Cultura 17.08.2020 14H53
"Vento Norte" promete retirar o "manto de Deus" que abafava os portugueses
Almeno Gonçalves, produtor da nova série de época da RTP, esteve à conversa com a RUM. Estreia deverá acontecer em 2021, mas o bracarense já só pensa numa segunda temporada de "Vento Norte".
"Vento Norte" é a nova aposta da RTP para 2021. A série de época, que retrata Portugal de 1918 a 1926, que está a ser filmada em Braga, promete retirar "o manto de Deus" que abafava o mal-estar dos portugueses em 10 episódios.
A produção irá começar por representar a chegada dos combatentes da I Guerra Mundial, momento marcado pelo regresso de Tomás (Sisley Dias), filho de Afonso Mello (Almeno Gonçalves).
Nos anos 20, Portugal era um país instável, exemplo disso é o facto de em apenas dezasseis anos ter contado com sete parlamentos, oito presidentes da República, 39 Governos, 40 chefes de Governo, uma junta constitucional e uma junta revolucionária. Tudo culmina a 28 de Maio com o Golpe de Estado, que saiu de Braga em direcção a Lisboa, encabeçado por Gomes da Costa.
Em exclusivo à RUM o produtor bracarense da série, Almeno Gonçalves, descreve a cidade dos arcebispos como uma cidade "atípica". "Estávamos todos cobertos pelo manto de Deus e debaixo desse manto aconteciam as coisas mais incríveis", revela.
Porquê Vento Norte?
"É um vento diferente, mais forte, áspero e mais intenso", adjectivos que ajudam a caracterizar este drama "épico".
Qual a história por detrás da série?
A narrativa tem como base factos reais com ficção à mistura. O enredo gira à volta de uma família aristocrata, os Mello, e os seus criados. É no Museu dos Biscainhos que tudo acontece. Inclusive vai ser aqui que Gomes da Costa vai conhecer Salazar, uma das personagens históricas interpretada por Elmano Sancho.
Para além de produtor, Almeno Gonçalves interpreta uma das personagens principais. Afonso Mello é um aristocrata de nascença. Fez parte do parlamento monárquico e "anseia pelo regresso da monarquia" ao país.
Tem dificuldades em participar na República, sendo que "deixa de participar, de algum modo, no Golpe de Estado de 28 de Maio, visto que é uma revolução republicana", explica.
Almeno Gonçalves revela que a sua personagem conta com dois grandes segredos que vão "alimentar a personagem", contudo, o produtor realça que nesta série não existem heróis e anti-heróis, mas sim, personagens reais e humanas. "São como todos nós. Temos momentos em que somos bons e outros em que somos menos simpáticos", refere.
Série orçada em 1, 5 milhões de euros. Apoio logístico da Câmara Municipal de Braga avaliado em 40 mil euros.
As gravações da "Vento Norte" têm lugar no Museu dos Biscainhos, Mosteiro de Tibães, Arcos de Valdevez e em Lago. Para esta semana, estão previstas gravações no exterior, mais concretamente, no Largo do Paço, na Biblioteca Pública de Braga, no Jardim de Santa Bárbara e em Monsenhor Airosa.
Ao que tudo indica, a Vento Norte pode chegar aos ecrãs dos portugueses no início do 2021. A RTP já tem acordos de transmissão para Angola, Moçambique, Estados Unidos, Canadá, França e Luxemburgo.
Almeno Gonçalves confessa que gostaria que a série tivesse uma segunda temporada, sendo que está tudo pensado para concretizar esse desejo.
"Temos conteúdo para isso. É um período da história de Portugal pouco abordado. Não tem só haver com o Minho e com Braga, mas sim com a nossa relação com o mundo e como se vivia na época. A história do cinema e o nascimento do SC Braga também vão marcar presença". A ideia passa por demonstrar a relação das pessoas com esse desporto. A título de exemplo, Afonso Mello descreve o futebol como "um desporto de brutos".