Nacional 01.08.2022 10H49
Vitória SC exige retirada de caso de racismo com Marega em livro de filosofia
Clube reagiu em comunicado. Entretanto, nas redes sociais, surgiu uma carta aberta dirigiad à Porto Editora que ja conta com centenas de partilhas.
O caso 'Marega' está novamente a dar que falar, isto porque surge num livro de Filosofia do 10º ano o que gerou uma onda de indignação no seio dos adeptos vitorianos. A situação levou o Vitória SC a publicar um comunicado, este domingo, onde exige a retirada do caso no livro dos alunos do 10º ano, editado pela Porto Editora. A contestação ganhou mais contornos e surgiu, nas redes sociais, uma Carta Aberta dirigida à Porto Editora que já conta com centenas de partilhas.
O "Ágora", livro de filosofia do 10.º ano, tem como caso de estudo o episódio que aconteceu num Vitória SC-FC Porto, em fevereiro de 2020, em que Marega abandonou o relvado por insultos racistas. Por volta dos 70 minutos, pouco depois de ter marcado o golo da vitória azul e branca, Marega, que já alinhou nos vimaranenses, pediu para ser substituído e acabou mesmo por abandonar o relvado, agastado com cânticos de natureza racista que lhe estavam a ser dirigidos por adeptos do Vitória SC com sons a imitar macacos.
No entanto, o clube acabaria absolvido das acusações. Por essa razão, a estrutura entende que os acontecimentos não podem ser retratados e trabalhados no livro dirigido a alunos do ensino secundário.
Leia o comunicado na íntegra:
"Filosofia. O dicionário classifica a filosofia como sendo a "indagação racional sobre o mundo e o homem, com o propósito de encontrar a sua explicação última; aspiração ao conhecimento das coisas pelos seus princípios imutáveis e não pelos seus fenómenos transitórios".
A principal editora nacional prepara-se para lançar um livro sobre Filosofia destinado a alunos do 10.º ano, da autoria de Susana Teles de Sousa, Isabel Pinto Ribeiro e Rui Areal, intitulado "Ágora", que chegará a inúmeras escolas do país, e cujo conteúdo, para espanto dos vitorianos e vimaranenses, contém como caso de estudo o posicionamento ético levado a cabo pelo pivot do telejornal de um canal generalista português, ao "relatar" os acontecimentos do passado dia 16 de fevereiro de 2020, em que o jogador Marega abandonou o terreno do Estádio D. Afonso Henriques.
A condenação pública foi rápida (e televisionada ao som do vento...), a assunção de culpa foi traçada, um estigma generalizado foi criado. Quem tão depressa quis julgar e moldar a opinião pública, não foi tão célere a repor a verdade sobre os factos decididos pelos tramites do sistema judicial português que, depois de colocados em marcha, resultaram no pedido de desculpas por parte de três espectadores que estavam nas bancadas do D. Afonso Henriques naquele jogo, assim como as absolvições, em todos os processos em que o Vitória Sport Clube era réu. Repetimos, para que os ventos possam levar esta verdade irredutível: o Vitória Sport Clube foi absolvido de todos as acusações referentes a este caso.
Voltando à filosofia e ao seu sentido figurado, o mesmo dicionário classifica-a, ainda, como o "conjunto de princípios que orientam o comportamento ou a conduta", e é a filosofia de vida dos nossos adeptos, das nossas gentes, dos vimaranenses, que o Vitória Sport Clube pretende realçar.
É filosofia em Guimarães tornar as crianças recém-nascidas sócias do Vitória. É filosofia em Guimarães passar-lhes os valores do vitorianismo, e o porquê do clube ter escolhido as cores preto e branco. É filosofia em Guimarães passar o bairrismo e o fervor associado ao ser-se vitoriano às gerações futuras. É filosofia em Guimarães ser-se do clube da terra. É filosofia em Guimarães termos uma massa adepta fervorosa e apaixonada, que faz do Estádio D. Afonso Henriques um dos mais icónicos do futebol português, e que é, ano após ano, o clube com mais adeptos presentes, a seguir às três equipas com maior mediatismo em Portugal. É filosofia em Guimarães seguir-se a equipa para todo o lado, e apoiar com um fervor único que inveja qualquer massa adepta adversária. É filosofia em Guimarães ser-se Vitória.
Por todas as razões, e por se sentirem visados de forma infundada, os vitorianos, os vimaranenses e o Vitória Sport Clube exigem a retirada do referido caso de estudo deste livro, que potencia a criação de um estigma injustificado sobre milhares de adeptos e sobre um clube que celebra, dentro de dois meses, o seu Centenário".
Entretanto, nas redes sociais, circula uma carta aberta dirigida à Porto Editora
"Em maio de 1852, a Rainha D. Maria II visitou Guimarães. Foi recebida no centro, perto do Toural, junto às "Portas da Villa", onde as importantes individualidades eram solenemente acolhidas. Esteve dois dias alojada no palacete do Conde de Arrochela, atual Centro Cultural Vila Flor. A simpatia fora do comum dos vimaranenses e a forma como foi recebida levou a que, pouco tempo depois, concedesse a Guimarães o título de cidade.
Orgulhosos e agradecidos, os vimaranenses quiseram retribuir o gesto e atribuíram o seu nome a uma rua de Guimarães: "Rua da Rainha D. Maria II", a mesma rua que percorreu, a pé, quando se deslocou das “Portas da Villa” à Igreja de Nossa Senhora da Oliveira, Padroeira de Guimarães. Esta é a História (real) do que sucedeu há 170 anos. Uma estória que conta uma filosofia de vida: os Vimaranenses sabem receber e são gratos.
Guimarães é uma cidade que se orgulha como ninguém do seu passado e que tem nas suas gentes a sua força motriz. Tratamos como reis (e rainhas) quem nos visita, tal como fizemos com D. Maria II. Gostamos de abrir as páginas dos livros da Porto Editora e orgulhámo-nos de ver, vezes sem conta, a imagem do Castelo de Guimarães replicada como ícone emblemático da Fundação da Nacionalidade.
Nesse dia, quando isso acontece, chegamos a casa depois da escola e mostramos essa página do livro à nossa família, como se estivéssemos a contar algo novo para eles. Também já o fizeram quando eram crianças, certamente. O orgulho de sabermos que outros alunos portugueses de outras escolas de Portugal vão ver aquela página é algo que poucos perceberão.
Percebe, agora, a nossa filosofia? Percebe por que nos enraivecemos ao ler num livro da Porto Editora uma história mal contada sobre um lamentável caso com um jogador de futebol que Guimarães abraçou (e reabilitou) quando por cá passou, em tempos, emprestado por outro clube? Um caso que o tribunal (!) absolveu e que a Porto Editora distorce, agora, de forma tendenciosa.
Estamos habituados a ler verdade nos vossos livros. Foram vocês que nos ensinaram assim. Não manchem com uma página negativa o vosso historial, que até agora tem sido imaculado. Fundada em 1944, a Porto Editora faz parte da vida de milhões de portugueses, há 78 anos. O secular Vitória Sport Clube, fundado em 1922, sob o preto e branco, é uma história de vida de milhares de vitorianos e de vimaranenses. Aproveitem as férias e contem a história como ela é, retirando de circulação um episódio que a ninguém apraz"…