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Ariana Azevedo / RUM
Ariana Azevedo

Regional 12.06.2025 17H54

Sem resposta social para o filho com autismo, pai inicia greve de fome junto à Segurança Social de Braga

Escrito por Ariana Azevedo
Sem vaga em centro especializado, Jorge Castro iniciou protesto por tempo indeterminado e alerta para realidade vivida por dezenas de famílias.
Jorge Castro, em declarações à RUM:

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Jorge Castro, pai de um jovem com autismo, entrou esta manhã em greve de fome junto ao Centro Distrital da Segurança Social de Braga. O protesto tem como objetivo denunciar a "ausência de respostas" inclusivas para o filho, que descreve como sendo “uma criança de três anos no corpo de um jovem de 20”.


A greve de fome começou às 09h00 e reuniu, no local, cerca de três dezenas de pais e cuidadores na mesma situação, empunhando cartazes com pedidos de "respeito" pelos cidadãos com deficiência. 


Pouco mais de meia hora depois do início do protesto, o enfermeiro residente em Barcelos foi convocado para uma reunião com responsáveis do Instituto da Segurança Social, acompanhado por outros pais e cuidadores do Movimento Pais em Luta, criado em 2022 para representar estas crianças e jovens com necessidades específicas. 


À saída do encontro, Jorge Castro confirmou que nada de novo lhe foi transmitido e que manterá a greve de fome por tempo indeterminado. "A título pessoal eu propus-me a fazer uma greve de fome, que vou manter. As soluções não vão aparecer, mas eu também não vou desistir. Nós, pais, também não vamos desistir", afirmou. 


Segundo o enfermeiro, permanecerá à entrada do edifício "dia e noite", enquanto lhe for "humanamente possível".


O motivo do protesto é a inexistência de uma vaga num Centro de Atividades e Capacitação para a Inclusão (CACI) que possa acolher o filho. "O meu filho não pode ficar sozinho em casa, é um jovem muito dependente, é uma criança de três anos no corpo de um jovem de 20", explicou. Apesar de já estar perto dos 21 anos, o filho, também Jorge, tem-se mantido na escola devido à compreensão dos estabelecimentos de ensino, mas essa possibilidade está a chegar ao fim. "O meu filho ainda está na escola, que tem mostrado muito boa vontade, mas isso já não vai ser possível. O que vou fazer? Na falta de respostas, o nosso filho não pode ficar sozinho em casa, é um jovem muito dependente. Ou eu ou a mãe, que é professora, teremos de deixar de trabalhar", assumiu. 


O cenário descrito é comum a muitas famílias. "A única alternativa que estes pais têm, não havendo uma resposta social, é deixarem de trabalhar para ficarem a cuidar dos filhos. É um impacto no orçamento familiar, não é remunerado. O estatuto do cuidador informal ainda não passou de uma miragem, mas compreendam que os pais também têm direito a trabalhar e estas crianças também têm direito a socializar com outras crianças. A solução de eles ficarem em casa não funciona nem para nós nem para eles", alerta Jorge Castro. 


Segundo o enfermeiro, "não há vagas" nos CACI em Braga e a lista de espera é longa, sem perspetivas de resposta a curto prazo. "Pelo menos três anos, tudo dependerá, porque há vagas sociais que entram à frente”, vaticinou Jorge Castro, reforçando que não tenciona "desistir até ter uma resposta cabal". 


PCP vai levar o tema à Assembleia da República


Durante a ação, esteve presente uma delegação do PCP, liderada por Sandra Cardoso, que anunciou a intenção do partido levar o tema à Assembleia da República e de questionar diretamente o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.


A RUM questionou o Instituto da Segurança Social sobre esta situação, mas até ao momento ainda não obteve resposta.

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