Academia 02.05.2025 19H21
Tese sobre equídeos escondidos nas rochas do Alto Minho distinguida como a melhor do país
Entre os rios Minho e Âncora, Luís Coutinho revelou dezenas de gravuras pré-históricas, muitas invisíveis a olho nu. O trabalho valeu-lhe o prémio nacional Eduardo da Cunha Serrão em Arqueologia.
Durante anos, as rochas do Alto Minho guardaram em silêncio a presença de cavalos gravados por mãos pré-históricas. Invisíveis à luz do meio-dia, revelam-se apenas nos instantes em que o sol se inclina, ou com a ajuda da tecnologia certa. Foi precisamente essa revelação que valeu a Luís Coutinho, da Universidade do Minho, o prémio Eduardo da Cunha Serrão para a melhor tese nacional de Arqueologia em 2024.
A investigação começou com 10 rochas conhecidas entre os rios Minho e Âncora. Terminou com 43, muitas delas inéditas, gravadas com equídeos que atravessam séculos de história. "São figuras que contam crenças, formas de viver e de se representar no mundo", explica o arqueólogo.
Em alguns casos, as rochas foram reutilizadas ao longo do tempo, com sinais de comunidades diferentes a deixarem marcas sucessivas. Um exemplo? Uma rocha com traços que vão do Neolítico até à Idade do Ferro, incluindo um cavaleiro com lança.
Grande parte destas gravuras não se vê a olho nu. A erosão, o musgo, o tempo, tudo as apagou lentamente. Foi a fotogrametria, um método que cria modelos tridimensionais a partir de centenas de fotografias, que revelou os cavalos escondidos. "Havia rochas em que achava que tinha encontrado um motivo, e afinal havia cinco ou seis", recorda.
A par da descoberta, fica o alerta: estas marcas são frágeis. Estão ao ar livre, expostas a incêndios, fendas e abandono. "Algumas estavam cobertas de silvas e mimosas. Se as pessoas das aldeias não as conhecerem, não as vão proteger. A memória perde-se", sublinha o investigador.
Atualmente a trabalhar a tempo inteiro na Unidade de Arqueologia da UMinho, Luís Coutinho planeia transformar a tese premiada num doutoramento e continuar a escavar histórias onde quase ninguém vê.
O programa completo pode ser ouvido em podcast.