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Ariana Azevedo

Academia 14.07.2025 17H19

Ecoansiedade, juventude e ação climática. O olhar da psicologia do desenvolvimento

Escrito por Ariana Azevedo
Estudo da investigadora Teresa Raquel Pereira, do Centro de Investigação em Psicologia da UMinho, analisa a forma como os jovens vivem emocionalmente a crise climática e como podem ser mobilizados para a ação positiva.
Excerto da entrevista de Teresa Raquel Pereira ao UMinho I&D:

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Como vivem os jovens a crise climática? De que forma lidam emocionalmente com este fenómeno e que fatores podem ser mobilizados para promover o seu envolvimento positivo? Estas são algumas das perguntas centrais da investigação de Teresa Raquel Pereira, investigadora do CIPsi – Centro de Investigação em Psicologia da UMinho.


A sua tese de doutoramento parte da psicologia do desenvolvimento para estudar a relação entre juventude, emoções e ação climática. O foco: perceber como os jovens pensam, sentem e reagem face às alterações climáticas e como transformar essa preocupação em participação cívica e bem-estar.


Ecoansiedade ou ecoempatia?


Um dos conceitos abordados no estudo é o da ecoansiedade, uma resposta emocional à perceção da crise ambiental. "Ecoansiedade é um termo que foi popularizado por um filósofo ambiental chamado Glenn Albrecht, isto já em 2011. Refere-se a uma resposta emocional às alterações climáticas", explica a investigadora.


Embora o termo contenha 'ansiedade', esta reação não é patológica, mas sim compreensível face ao cenário atual. Pode envolver culpa, raiva, medo ou preocupação, e até ser encarada de forma construtiva. "Muitos investigadores defendem até que a ecoansiedade poderia ser melhor conceptualizada como sendo ecoempatia, porque reflete uma preocupação especial com o planeta", destaca.


A ecoansiedade é especialmente sentida pelos jovens, não só porque estão mais expostos aos impactos futuros da crise climática, mas também porque vivem um momento de vida marcado por transformação emocional e social.

"Estamos a falar aqui de um período de vida que está mais sujeito a mudanças cognitivas, emocionais . Estão entre as populações mais vulneráveis", sublinha a cientista.  



O que pensam os jovens no dia a dia?


No centro da investigação esteve uma amostra de 110 jovens entre os 16 e os 24 anos. Usando uma app de registo em tempo real, o estudo recolheu cerca de 4 mil observações ao longo de uma semana.

O objetivo era claro: perceber como, e com que intensidade, os jovens experienciam as alterações climáticas no quotidiano. De acordo com os dados, apenas nove revelaram que sentiam de alguma forma as alterações climáticas no seu dia-a-dia.


As manifestações surgiam sobretudo em pensamentos, como “estou a perceber-me de que não consigo distinguir as estações” ou “as temperaturas estão a subir”. Ainda assim, o envolvimento não era tão presente quanto o esperado, o que vai ao encontro, destaca a investigadora, de um estudo recente da Fundação Gulbenkian que refere que o “ADN climático” não está, afinal, em todos os jovens.


O papel da confiança e do caráter


A investigação apoiou-se num modelo de desenvolvimento positivo juvenil, com cinco dimensões principais: competência, confiança, caráter, cuidado e conexão. A combinação destas qualidades leva à contribuição ativa na sociedade. "A confiança tem a ver com o sentido de autoeficácia. O caráter com valores morais e características positivas de personalidade", refere Teresa Raquel Pereira. 


Foram precisamente estas duas dimensões, confiança e caráter, que se revelaram mais ligadas ao envolvimento climático e a comportamentos pró-ambientais.


Além de fomentar ação, é essencial validar as emoções e proteger a saúde mental dos jovens. Um caminho apontado pela investigadora é o da criação de cenários futuros. "Estudar como pode ser otimizada esta criação de cenários futuros para que no presente se possam tomar melhores decisões", afirma. 


As conclusões têm implicações diretas para políticas de juventude, educação e intervenção psicológica. Teresa Raquel Pereira defende uma abordagem mais afetiva e próxima à sustentabilidade nos currículos escolares e universitários, e salienta o papel da escuta e da inclusão: dar espaço aos jovens para "promoverem projetos, envolverem-se em associações, entre outros mas, sobretudo, para validar as suas emoções".


A mensagem final é clara: envolver os jovens não é apenas um gesto educativo, mas um imperativo ético e social.

"É muito importante dar-lhes voz e ouvi-los, porque, realmente, o futuro deles é que está em causa", finaliza a investigadora.


A entrevista de Teresa Raquel Pereira ao UMinho I&D pode ser ouvida na íntegra em podcast.

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