Regional 18.05.2023 10H35
"É provável que encontremos pessoas a viver na rua que não acharíamos possível”
Há cerca de 20 pessoas em situação de sem-abrigo, em Braga. Número estabilizou, mas o perfil tem tendência a mudar. Contexto económico pode fazer aumentar o número de pessoas a viver na rua.
São cerca de 20 as pessoas em situação de sem-abrigo na cidade de Braga. Apesar do número não ser superior ao dos últimos dois anos, o perfil das pessoas que vivem na rua tem tendência a mudar.
“Há alguns anos, cerca de cinco, teríamos um número superior. Nos últimos dois anos temos tido uma estabilização, ainda que estes números sejam um pouco enganadores, dado que as respostas de alojamento estão cada vez mais saturadas e menos adaptadas até à própria população”, revelou, em entrevista à RUM, Gil Machado, da equipa de intervenção social direta da delegação de Braga da Cruz Vermelha. Para o psicólogo, “só este trabalho de proximidade é que tem conseguido evitar que o número tenha escalado, porque as situações são cada vez mais complexas”.
Além das pessoas com fatores de risco associados, como dependência de drogas e álcool e a ausência de reta guarda familiar, contribuem para esta situação, mas, de acordo com Gil Machado, “há cada vez mais situações diversas, com pessoas de todo o país a procurar a própria cidade em busca de outras estruturas de apoio para alojamento, ou pessoas que vêm fora de Portugal com trajetórias migratórias diversificadas, que não têm um roteiro pré-estabelecido e que também procuram uma cidade que não seja tão grande como algumas metrópoles”. Além disso, acrescentou, “há cada vez mais situações de desalojamento de urgência, famílias que saem de casa e que, por falta de rendimentos ou um desemprego repentino, também se veem em situação de rua”.
“A escalada dos preços, a inflação, todo o contexto económico cada vez mais difícil, o aumento do custo de vida e a falta de habitação, impede que as pessoas consigam ter trajetórias mais estáveis de vida e que a situação de sem-abrigo seja cada vez mais comum”, frisou.
Gil Machado considera ainda que "é provável que encontremos pessoas a viver na rua que, há uns anos, não acharíamos possível”. “Braga é uma das cidades, provavelmente, que, a nível nacional, tem um contexto muito difícil, porque os custos da habitação e do arrendamento estão também muito altos”, referiu o responsável, lembrando que “muitas vezes é difícil dar uma resposta imediata às pessoas que são sinalizadas”.
“Ninguém dorme na rua” apresentado esta noite no Theatro Circo
Os sem-abrigo de Braga são protagonistas do documentário “Ninguém dorme na rua”, que será apresentado, esta noite, no Theatro Circo. Produzido pela Ambigular, com o apoio da Cruz Vermelha de Braga, o filme pretende aproximar o público deste fenómeno e dar a conhecer a histórias das pessoas que vivem nas ruas de Braga. O documentário explora, além das histórias de vida, alguns dos locais que as pessoas escolhem para pernoitar, na cidade.
“É um tema que corre nas ruas, falado pela população, muitas vezes pela negativa, ainda com muito estereótipo e preconceito associado, Por outro lado, queremos que se fale também de uma forma positiva, para que possamos contribuir, enquanto sociedade, para mudar alguma coisa no fenómeno, para ajudar as pessoas que se encontram nesta situação”, explicou Gil Machado.
“Ninguém dorme na rua” será apresentado esta quinta-feira, pelas 21h30, na sala cinema do Theatro Circo de Braga. Após a exibição do filme, segue-se um painel de discussão aberto ao público, com representantes da Delegação de Braga da Cruz Vermelha, do NPISA de Braga, do Centro Distrital de Braga do Instituto da Segurança Social e uma das realizadoras do documentário.