Em junho de 1969, a final da Taça de Portugal, no Estádio do Jamor, não teve transmissão em direto na televisão por imposição do antigo regime que nem sequer se fez representar na tribuna.

Em causa, o facto de os estudantes de Coimbra terem aproveitado a final entre a Académica de Coimbra e o Benfica para alertar o país para o que se estava a passar na cidade dos Estudantes, com a crise académica, pouco depois de 36 deles terem sido presos pela PIDE.

O momento foi recordado esta semana, na RUM, por Alberto Martins, na altura, o presidente da Associação Académica de Coimbra. Segundo o vimaranense, a academia resolveu utilizar a final "como um instrumento de dizer ao povo português o que se estava a passar na luta dos estudantes em Coimbra". Coimbra passou-se para Lisboa com estudantes, habitantes e a oposição democrática. Na altura, a lotação estaria à volta de 60 mil pessoas e os estudantes de Coimbra conseguiram distribuir com o apoio das academias de Lisboa "35 mil comunicados". "O Governo teve medo do que se ia passar no Jamor, o chefe de Estado não esteve presente, nenhum membro do governo. Pela primeira vez, a televisão também não transmitiu a final", recordou. Além da distribuição dos comunicados, no intervalo foram erguidas tarjas com mensagens que percorreram as bancadas. "Universidade para o povo", "Melhor ensino menos polícia" ou "36 estudantes presos" eram algumas das palavras que se liam nas tarjas, numa tarde de "cumplicidade, amizade e partilha entre adeptos da Académica de Coimbra e adeptos do Benfica". Na altura foram também presos quatro estudantes de Coimbra e três estudantes de Lisboa.

A académica entrou no campo para marcar o luto académico "com as capas caídas". A final de 1969 foi ganha pelo Benfica, apesar da Académica ter estado a vencer. Os jogadores trocaram de camisola e os jogadores da Académica deram a volta ao Estádio do Jamor com os jogadores do Benfica e, "muitos deles com a Taça que o Benfica tinha ganho", recorda.

OUVIR ENTREVISTA COMPLETA NO CAMPUS VERBAL