Nacional 12.05.2025 17H39
Estudo revela que rapazes portugueses votam cinco vezes mais na extrema-direita do que raparigas
De acordo com o relatório do European Policy Centre, citado pelo jornal Público, por cada rapariga com menos de 25 anos que vota num partido de extrema-direita em Portugal, 4,9 jovens rapazes fazem o mesmo.
Portugal regista uma das maiores desigualdades de género da União Europeia no voto jovem à extrema-direita. De acordo com um relatório do European Policy Centre, por cada jovem portuguesa que vota num partido de extrema-direita, há 4,9 rapazes que fazem o mesmo. Os dados são do European Policy Centre, num relatório citado pelo jornal Público.
Apenas a Croácia ultrapassa Portugal: naquele país, por cada rapariga que votou na extrema-direita, seis rapazes fizeram o mesmo. Em Espanha, foram 4,6. A tendência segue-se pela Europa fora e demonstra que as raparigas estão mais progressistas e os rapazes mais conservadores.
A conclusão saiu do estudo 'From provider to precarious: How young men’s economy decline fuels the anti-feminist backlash', da autoria de Javier Carbonell. Segundo o analista, a principal razão para este fosso entre rapazes e raparigas poderá ter origem em fatores económicos. Para Carbonell, “o aumento do antifeminismo entre os jovens rapazes não é apenas uma reacção ao feminismo, mas também o resultado de uma crescente precariedade — sobretudo entre os rapazes trabalhadores que não têm curso superior”.
O autor explica ainda que o declínio “em termos de rendimentos, riqueza, emprego, poder de compra, nível de escolaridade e saúde mental” está a fazer os rapazes com menos de 25 anos sentirem-se atraídos pela “visão tradicional de masculinidade” que os movimentos de extrema-direita defendem e que "conseguiram, de forma bem sucedida, capitalizar a frustração associada à perda de um emprego estável e independência financeira, marcadores tradicionais de masculinidade”, argumenta.
Dados dos Estudos Eleitorais Europeus, citados no relatório revelam que, nas eleições europeias de 2024, 17,2% dos rapazes portugueses com menos de 25 anos votaram em partidos de extrema-direita, quase o dobro da percentagem de raparigas (9,5%).
Esta diferença é acompanhada de dados estruturais preocupantes: os jovens homens têm hoje menos acesso ao emprego, à educação superior e apresentam piores indicadores de saúde mental.
O relatório destaca que, por exemplo, na União Europeia, 48,8% das mulheres entre os 25 e os 34 anos têm formação universitária, contra apenas 37,6% dos homens. E nos países como o Reino Unido, França, Espanha e Canadá, os homens jovens já superam as mulheres fora da força de trabalho – algo inédito.
São estes os factores que têm levado os homens a ocupar, agora, “a posição mais alta e a mais baixa da escada social”. “Os jovens contemporâneos enfrentam um declínio quando comparados com as gerações anteriores”, resume. E é mais fácil culpar o feminismo do que fazer “mudanças económicas estruturais”, aponta o autor.
c/ Público