Internacional 15.05.2025 08H49
Gaza. Mais de 80 mortos em bombardeamentos israelitas, incluindo mulheres e crianças
Estes ataques traduzem o cumprimento da promessa de Benjamin Netanyahu de fazer o exército entrar “com força total” em Gaza nos próximos dias.
Num momento em que os líderes europeus começam a criticar abertamente Telavive e o próprio presidente francês, Emmanuel Macron, classificou a ação de Benjamin Netanyahu na Faixa de Gaza como "vergonhosa", o chefe do Governo israelita deu luz verde a novos ataques, resultando em mais de 80 mortes de acordo com a contabilidade palestiniana, havendo bebés entre as vítimas mortais dos bombardeamentos.
Os bombardeamentos sucederam-se a um breve cessar-fogo das forças de Telavive para permitir a entrega de um refém israelo-americano, esta terça-feira, após o qual o exército israelita atacou em força dois hospitais e zonas circundantes de Khan Younis, matando dezenas de pessoas.
Estes ataques traduzem o cumprimento da promessa de Benjamin Netanyahu de fazer o exército entrar “com força total” em Gaza nos próximos dias.
Como justificação para os ataques, as autoridades israelitas falam de “um centro de comando” do Hamas naquelas infraestruturas humanitárias. O alvo seria – garantem – Mohammed Sinwar, líder do movimento islamita e irmão do anterior líder, Yahya Sinwar, morto em outubro por um drone israelita.
Só desde o início desta quarta-feira, os ataques israelitas já fizeram mais de 80 mortos, segundo as autoridades palestinianas. Entre essas vítimas, 59 morreram em bombardeamentos no norte do território palestiniano, incluindo no campo de refugiados de Jabalia, segundo o porta-voz da Defesa Civil, Mohammed al-Moughayir.
De acordo com a Associated Press, pelo menos 22 crianças morreram nestes ataques.
A agência France Presse captou imagens posteriores ao bombardeamento no campo de Jabalia mostrando mulheres a chorar em volta de lençóis brancos manchados de sangue.
“É um bebé de nove meses. Que mal é que ele fez?”, grita uma das mulheres citada pela agência.
“Aqueles que não morrem por causa de um míssil morrem de fome e aqueles que não morrem de fome morrem pela falta de medicamentos”, lamenta outro palestiniano cujos familiares morreram nos bombardeamentos israelitas.
Simultaneamente aos ataques, Netanyahu fez deslocar à capital do Catar uma representação para negociar a libertação dos reféns israelitas que ainda estão na posse do Hamas.
Sabendo da presença de Donald Trump em Doha, o Hamas pediu ao presidente americano para prosseguir nos esforços para pôr termo ao conflito na Faixa de Gaza.
A organização dos Médicos Sem Fronteiras já alertou que Israel está a criar condições para “a erradicação dos palestinianos em Gaza”.
Ação "vergonhosa", denuncia Macron
Entretanto, são vários os dirigentes que vêm acusando Netanyahu de comportamento vergonhoso. Depois de se ver sob a alçada de um mandado de captura internacional emitido por um tribunal da Haia – o Tribunal Penal Internacional, que pretende julgar o primeiro-ministro israelita por crimes de guerra e contra a humanidade, o que estará a impedir Benjamin Netanyahu de viajar livremente pelo mundo – as críticas à sua ação devastadora contra populações civis na Faixa de Gaza tem crescido de dia para dia.
O presidente palestiniano, Mahmoud Abbas, acusou-o já hoje de prosseguir a guerra “por razões pessoais”, aludindo aos processos judiciais por corrupção que podem levar Netanyahu à cadeia em Israel. Mas há nomes inesperados na lista de críticos da sua ação: a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, e o presidente francês, Emmanuel Macron.
Meloni veio hoje denunciar o que considera uma situação humanitária “injustificável” nos territórios palestinianos ocupados. Na terça-feira, Emmanuel Macron qualificava de “vergonhosa” e inaceitável a ação do Executivo de Netanyahu na Faixa de Gaza.
Numa sessão no canal TF1 que se destinava a “responder às preocupações dos franceses”, Macron referiu-se ao conflito em Gaza para sublinhar que o "que o Governo de Benjamin Netanyahu está a fazer é inaceitável (…) É uma vergonha".
“Não há água, não há medicamentos, não consegue retirar os feridos”, verberou Macron, levantando a hipótese de os israelitas estarem a levar a cabo um genocídio contra os palestinianos: “Não cabe a um responsável político, a um presidente da República usar esse tipo de termo, caberá aos historiadores dizer isso no momento oportuno”.
A resposta do chefe do Governo israelita a estas críticas, foi imediata, acusando os líderes europeus de apoiarem uma “organização terrorista”.
“Macron escolheu mais uma vez ficar do lado de uma organização terrorista islâmica assassina e divulgar propaganda hedionda, acusando Israel de cometer crimes”, afirmou Netanyahu em comunicado.