Regional 11.04.2024 12H22
Hospital de Braga apresenta cirurgia inovadora em bebés com atresia de esófago
A atresia do esófago é uma malformação congénita rara que ocorre num em cada quatro mil nascimentos. Em poucos dias, a ULS de Braga realizou duas intervenções inovadoras que resultam de um trabalho conjunto com a Escola de Medicina da Universidade do Minho de há vários anos a esta parte.
A Unidade Local de Saúde de Braga (ULS) levou a cabo duas cirurgias inovadoras em Portugal e no Mundo em recém-nascidos com atresia do esófago, uma malformação congénita rara que ocorre num em cada quatro mil nascimentos. No espaço de cerca de duas semanas, o serviço de cirurgia pediátrica da Unidade Local de Saúde de Braga foi confrontado com dois recém-nascidos com este problema no esôfago que exige uma intervenção muito rápida, uma vez que impede o bebé de deglutir o leite. Um dos casos foi mesmo encaminhado diretamente de um hospital da grande Lisboa.
Segundo Jorge Correia Pinto, cirurgião pediátrico, e diretor do serviço, a atresia "é uma malformação em que uma parte do esófago não está devidamente formada, está interrompida. Pode estar interrompida por alguns cêntimetros ou por muitos centímetros, portanto, a intervenção tem que ser feita no segundo, terceiro dia de vida". O Hospital de Braga e a Escola de Medicina da Universidade do Minho treinaram durante anos a reparação sem destruição de tecido, formando especialistas internacionais na própria instituição. Trata-se de uma reparação "totalmente anatómica, sem destruir nenhum tecido adjacente e com auxílio de vídeo". "O curioso é que num espaço de duas semanas tivemos um bebé com a forma mais comum e outro [que veio de Lisboa] com maior gravidade porque havia quase ausência de esófago", afiançou.
Nos casos mais graves, o tratamento é mais complexo, exigindo, muitas vezes, a substituição do esófago pelo estômago ou pelo intestino grosso e deixando morbilidades para toda a vida. "Neste caso conseguimos aplicar a técnica de toracoscopia, ou seja, cirurgia minimamente invasiva e conseguimos recuperar e restituir todo o esófago desta criança, o que abre um mundo de novas oportunidades em termos de qualidade de vida porque fica com o órgão nativo que lhe estava amputado desde a nascença", clarifica o diretor do serviço de cirurgia pediátrica.
A parceria da ULS de Braga com a Escola de Medicina é "essencial" e esta cirurgia "é uma evidência para a comunidade"
O diretor de cirurgia pediátrica do ULS de Braga realça o papel essencial da Escola de Medicina da Universidade do Minho, considerando "um sucesso" a parceria e o trabalho desenvolvido, até porque a liderança da equipa de cirurgia que realizou a primeira intervenção coube a Catarina Barrosos, médica-cirurgiã da ULS de Braga, cuja formação académica foi feita na UMinho, onde treinou as referidas técnicas. Aos microfones da RUM, a especialista assinala que apesar da técnica inovadora e não frequente em Portugal e no mundo, é a técnica que conhece desde o início da formação. "Para mim o marco é ter sido eu, recém-especialista, a liderar a cirurgia", conta. No caso mais simples, a cirurgia dura "duas a três horas", enquanto o caso mais complexo "foi feito em dois tempos, o primeiro, cerca de duas horas, e o segundo tempo, três a quatro horas". A recuperação pode ir de um mês a um período mais prolongado, dependendo da gravidade.
Com esta estreia, o Hospital de Braga passa a ser considerado "um centro de referência" na cirurgia a recém-nascidos com atresia do esófago.