Internacional 05.06.2025 14H19
BCE corta taxa de juro para 2%, o nível mais baixo desde 2022
Frankfurt reduziu taxa principal de 2,25% para 2%. Oitavo corte desde o pico de 4%. Incerteza máxima ainda ameaça economia, mas inflação chegou ao ponto de equilíbrio, o que trava novas descidas.
As três taxas de juro principais do Banco Central Europeu (BCE) desceram 0,25 pontos percentuais, decidiu o conselho de governadores da instituição, esta quinta-feira, em Frankfurt. É a oitava descida desde que as taxas atingiram um máximo no final de 2023. Nessa altura, a taxa de depósito (a principal referência) chegou a um máximo de 4%. Hoje, caiu para metade: 2%.
Segundo o BCE, a taxa de juro da facilidade permanente de depósito – através da qual se define a orientação da política monetária e, ato contínuo, se reflete no valor do custo do crédito e da remuneração dos depósitos de famílias e empresas – cai assim de 2,25% para 2%, o nível mais baixo desde novembro de 2022, ano em que começou a guerra da Ucrânia e em que o custo da energia e da comida disparou, levando a uma inflação sem precedentes na história da moeda única.
Em comunicado, o BCE revela que atualmente, a inflação já se situa "em torno do objetivo de médio prazo de 2%, estabelecido pelo conselho do BCE", sinalizando assim que as descidas futuras de taxas de juro terão de ser muito mais ponderadas daqui em diante.
"No cenário de base das novas projeções elaboradas por especialistas do Eurossistema, a inflação subjacente situar-se-á, em média, em 2% em 2025, 1,6% em 2026 e 2% em 2027", diz o BCE.
"As revisões em baixa de 0,3 pontos percentuais em relação a 2025 e 2026, em comparação com as projeções de março, espelham sobretudo os pressupostos mais baixos para os preços dos produtos energéticos e um euro mais forte."
Previsões de crescimento ficam na mesma
De forma algo surpreendente, o BCE manteve inalteradas as suas previsões de crescimento económico para a Zona Euro, este ano. Diz que foi por que o primeiro trimestre saiu melhor que o esperado e, assim, acabou por compensar o embate da guerra comercial iniciada pelos Estados Unidos, de Donald Trump, no final de março.
Na nota que divulgou esta quarta-feira, o BCE refere que "o crescimento do produto interno bruto (PIB) real se situará, em média, em 0,9% em 2025, 1,1% em 2026 e 1,3% em 2027". É, basicamente, o cenário projetado em março.
"A projeção não revista quanto ao crescimento em 2025 reflete um primeiro trimestre mais forte do que o esperado", embora se esperem "perspetivas mais fracas para o resto do ano".
A incerteza em torno das políticas comerciais deve continuar a "pesar sobre o investimento empresarial e as exportações, sobretudo no curto prazo", mas em compensação, "o aumento do investimento público em defesa e infraestruturas apoiará cada vez mais o crescimento no médio prazo".
"Rendimentos reais mais elevados e um mercado de trabalho robusto permitirão às famílias gastar mais. Juntamente com as condições de financiamento mais favoráveis, isso deverá tornar a economia mais resiliente a choques globais", espera a autoridade presidida por Christine Lagarde.
Incerteza máxima leva BCE a fazer várias previsões
No entanto, o contexto económico continua a ser de "incerteza elevada" e máxima, sobretudo por causa da guerra comerciais em curso entre os Estados Unidos e dezenas de outros países e regiões, como Europa, China, Canadá, México.
Assim, isso obrigou os especialistas do Eurossistema a avaliar também "alguns dos mecanismos através dos quais diferentes políticas comerciais podem afetar o crescimento e a inflação com base em alguns cenários alternativos".
"De acordo com esta análise de cenários, uma nova intensificação das tensões comerciais nos próximos meses levaria a que o crescimento e a inflação se situassem abaixo das projeções de referência", avisa o banco central do euro.
"Em contraste, se as tensões comerciais fossem resolvidas com resultados benignos, o crescimento e, em menor grau, a inflação apresentar-se-iam acima das projeções de referência."
Seja como for, o BCE indica agora que, se nada se alterar mais daqui em diante, se a guerra comercial não aumentar em hostilidade, "a maioria das medidas da inflação subjacente sugere que a inflação estabilizará, numa base sustentada, em torno do objetivo de médio prazo de 2%". É uma vez mais o sinal de que as descidas de taxas de juro daqui para a frente podem vir a ser muito mais difíceis de justificar.
DN