A sala foi pequena para homenagear a obra e o perfil de criador do professor Moisés de Lemos Martins. Um homem de personalidade forte, carismático e que dedicou a sua vida a uma área científica, a comunicação. Por vezes "ácido" nas críticas, destaca-se pela atenção e reflexão sobre a instituição.

“Os temas da minha vida académica – ensaiando sempre um qualquer fragmento de biografia”, foi o tema escolhido pelo próprio para a aula de jubilação que decorreu esta segunda-feira, no Auditório B1 do campus de Gualtar.

Ao longo de 32 anos, foi o primeiro diretor do curso de Doutoramento em Ciências da Comunicação, esteve na criação do mestrado em Comunicação, Arte e Cultura e o grande impulsionador do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade que por três vezes recebeu a classificação de excelente.

À RUM revela que foram várias as lutas que travou para conseguir colocar o curso e a investigação em Ciências da Comunicação no mapa. Na opinião de Moisés de Lemos Martins "ninguém poderia imaginar que um grupo de comunicação da província" se iria tornar no "melhor do país".

"Custou-me muito, foram muitos combates", recorda. Por isso, a criação do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) acaba por não ser o momento alto desta viagem na UMinho. Para o docente, o ponto alto deste percurso culmina com o Museu Virtual da Lusofonia. "É a ligação com os países de língua portuguesa. Essa é que é a coisa fabulosa. Tudo o que se fez foi sempre no sentido de nos engrandecermos todos, numa grande rede de cooperação académica", sublinha.

Foram cerca de 20 as páginas que acabaram por resumir uma vida, desde os 10 anos num seminário que acaba por espelhar o Portugal Salazarista, até ao século XXI, com inúmeras publicações e obras feitas.

Para o reitor da Universidade do Minho, Rui Vieira de Castro, o professor Moisés De Lemos Martins é uma referência na área da comunicação. "Teve um papel absolutamente fundamental na construção da área das Ciências da Comunicação, deu grandes contributos ao desenvolvimento do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, de que foi presidente, tem uma atividade de investigação reconhecida e com contributos decisivos para a consolidação da área das Ciências da Comunicação em Portugal, desenvolveu variadíssimas relações ao nível nacional e internacional que projetaram esta área, e portanto é uma figura marcante para a Universidade do Minho", declara.

Já a presidente do ICS, Paula Remoaldo, acredita que a palavra "luta" descreve na perfeição o homenageado do dia. "Tem sido muito importante para nós no ICS porque, de certo modo, foi o mentor do crescimento do nosso instituto e é também um elemento que tem conseguido afirmar as ciências sociais", reconhece.

Felisbela Lopes e Jean-Martin Rabot foram alguns dos professores e colegas que prestaram homenagem ao docente.

A cerimónia culminou com a entrega de uma salva de prata com a inscrição: "Espera que a palavra amadureça e se desprenda como um fruto ao passar o vento", de Eugénio de Andrade.