Academia 09.07.2025 13H50
50 investigadores concentrados para “Encontro Ciência sombra” sobre precariedade
Investigadores pedem a regularização imediata dos vínculos precários de todos os trabalhadores com funções permanentes, a implementação “plena e justa” do novo estatuto da carreira de investigação cientifica e a substituição de todas as bolsas de investigação por contratos de trabalho.
Cerca de meia centena de investigadores estão hoje concentrados em frente à NOVA SBE, em Carcavelos, Cascais, para uma espécie de “Encontro Ciência sombra” em que querem discutir um dos maiores problemas do setor: a precariedade.
“É em encontro de ciência para a ciência, porque a ciência em Portugal faz-se com base em três premissas muito negativas há muitos anos e a primeira é uma precariedade estrutural que não para de aumentar”, explicou Tiago Dias, coordenador do Departamento do Ensino Superior e Investigação da Federação Nacional dos Professores.
Além da Fenprof, a iniciativa foi organizada por um conjunto de sindicatos e associações representativas dos investigadores científicos com o objetivo de chamar a atenção para o problema da precariedade à margem do Encontro Ciência 2025, que vai decorrer até sexta-feira na NOVA School of Business and Economics (NOVA SBE), em Carcavelos, no concelho de Cascais, distrito de Lisboa.
“Precariedade não, estabilidade sim” foi, durante a manhã, uma das palavras de ordem entoadas e a escolhida para receber a secretária de Estado da Ciência e Inovação que, à chegada parou junto dos manifestantes para receber o manifesto que, dando continuidade ao mote do Encontro “Ciência, Inovação e Sociedade” acrescenta “… Só com o fim da precariedade”.
Entre as reivindicações, os investigadores pedem a regularização imediata dos vínculos precários de todos os trabalhadores com funções permanentes, a implementação “plena e justa” do novo estatuto da carreira de investigação cientifica e a substituição de todas as bolsas de investigação por contratos de trabalho.
Em declarações à agência Lusa, a presidente da Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) recordou ainda a contratação de doutorados ao abrigo de um regime aprovado em 2016, mas com contratos a termo.
“Esses contratos não desaguaram em coisa nenhuma e, portanto, estamos prestes a assistir ao maior despedimento coletivo de investigadores na história do nosso país, porque tivemos sete mil investigador com contratos de estímulo ao emprego científico e vamos ter um programa que vai dar resposta a 1.100 posições”, alertou Sofia Lisboa, lamentando que perto de seis mil cientistas, cujos contratos estão a terminar, tenham de “encontrar outras soluções para as suas vidas”.
Quando Tiago Dias, da Fenprof, referia as “três premissas muito negativas”, nas quais diz assentar a ciência em Portugal, acrescentava à precariedade o financiamento e a gestão democrática das instituições.
A propósito da primeira, o dirigente sindical lembra a meta de 3% do PIB para investigação e desenvolvimento em 2030, um objetivo antigo, mas ainda distante.
“Não chega dizer que se vai fazer, é preciso pôr dinheiro no terreno”, defendeu.
Pelo Sindicato Nacional do Ensino Superior, outro dos promotores do protesto, o presidente, José Moreira, explicou que os principais problemas do setor não são novos: “O que nos junta aqui foi o mesmo que nos juntou no ano passado, há dois anos, há três anos e há quatro anos”.
Sublinhando que cerca de nove em cada 10 investigadores têm vínculos precários, José Moreira defendeu que “além de serem tratadas como pessoas altamente qualificadas, sejam tratadas como pessoas”.
Durante a manhã, juntaram-se ao protesto o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, e Joana Mortágua do Bloco de Esquerda.
Lusa