Regional 18.10.2023 12H33
"Seria complicar tudo". Virar a Página não pretende passar a IPSS
Helena Pina Vaz, presidente da Associação Virar a Página, que nasceu como resposta à pandemia da covid-19 quer continuar o trabalho no modelo de funcionamento atual para conseguir ajudar de forma rápida.
A presidente da Associação Virar a Página, resposta alimentar de emergência em Braga, afirma que transformar a associação numa Instituição de Solidariedade Social está fora da equação, isto porque desvirtuaria e complicaria a missão da estrutura que se pretende que seja rápida, direta e prática. Apesar de integrar a rede de emergência alimentar que reúne mensalemente todas as estrutruras de apoio social em Braga, a dirigente afirma que só está "disponível para trabalhar" enquanto associação e não enquanto IPSS, já que "complicaria imenso" o trabalho realizado. "Acredito que a Segurança Social precisa de determinados filtros para gerir as IPSS e atribuir apoios públicos, mas nós, portugueses, somos demasiadamente bons a complicar esses esquemas de tal forma que depois não se pode trabalhar", critica.
Helena Pina Vaz explica que o modelo de trabalho, de confeção de refeições funciona "como nas nossas casas". "Se há uma comida que está boa, que sobrou do dia anterior, nós vamos aquecer no microondas e não vamos deitar fora. Ali fazemos a mesma coisa, os critérios são os mesmos que fazemos connosco e com a nossa família", esclarece. No entanto, enquanto IPSS, este seria um dos pontos impraticáveis, tal como a "burocracia imposta para prestar uma ajuda imediata" a alguém que bata à porta a pedir um prato de comida.
A presidente da associação Virar a Página, estrutura a funcionar na Francisco Machado Owen, em S. Victor, Braga, garante que a comunicação com os técnicos das outras organizações de Braga protocoladas com o Estado é permanente. "Tentamos estar todos articulados para fazer a gestão dos beneficiários para que não haja duplicação", detalha, acrescentando que alguns casos "são encaminhados" para essas estruturas.
"TEMOS CADA VEZ MAIS PEDIDOS DE AJUDA DE QUEM SÓ CONSEGUE VIVER NUM QUARTO SEM ACESSO À COZINHA"
Helena Pina Vaz dá conta de um cenário cada vez mais "preocupante" na cidade: por falta de condições económicas, muitos cidadãos apenas conseguem pagar o arrendamento de um quarto e são barrados do acesso a uma cozinha que lhes permita confecionar as próprias refeições. A presidente da associação Virar a Página fala em "caos preocupante e terrível" da forma de viver numa casa hoje em dia. "É uma parte de uma casa, muitas famílias vivem assim hoje em dia, nomeadamente famílias portuguesas. Não têm acesso à cozinha da casa e, portanto, não têm como cozinhar. Algumas pessoas, provisoriamente, pedem-nos ajuda porque de outra forma não têm acesso a uma refeição quente", descreve.
Ao dia de hoje, a Virar a Página entrega duas refeições completas a 183 pessoas, 44 das quais menores. Ao fim-de-semana, desde o verão passado que a estrutura fecha ao domingo por dificuldade de gestão de equipas voluntárias, ainda que as refeições para o domingo estejam todas asseguradas com entregas reforçadas no dia anterior.