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Ariana Azevedo / RUM
Ariana Azevedo

Academia 07.06.2025 19H21

"O nosso trabalho pode vir a ser importante, não amanhã, mas daqui a muitos anos"

Escrito por Ariana Azevedo
Céline Gonçalves, investigadora do ICVS, foi distinguida com a Medalha de Honra L’Oréal Portugal para Mulheres na Ciência, graças a uma abordagem inovadora para diagnóstico e monitorização do glioblastoma, o tumor cerebral mais agressivo em adultos. 
Céline Gonçalves em entrevista ao UMinho I&D:

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A investigadora Céline Gonçalves, do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS) da Escola de Medicina da UMinho, foi recentemente distinguida com a Medalha de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência, algo que, nas suas palavras, "é muito mais do que o apoio financeiro". "É o reconhecimento do nosso trabalho, uma indicação de que aquilo que estou a fazer está no caminho certo, é uma maneira também de nos dar visibilidade, às mulheres na ciência, e de nos incentivar a continuarmos neste caminho. Portanto, é um reconhecimento muito importante para nós", refere. 


Uma assinatura molecular do tumor, detetável no sangue


O trabalho de Céline Gonçalves procura soluções para um dos maiores desafios no combate ao glioblastoma: o diagnóstico tardio e a fraca resposta aos tratamentos. A proposta? Um exame simples, mas poderoso: uma análise ao sangue.


"O desafio é encontrarmos uma assinatura molecular nestas vesículas [extracelulares], que funcione como uma espécie de impressão digital do glioblastoma. Isto permitir-nos-ia reconhecer a presença, mas também o comportamento deste tumor, numa simples análise à corrente sanguínea", explica. 


Essa assinatura permitiria, de forma não invasiva, acompanhar a evolução da doença, avaliar se o tumor responde ao tratamento e até detetar recaídas precoces. O objetivo final: melhorar significativamente o prognóstico e qualidade de vida dos pacientes.


"Quando diagnosticamos o glioblastoma, o paciente já está num estado muito avançado. Os sintomas são muito comuns: dores de cabeça, náuseas, cansaço, até estados mais depressivos. Nunca imaginamos que possa ser uma coisa assim", sublinha Céline. O diagnóstico é a ressonância magnética, um exame caro e de difícil acesso. Daí, surge a importância de criar um método alternativo, rápido e eficaz, como "uma combinação de moléculas que funcione como uma impressão digital, para conseguirmos detetar o tumor no cérebro, sem termos que ir ao cérebro". 


A investigadora reforça a importância da colaboração com o Hospital de Braga, uma parceria essencial para garantir o acesso a amostras e dados reais. "O papel dos clínicos é fundamental. São eles que lidam com os pacientes no dia-a-dia. O apoio que nos dão é fenomenal, porque sem eles não conseguimos aceder a dados concretos", garante. 


Os desafios (e forças) de ser mulher na ciência


Céline é a quinta investigadora da Universidade do Minho a receber esta distinção. Para a também docente, isto diz muito sobre o ambiente da instituição, um "sinal de que a UMinho está no bom caminho. Temos muitas mulheres em posições de liderança. Mas sei que o nosso instituto [ICVS] é mesmo uma exceção à regra." Mãe de primeira viagem há poucos meses, partilhou os desafios de conciliar a maternidade com a carreira científica. "A ciência é ingrata nesse aspeto. As coisas não param, os papers continuam a sair, o financiamento que nós temos continua a ter que ser executado, continuamos com os nossos projetos em andamento e com os alunos", descreve. Desligar o 'chip' é missão impossível. "Já era antes da maternidade e nós não parámos de pensar. Não chegamos a casa e continuamos a trabalhar", assume. 


Apesar das dificuldades, há um segredo: trabalhar "com paixão. É um trabalho duro, mas pode vir a fazer a diferença. Não amanhã, porque o que fazemos hoje não se aplica no dia seguinte, mas daqui a muitos anos", vaticina a investigadora, que pretende continuar a explorar soluções que melhorem o prognóstico de doentes com glioblastoma, seja pelo diagnóstico, pela monitorização ou pelo tratamento. E acredita que esta abordagem poderá ser alargada. "Se formos capazes de fazer isto para o glioblastoma, podemos ser capazes de o fazer para outros tumores e outras doenças", conclui. 


A entrevista de Céline Gonçalves ao UMinho I&D está disponível na íntegra em podcast. 

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