Nuno Melo quer que o CDS vá a votos sozinho nas europeias

A possibilidade de poder haver uma coligação com o PSD, como aconteceu nas europeias de 2014, parece estar cada vez mais distante. 

O CDS prepara-se para ir a votos sozinho nas europeias de junho de 2024, naquele que será o grande teste à sobrevivência política do presidente do partido, Nuno Melo, eleito há um ano no congresso de Guimarães. A possibilidade de poder haver uma coligação com o PSD, como aconteceu nas europeias de 2014, parece estar cada vez mais distante até porque também o PSD tem de fazer a sua uma prova de vida nas urnas. “Depois de 30 de janeiro de 2022, quando o CDS saiu do Parlamento, a minha preocupação é preparar o CDS para ir a votos por si, sem depender dos outros, independentemente de poder perspetivar outros cenários, mas a regra tem de ser esta: o partido tem de ser capaz de valer por si”, afirma ao PÚBLICO Nuno Melo, o único eurodeputado eleito (6,20%) em 2019.

Animado pela recente sondagem do ICS/ISCTE para a SIC e o Expresso que dá ao CDS 2% das intenções de voto, Nuno Melo tem andado no terreno, num claro sinal de mobilização do partido para enfrentar os combates eleitorais que se avizinham. O calendário mais próximo é o das eleições regionais da Madeira, em setembro deste ano, que são vistas como o teste de fogo ao líder partidário. “Se um partido político existe isoladamente, é porque se sente capaz em qualquer cenário, deve existir por si e não depender estritamente dos outros, mas isso não invalida que, conjunturalmente, o CDS viabilize entendimentos. 

É por isso que, em autárquicas, governamos autarquias sozinhos, governamos autarquias com independentes, como no Porto e governamos em coligação em mais de 40 autarquias com o PSD, as coisas são assim”, reforça Nuno Melo, acrescentando: “Em eleições europeias, já concorremos sozinhos e já concorremos coligados, é por isso que, em eleições legislativas, já concorremos sozinhos e coligados, já fazemos coligações pós-eleitorais. É assim que um partido de corpo inteiro se perspetiva.” O eurodeputado não revela se vai encabeçar a candidatura ao Parlamento Europeu (PE). “Antes das europeias, o CDS realizará um congresso porque o mandato termina antes das eleições e, portanto, não antecipo ciclos eleitorais”, justifica o eurodeputado. Seja como for, ao que foi possível apurar, há divergências internas sobre quem deve liderar a lista.

Não à demissão


Questionado pelo PÚBLICO sobre se o CDS deve de ir sozinho ao PE, o antigo presidente do CDS Manuel Monteiro contorna a pergunta. “A política é uma coisa dinâmica, e acredito que a direção do CDS saberá definir qual a melhor estratégia. Há que confiar que a decisão que vier a ser tomada, seja no sentido de concorrer sozinho, seja no sentido de concorrer coligado, será aquela que melhor possa servir os objetivos políticos que o partido tem.” Reconhecendo que as “eleições europeias são muito, muito, muito relevantes”, Manuel Monteiro frisa, contudo, que elas “não são o fim da linha para o atual presidente”, ou seja, Nuno Melo não se deve demitir da liderança do partido, caso o partido deixe de ter representação em Bruxelas. “Creio que, em termos de afirmação política, as próximas legislativas [em 2026] configuram um teste também muito relevante para o próprio partido. E, independentemente da importância das eleições europeias, as legislativas são, para mim, tão ou mais importantes que as europeias”, observa. Na sua perspetiva, o que está em causa nas europeias e também nas legislativas é o próprio partido e não a sua liderança. 

“Eu afastaria por completo a ideia de que um resultado, eventualmente, menos positivo numa eleição pudesse ser apontado apenas ao presidente do partido. Trata-se de um problema de todo o partido”, reafirma, deixando uma farpa: “Já lá vai o tempo em que se dizia que, se isto correr mal, muda-se o presidente e o que vier será melhor.” Pedro Melo, ex-vice-presidente do CDS, deixa também nas mãos da direção a solução, mas antes diz que “será fundamental” o CDS manter a representação no PE. “Caberá aos órgãos competentes do partido decidir se esse objetivo é mais facilmente realizável, disputando eleições, sozinho ou coligado. Há quase sempre bons argumentos para defender uma posição ou outra”, defende. Ao PÚBLICO, Pedro Melo nota que “devem ser os órgãos do partido a decidir sem pressão e sem contestação interna, que, aliás, não tem havido, ao contrário do que sucedeu num passado recente e que tanto penalizou o partido. Espero que esse objetivo seja atingido e que constitua o reforço eleitoral do CDS.” Já o presidente do Conselho Nacional diz perceber a “lógica” de o CDS disputar eleições sem ser em coligação. “Em situações normais, devia ir sozinho, devia afirmar o seu discurso de forma autónoma. Acho que o discurso que o CDS tem, quer a nível nacional, quer a nível europeu, faz sentido. 

O partido continua a ter o espaço político que é seu, não está ocupado por ninguém”, afirma. “Muito recentemente voltou-se a perceber a importância do CDS e do seu discurso com uma enorme preocupação de proteção social — os tempos que nós vivemos são de dificuldades — e o CDS é mesmo o partido que consegue ter um discurso e propostas concretas para proteger as pessoas que estão em dificuldades”, defende Luís Pedro Mota Soares. Para o antigo ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, “há muita gente em Portugal que hoje à direita e ao centro-direita não se revê no atual quadro e pode rever-se no CDS.” E repisa a ideia de que, “em condições normais, seria natural que o partido se apresentasse a votos nas eleições europeias com as suas propostas, com as suas bandeiras, com as suas cores”. “As pessoas hoje estão muito motivadas com o CDS, como há muito tempo não estavam, e isso diz muito de um partido que não deita a toalha ao chão e, para além do mais, faz muita falta à democracia em Portugal”, remata Nuno Melo.

c/Público

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