Nacional 16.09.2024 10H11
Comboio Celta deixa de parar na fronteira em 2025
Ligação ferroviária entre Porto e Vigo viveu mês problemático no pico do verão: passageiros foram obrigados a mudar para o autocarro em Viana do Castelo por falta de maquinista do lado espanhol, avança o Jornal de Notícias.
Os comboios vão poder atravessar a fronteira na Linha do Minho sem parar a partir do próximo ano. Entre Valença e Tui será instalado um sistema de apoio à condução (sistema ATP), para aumentar a segurança. O comboio Celta, entre Porto e Vigo, será o principal beneficiado com esta medida.
Segundo avança esta segunda-feira o Jornal de Notícias, a instalação do sistema ATP já está em marcha e ficará pronta antes do verão de 2025, decorrido o prazo de 270 dias. A Siemens foi a empresa escolhida para colocar a solução na linha e o contrato foi assinado com a Infraestruturas de Portugal (IP em 16 de agosto, segundo a informação publicada três dias depois no portal Base.
Em Portugal, o sistema ATP está associado ao Convel, mecanismo instalado no comboio e que está constantemente a verificar se o comboio segue dentro da velocidade prevista, através da leitura de balizas instaladas em mais de 1 500 dos 2 562 quilómetros da rede ferroviária nacional. Durante uma viagem, o maquinista tem de confirmar que está a cumprir a sinalização. Se tal não acontecer, o Convel tem a capacidade de frenar o comboio. O sistema Convel chegou a Portugal no início dos anos 1990.
Em Espanha, o sistema ATP é o ASFA e começou a ser instalado na década de 1970. Para circular entre Portugal e Espanha, o comboio Celta tem os dois sistemas a bordo mas atualmente tem de fazer uma paragem técnica na fronteira. A situação vai mudar a partir de 2025: será possível circular entre Valença e Tui com qualquer um dos sistemas em funcionamento. Será necessário “em Valença ou Tui comutar de um sistema para o outro” através de um botão colocado na cabine do maquinista, explica ao Dinheiro Vivo fonte oficial da IP. A solução irá proporcionar o “reforço das condições de exploração e segurança”, sinaliza a gestora da rede ferroviária nacional.
Linha eletrificada não é usada
Apesar de circular numa linha totalmente eletrificada há mais de três anos, o comboio Celta continua a ligar Porto a Vigo numa automotora a gasóleo com mais de 40 anos. A automotora da série 592 é alugada pela CP à Renfe e é conhecida como “Camela” na gíria ferroviária, por causa das caixas do ar condicionado, que fazem lembrar as bossas deste animal.
Debaixo de uma verdadeira cooperação ibérica, o Celta poderia funcionar com as locomotivas da série 252 da Renfe - que suportam os sistemas ASFA e Convel – e poderiam rebocar algumas das antigas carruagens Arco, que a CP comprou à Renfe por 1,5 milhões de euros em 2020 e que têm sido recuperadas nas oficinas de Guifões. Os passageiros poderiam beneficiar de maior conforto, poupava-se na despesa com o gasóleo, seria necessário alugar menos material circulante a Espanha e o ambiente ficaria a ganhar – ainda para mais, quando Portugal é um dos países na Europa que mais energia produz a partir de fontes renováveis.
Transporte feito por autocarro
No entanto, tem tardado oferecer um melhor serviço às regiões do Minho e da Galiza. No pico do verão, parte do Celta foi feito de autocarro entre Viana do Castelo e Vigo porque faltou o maquinista da Renfe, que assegura sempre este percurso– a troca com o maquinista português ocorre em Viana do Castelo. O autocarro de substituição foi para a estrada em dois períodos: entre 15 e 21 de julho, dos 28 serviços programados, houve problemas em metade deles; entre 20 e 26 de agosto, dos 24 comboios programados, houve seis que foram perturbados.
“Devido a várias baixas médicas de última hora nesses dias, não nos foi possível prestar o serviço de forma habitual”, assume ao Dinheiro Vivo a parceira espanhola da CP. A Renfe “lamenta os incómodos causados” aos passageiros e garante que se tratou de uma “situação pontual”. Ao trocar o comboio pelo autocarro a meio do caminho, deixa de ser possível, por exemplo, transportar bicicletas. Também fica mais difícil a entrada e saída de passageiros. O transbordo forçado também piorou o cumprimento do horário do comboio menos pontual da CP: em 2023, o Celta apenas chegou a horas – isto é, com menos de cinco minutos de atraso – em 17,7% das viagens.
Comprar bilhete online só em página em castelhano
Comprar o bilhete para este comboio é outro desafio: se for ao portal ou aplicação da CP, é enviado para a página da Renfe, com as instruções em castelhano. Em Portugal, bilhete para o Celta só mesmo ao balcão das estações que vendem ingressos. A transportadora portuguesa atira a resolução do problema para o lançamento do novo portal e aplicação móvel, que continuam sem data anunciada. O Dinheiro Vivo também ficou sem saber se a CP foi prejudicada pelos transbordos do comboio transfronteiriço e se foi previamente informada da situação.
Jornal de Notícias