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Foto: RUM
Maria Carvalho

Academia 24.02.2025 16H00

"A memória coletiva não é algo que herdamos, mas que construímos no quotidiano”

Escrito por Maria Carvalho
A docente e arquiteta Maria Manuel Oliveira recebeu o Prémio de Mérito Científico da Universidade do Minho, na passada segunda-feira.

A Universidade do Minho entregou esta segunda-feira, na cerimónia do seu 51º aniversário, o Prémio de Mérito Científico à professora Maria Manuel Oliveira. Em entrevista ao UMinho I&D, a docente conta que o prémio foi “inesperado” devido ao facto de, no campo da arquitetura, a investigação e o conhecimento desenvolver-se, “muitas vezes, em modos um pouco diferentes daquilo que é mais comum e transversal à Universidade. Nesse sentido, a surpresa foi, de facto, também grande”.


A investigação de Maria Manuel Oliveira é centrada na arquitetura moderna, nomeadamente em territórios lusófonos e na reabilitação de espaços e edifícios na construção de uma memória coletiva urbana. “A memória coletiva, contrariamente àquilo que muitas vezes pensamos, não é algo que herdamos, é algo que construímos no nosso quotidiano”, refere.


“A arquitetura tem, definitivamente, um papel essencial no desenho da cidade e na definição dos ambientes em que nos movemos. A disciplina, ao ter essa presença, assume uma responsabilidade muito grande naquilo que é a perspetiva do futuro e aquilo que poderá vir a ser o futuro das nossas cidades”, explica.


Para a docente, hoje em dia, há uma “tendência excessiva” para a “patrimonialização daquilo que nos rodeia”, e relaciona-a com um sentido de tradição “muito conservadora e impeditiva” da transformação da cidade.

“O que verificamos é que esse discurso do património, esse excesso que falo, é um discurso sempre presente e depois, quando vamos ver aquilo que acontece nas cidades, está a acontecer exatamente o oposto”, nota destacando que está a ser feito um caminho no sentido oposto ao entender de Maria Manuel.


Outro ponto referido pela professora de arquitetura, com foco na qualidade de vida, é a “destruição nas nossas cidades de tudo o que é o interior dos quarteirões e terreno livre” e, ainda, “repensar o que é o espaço dito verde nas cidades, porque continuamos a utilizar espécies e formas de cultivo que são absolutamente avessas ao que efetivamente tem a ver com essa condição ambiental”.


Depois da obra do convento de São Francisco de Real, a professora encontra-se agora a terminar um trabalho realizado em Zanzibar, na Tanzânia. “Tem a ver com uma condição patrimonial muito importante, de uma tipologia de edifícios, existentes em Stone Town, onde, por via das circunstâncias, passou-se uma coisa parecida com Portugal. Com uma revolução, a população rural veio para a cidade e ocupou esses edifícios, que eram burgueses, ocupados por famílias com poder económico”, conta.


Segundo a investigadora, esta ocupação, aliada à falta de manutenção e a um uso excessivo deles conduziu a uma degradação evidente e as pessoas não estão a viver em condições dignas. “Por causa do turismo, existe uma tendência para retirar essas famílias do centro da cidade e levá-las para as periferias e recuperar estes edifícios para o turismo”, acrescenta.


É um tema “fundamental” para a docente, uma vez que em Portugal “temos imensa coisa abandonada que precisamos de usar”. “Não precisamos de construir nada de novo, precisamos de olhar para o que temos já edificado e o que reabilitar”, vinca.


“Este trabalho que estou a fazer lá, liga-se, de alguma maneira, com a questão de como intervir em edifícios com caráter patrimonial forte, sem os fazer perder essa sua condição”.


Mas como é que funciona a investigação em arquitetura? “A investigação em arquitetura tem um campo tão lato e uma abrangência muito grande. É muito aberta e, portanto, temos áreas de investigação dentro de um campo teórico muito claro, evidente e delimitado”, comenta. A arquitetura pode trabalhar, por exemplo, com a história, a construção e a tecnologia, e “encontra os mais variados temas e campos de intervenção que percorrem interesses muito diversos e importantes para aquilo que é o seu desenvolvimento”.


Saber o futuro da arquitetura é, para Maria Manuel Oliveira, “a pergunta de milhões”. “A arquitetura do futuro vai continuar a ser, acho eu, o que a arquitetura sempre tem sido desde sempre”, refere.

“É uma disciplina generalista, o que quer dizer que pode intervir em muitas escalas, tipologias e muitos aspetos diferentes. Tem sempre um sentido interventor e procura sempre construir um futuro melhor e tem muitas responsabilidades éticas”.


A entrevista completa ao programa 'UMinho I&D' pode ser escutada em podcast aqui.

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