Academia 22.11.2024 12H51
Ozempic. Da culpabilização aos benefícios para o combate à obesidade
Luís Monteiro Dias, docente na Escola de Medicina da Universidade do Minho e médico especialista em Medicina Interna, aborda a utilização de fármacos com o princípio ativo semaglutido em doentes com obesidade, esta semana, no UMinho I&D.
O Ozempic é o nome mais conhecido de uma família de fármacos com o princípio ativo semaglutido que, para além de ajudar a controlar a diabetes, alcançou o estrelato, principalmente nos Estados Unidos da América, devido ao facto de ajudar a potenciar a perda de peso. Em 68 semanas, há relatos de perdas de peso corporal na ordem dos 15%.
Segundo a previsão da Federação Mundial da Obesidade, 39% dos portugueses adultos serão obesos até 2035. Na última semana, foram revelados os dados mais recentes sobre a diabetes em Portugal, cerca de 75 mil pessoas foram diagnosticadas em 2023, elevando para mais de 900 mil o total de diabéticos registados nos cuidados de saúde primários, o valor mais elevado de sempre em terras lusas.
Na edição desta semana do UMinho I&D convidamos o docente da Escola de Medicina e especialista em Medicina Interna, Luís Monteiro Dias, para falar sobre este tema que tem criado divisões na sociedade, assim como culpabilização junto de pessoas com excesso de peso.
"Todos nós já ouvimos falar de alguém que tem alguns quilos a mais, não se enquadra no critério para fazer este medicamento para tratamento de obesidade, mas vai tendo acesso e vai eliminando os stocks que estão disponíveis", o que leva a que utentes com diabetes que se encontram muitas vezes mal controlados não tenham acesso a este fármaco. Por outro lado, utentes com obesidade também acabam por ficar privados desta abordagem terapêutica. "Tem de haver mais produção (dos medicamentos), mas também uma prescrição mais responsável", refere.
No caso das pessoas com índice de massa corporal superior a 30 ou excesso de peso com outras doenças associadas, como apneia do sono, podem ser elegíveis para este tratamento caso outras metodologias tenham falhado.
O especialista alerta para o facto de a obesidade ser uma doença "crónica", que não depende apenas de fatores comportamentais ou da exposição ao meio ambiente, mas também de "fatores genéticos" que potenciam esta predisposição para a obesidade. "Aquilo que atualmente se preconiza é uma terapêutica de longa duração, sem perspetiva de retirada deste tipo de medicamentos", explica.
A rutura de stock tem levado à culpabilização de pessoas com obesidade por parte de terceiros, sendo que, de acordo com o médico Luís Monteiro Dias, já existe indicação médica para a utilização de fármacos com semaglutido para o combate ao excesso de peso. Contudo, também existem riscos principalmente em casos de tomas sem acompanhamento, por exemplo, alterações da visão, aumento do risco de pancreatite, maior propensão para um subtipo de cancro da tireoide, entre outros.
Um estudo dos Estados Unidos da América aponta para um maior risco de desenvolver uma forma rara de cegueira. Alguns efeitos secundários associados a uma toma deficiente podem passar por náuseas, vómitos e diarreia. Em situação mais graves pode mesmo originar lesões renais e, em pessoas mais idosas, desidratação.
Quanto aos benefícios, vão além do controlo da diabetes e perda de peso. Luís Monteiro Dias aponta à prevenção de doença cardiovascular, estabilização da aterosclerose na parede dos vasos e até mesmo na potenciação da função renal.
- ENTREVISTA COMPLETA AO UMINHO I&D PODE SER ESCUTADA AQUI -