Aos 22 anos, a bracarense Isabel Lobo viveu, nos últimos dias, uma experiência única, em Lviv. A cidade acolheu a 1.ª edição do Enlargement CEmp, que juntou 20 jovens portugueses a outros tantos ucranianos, para debater o futuro da Europa.

Apesar de o país estar em guerra, e a população em constante sobressalto, há vida, para lá do som das armas. “Lviv, relativamente à linha da frente ucraniana, é uma cidade muito segura e foi positivo ver que a vida consegue ser relativamente normal, os bares estão abertos, há pessoas na rua e há iluminação noturna, embora colegas de outras cidades, como Kharkiv, vivam outras realidades, porque a luz é desligada”, relata a jovem. Apesar de ser proibido estar na rua entre a meia-noite e as cinco da manhã, em alguns momentos do dia “era difícil perceber que estavam na Ucrânia”.

Uma das experiências que mais marcou Isabel foi a visita ao cemitério local. “Eles mostraram-nos uma foto do cemitério em 2022 e foi difícil ver a evolução para 2025. Acho que vai ser o momento que mais me vai marcar aqui desta viagem”, aponta. Impressionada com o facto de os colegas ucranianos “racionalizam o horror”, Isabel percebeu que todos eles perderam alguém na linha da frente ou num bombardeamento ou tinham familiares que fugiram ao som das armas. No entanto, após a experiência, deixa um conselho: “O medo faz parte de uma situação como esta de estar num país em guerra, mas se eu pudesse dar algum conselho, seria o de visitarem a Ucrânia. Lviv é uma das cidades mais seguras em solo ucraniano, no momento”. Enaltecendo o “compromisso que a cidade tem com a segurança dos turistas”, Isabel lembra que “fazer uma viagem destas é apoiar a Ucrânia e a causa ucraniana”.

Passaram 40 anos desde que Portugal assinou o Tratado de Adesão. Nos dias de hoje, outros países batem à porta da União Europeia…é o caso da Ucrânia. Este foi o tema central da 1.ª edição da iniciativa organizada pela Agência Nacional Erasmus+ Juventude/Desporto e Corpo Europeu de Solidariedade, em parceria com as autoridades ucranianas e a Câmara Municipal de Lviv, e com o apoio da Representação da Comissão Europeia em Portugal e da Embaixada da Ucrânia em Portugal.

“Cada palestra e debate foi sobre as complexidades desta questão, tanto na fase da geopolítica, na questão da transição ou da legislação necessária para haver o alargamento”, explica. Formada em Direito, Isabel diz que no Enlargement CEmp a opinião quanto à adesão da Ucrânia era consensual.

O arranque da iniciativa coincidiu com a publicação de um novo Eurobarómetro, que mostra que 52% dos europeus estão a favor da adesão da Ucrânia à União Europeia, valor que sobe para 65% em Portugal.

Os participantes, acrescenta, tinham “interesse intelectual, geopolítico ou académico pela questão” e isso tornou o debate enriquecedor. A experiência permitiu também que o grupo luso conhecesse melhor “a questão humana” do conflito, algo que nem sempre passa nas notícias que chegam através da comunicação social.

O Enlargement CEmp incluiu também momentos de reflexão sobre a preparação para futuras crises. O crescimento sustentável das cidades teve como orador outro bracarense, este bem conhecido: Ricardo Rio. O presidente da Câmara de Braga partilhou um painel com o autarca de Lviv, Andriy Sadovyi.

“Em Lviv, também houve um crescimento exponencial do número de habitantes depois da deslocação forçada da linha da frente, e Braga também é uma das cidades que está a crescer mais rapidamente em Portugal. Portanto, há uma sinergia muito interessante entre experiências tão radicalmente diferentes, mas mais parecidas do que nós pensamos”, afirma. Isabel Lobo acredita que este tenha sido o primeiro passo para que outros momentos de intercâmbio surjam entre os dois países, nomeadamente com passagem por Braga.

Maria Nilaus Tarp, diretora do gabinete executivo do Ministério dos Negócios Estrangeiros Dinamarquês, e, a Embaixadora da Ucrânia em Portugal, Maryna Mykhailenko também participaram nas atividades. 

Mesmo diante de um cenário de guerra, a vida continua… ainda que os dias sejam difíceis e a paz pareça inalcançável. Resta a esperança de um povo com o coração ferido e que apesar de um país destruído continua de braços abertos, na esperança que a porta da União Europeia se abra também.