Livros e liberdade norteiam o Húmus

Entre tertúlias que trazem o 25 de Abril e a liberdade para o centro da conversa e opções pensadas para as crianças, arrancou esta terça-feira o Húmus – Festival Literário. A Biblioteca Municipal Raul Brandão, em Guimarães, é o cenário para o debate sobre a importância dos livros e do pensamento livre.
Para marcar o início do evento, que se prolonga até sábado, a RUM realizou uma emissão especial em direto no local, conduzida por António Ferreira, autor do programa ‘Livros com RUM’, assim como da rubrica ‘Leitura em Dia’, com a participação de António Amaro das Neves, César Machado e Sílvia Lemos.
“A função deste festival é, também, não deixar cair no esquecimento um escritor como Raúl Brandão”, ressalta António Amaro das Neves. O historiador lembra que o escritor de diversos contos, livros de viagens, peças de teatro, memórias e estudos históricos, que dá nome à biblioteca, é um dos exemplos dos que precisam de ganhar novos holofotes para que as gerações mais novas conheçam os profissionais que influenciaram a literatura portuguesa.
Segundo o historiador, uma amizade casual entre o político, professor e pedagogo, Santos Simões, com a “Dona” Maria Angelina, esposa do antigo escritor traz à tona o nome de Raúl Brandão na década de 1960 e todo o seu envolvimento com a cidade de Guimarães, onde decidiu “viver e ser sepultado”. “É um escritor que esteve muito esquecido e que tem uma relevância absolutamente extraordinária na cultura portuguesa do século XX”, destaca.
Convidados estabelecem paralelismo entre valores de Abril e sociedade atual
Para César Machado, as questões da liberdade ganharam “atualidade em função deste novo quadro”. “Quando se organizou este programa não se esperava que fossemos viver o contexto que estamos a viver”, afirma o advogado, músico e escritor, ao referir-se aos resultados das eleições legislativas 2024.
O livro, acrescenta, é provalvemente um dos “melhores veículos, tal como a canção, para que o pensamento não se deixe agrilhoar”. “É preciso regressar para aquela ideia de que «O meu pensamento, daqui um tempo, podem prendê-lo, mas matá-lo não»”, ressalta.
Também presente na emissão, Sílvia Lemos recorda que os mais jovens já nasceram em tempos de liberdade e com acesso livre à informação. A educadora e livreira infanto-juvenil, que faz 50 anos em 2024, assim como a Revolução dos Cravos, ressalta que parece impossível “pensar que realmente houve um tempo em que nem todas as leituras eram permitidas, que nem todos os pensamentos eram permitidos”.
Com trabalho junto de jovens com idades entre 16 e 18 anos, aponta que “muitos não leem, apesar de terem acesso ao livro”. Para reverter esse processo e valorizar esta “liberdade”, a educadora afirma que uma das soluções é levar o livros até as pessoas, como em cafés, por exemplo. “Já que não vão aos livros, os livros vão até os jovens. Assim, pessoas que não teriam contacto habitualmente ou não pegariam sequer num livro, tem esta oportunidade”, destaca.
*Escrito por Marcelo Hermsdorf e editado por Tiago Barquinha Gonçalves
