Academia 02.06.2025 12H47
Superação pessoal é chave para adesão a apps de exercício, revela estudo da UMinho
A investigação, assinada por Pedro Sousa Basto e Priscila Ferreira, conclui que a vontade de superar objetivos anteriores é mais eficaz do que a pressão social ou a gamificação na motivação para a prática de exercício físico.
As aplicações móveis de monitorização de exercício físico podem ser poderosas aliadas na promoção de estilos de vida saudáveis, mas só se forem bem direcionadas. Esta é uma das conclusões de um estudo da Escola de Economia, Gestão e Ciência Política (EEG) da UMinho, assinado por Pedro Sousa Basto e Priscila Ferreira, que procurou perceber o que motiva os utilizadores a aderir - e manter - o uso das apps.
"O nosso limite somos nós. Se nós conseguimos chegar a uma determinada marca, no dia seguinte vamos facilmente conseguir ultrapassá-la". A frase pertence a Pedro Sousa Basto e resume a principal descoberta do estudo: o fator mais decisivo para a continuidade no uso destas aplicações é a superação pessoal e não a competição com os outros. “No fundo, é o elefante na sala. Toda a gente sabia, mas não havia nenhum estudo”, revela, em entrevista à RUM.
A investigação teve origem numa análise às estratégias de fidelização utilizadas nas apps. “Primeiro, o Pedro começou a estudar este assunto e estava mesmo focado na fidelização dos utilizadores às aplicações. A partir daí começou-se a descobrir o tal elefante na sala”, acrescenta Priscila Ferreira.
Através de entrevistas a 37 utilizadores, foram identificados três fatores centrais que influenciam a adesão. "A prática diária do esforço, da superação, as estratégias de gaming e a comparação social", enumera Pedro Sousa Basto. No entanto, algumas destas estratégias, como rankings ou desafios entre amigos, podem gerar frustração. “A pessoa acaba por se frustrar e não praticar tanto o exercício físico ou tender a mudar de aplicativo por causa dessa particularidade”, explica.
Da motivação individual à política pública
Os investigadores defendem que estas ferramentas digitais devem ser vistas como instrumentos de saúde pública e sugerem a criação de uma aplicação oficial, desenhada pelo Governo.
"Existe um Plano de Ação Nacional para a Atividade Física, mas vê-se pouco a acontecer naquele programa", afirma Priscila, sugerindo "uma aplicação desenhada pela própria DGS com condições ou critérios de saúde bem definidos."
Essa app, idealmente, poderia cruzar dados com o SNS ou adaptar recomendações a cada utilizador, integrando fatores como idade, condição clínica ou mobilidade. "Uma espécie de trabalho em rede que cruzasse esses limites. Uma das estratégias que normalmente se vê para a fidelização dos utilizadores é a gamificação. Só que isso pode ser perigoso", alerta.
"Se a pessoa ao meu lado for muito mais fit do que eu, eu não sou uma concorrente. Mas então eu não posso almejar os resultados dela, eu tenho que almejar os meus e o meu progresso", resume a investigadora.
O que vem a seguir?
A equipa está a analisar dados do Inquérito Nacional de Saúde (2014 e 2019), para perceber como as condições económicas influenciam o desporto e a saúde mental.
“Vamos associar a prática de desporto ao ciclo económico. Em 2014 estávamos a sair da grande recessão… e queremos perceber se as pessoas alteraram o seu padrão de prática de desporto desde o fim da crise até 2019”, detalha Pedro Sousa Basto.
A expectativa é que os dados revelem padrões de comportamento que ajudem a definir políticas públicas mais eficazes. "Temos mesmo de facto de começar a pensar na prevenção. Em vez de gastar tanto na cura, o Estado devia investir em motivar hábitos saudáveis", conclui Priscila Ferreira.
Com esta linha de investigação, fica reforçada a ideia: apps, tecnologia e motivação pessoal podem - e devem - andar de mãos dadas com medidas estruturais de saúde pública.
A entrevista de Pedro Sousa Basto e Priscila Ferreira ao programa UMinho I&D está disponível na íntegra em podcast.