “justiça para uma feira com tradição e história”. Critica ainda as condições atuais, lamentando que “a feira aqui seja muito fraca, as pessoas adiram pouco e os feirantes não tenham condições dignas”. Para o candidato, “é uma feira a morrer aos poucos, e nós queremos revitalizá-la”.
João Baptista, cabeça de lista da CDU, descreve a localização atual como “terceiro-mundista”. O candidato comunista chama a atenção para os problemas de estacionamento e acessibilidade, que afastam clientes e reduzem o movimento. “As pessoas vêm-se atrapalhadas para parquear, o declive é elevado e o espaço não tem condições. Queremos que a feira volte ao Fórum Braga, o seu local original, onde havia dinâmica”, disse. Para João Baptista, a mudança foi uma decisão errada a vários níveis e deve ser revertida logo no início do próximo mandato.
O independente Ricardo Silva, do movimento Amar e Servir Braga, defende o regresso da feira ao Fórum Braga, mas com uma visão mais ampla. “A nossa primeira opção é devolver a feira ao parque de estacionamento do Fórum Braga”, explicou. A longo prazo, admite avaliar se esse é mesmo o melhor local e considera que o Campo da Vinha, requalificado, poderia acolher a feira no futuro. Para Ricardo Silva, o essencial é devolver dignidade e lógica à feira. “A forma como está montada hoje não é intuitiva nem funcional. Queremos planificá-la de modo a garantir boas condições para feirantes e visitantes, com acesso facilitado por transportes públicos”, acrescentou.
Rui Rocha, da Iniciativa Liberal, também não poupa críticas. Para o candidato, “é absolutamente inaceitável ocupar uma via como esta com a feira”. Defende diálogo com todos os envolvidos e uma decisão baseada na funcionalidade. “Queremos ouvir os interessados e encontrar uma localização adequada. O Fórum é uma hipótese, mas podem surgir outras soluções.” O liberal recorda as queixas sobre as condições e sobre a falta de poder de compra dos bracarenses, sublinhando que a economia local é prioridade. “Precisamos tornar Braga uma cidade mais competitiva, com melhores salários e mais investimento. Isso também trará mais vida à feira”, afirmou.
António Lima, cabeça de lista do Bloco de Esquerda, partilha a crítica à localização atual, mas introduz nuances na proposta. Defende que a feira volte ao parque do Fórum, mas considera necessário requalificar o espaço, renaturalizar o pavimento e criar melhores condições. “Num futuro próximo, o ideal seria um local mais central, próximo do Mercado Municipal, como o Campo da Vinha”, exemplificou. O bloquista sublinha que “os feirantes querem um sítio com qualidade e viam com bons olhos o regresso ao local original”.
Já Carlos Fragoso, candidato do Livre, vai mais longe nas críticas. “A edilidade diz que a feira não pode voltar ao Fórum porque o pavimento tem problemas. Mas aqui o asfalto também tem, é uma desculpa de mau pagador”, afirmou. O candidato, que esteve acompanhado por Rui Tavares numa ação de campanha no centro da cidade, garante que, se for eleito, fará tudo para devolver dignidade à feira. “Faremos todos os possíveis para que a feira volte a um espaço condigno, onde produtores e consumidores possam comerciar com conforto e dignidade.” E concluiu com uma nota pessoal. “No fundo, o que nós queremos é que as pessoas sejam felizes.”
Entre bombos, abraços e promessas, a feira semanal voltou a ser mais do que um espaço de comércio. Tornou-se símbolo daquilo que separa e aproxima os candidatos. Todos reconhecem o peso da tradição e o impacto na mobilidade da cidade. A divergência está no destino final: no sopé do Monte Picoto, no Fórum Braga, ou num novo espaço que devolva à feira o seu brilho de outros tempos.
