Inquérito à TAP. Neeleman acusa Governo de “obsessão pela nacionalização” 

David Neeleman acusa o Governo, nas respostas por escrito a 80 perguntas da comissão parlamentar de inquérito à TAP, de ter uma “obsessão pela nacionalização” da companhia aérea, de “inabilidade política” e “má gestão”. 

O antigo acionista privado da empresa afirma mesmo ter negociado a sua saída porque entendeu que o Executivo “queria controlo a todo custo”. Também Fernando Pinto, antigo presidente executivo da transportadora, respondeu por escrito aos deputados, afirmando que a “TAP privatizada é a TAP” em que acredita.

“Obsessão pela nacionalização, inabilidade política ou má gestão do Governo, só assim se pode compreender, por exemplo, que o ministro das Infraestruturas de então, num debate no Parlamento português, tenha dito, com grande vigor, que a TAP estava falida e que não podia recorrer aos auxílios covid, o que naturalmente foi muito prejudicial a qualquer pedido que se fizesse junto da Comissão Europeia”, devolve David Neeleman, referindo-se a Pedro Nuno Santos, nas respostas remetidas à Assembleia da República, documento citado pela agência Lusa.

Questionado sobre quando ficou a saber que o Governo pretendia pôr em marcha a nacionalização, Neeleman afirma que se tornou “mais óbvio quando não responderam em fevereiro, março e abril de 2020 às solicitações de apoio que a TAP fez através da Comissão Executiva. Depois tivemos declarações públicas de altos governantes a denegrirem a nossa gestão e a empresa e aí ficou claro que havia uma agenda que ia nesse sentido”.

O empresário brasileiro-americano argumenta ainda que “não havia alinhamento possível”, uma vez que o Estado queria “ser acionista de controlo, estar presente na gestão e esse não era o caminho” que entendia como “necessário na TAP”.“Acredito que a TAP isolada vai ter dificuldade em sobreviver”, antecipa David Neeleman nas respostas ao Parlamento, para acrescentar que, para capitalizar oportunidades futuras, “é preciso um grande conhecimento do mercado e uma gestão independente e de atuação rápida, que dificilmente existirá sob a égide do Estado”.

A TAP, sustenta David Neeleman, “precisava de continuar com uma administração experiente, independente e livre para perseguir os melhores interesses da TAP, sem uma espada política e ideológica”.

“A Atlantic Gateway não dispunha de meios económicos para aportar em tão curto espaço de tempo a liquidez e apoios de que a TAP precisava”, reconhece.


“Absoluta transparência”


Quanto ao controverso dossier da renovação da frota da companhia aérea, que passou pela anulação de um contrato tendo em vista a aquisição de 12 aviões A350, David Neeleman assegura que fez chegar ao Governo e à Parpública todas as informações.

“Não consigo imaginar como podia ter sido dada mais informação sobre o tema. Houve absoluta transparência e é chocante a negligência com que alguns membros do Governo de então referem que não tiveram conhecimento deste tema”, enfatiza.David Neeleman refere que a que a TAP necessitava de 300 milhões de euros para sobreviver e não de três mil milhões.

“Eu não fiz um mau negócio para a TAP, não prejudiquei a empresa e jamais – como já ouvi dizer e escrever – recebi luvas ou comissões pelo negócio com a Airbus. Tal suspeita é insultuosa e inaceitável”, acentua o empresário.

O empresário rejeita, de resto, que os denominados fundos Airbus tenham sido empregues para comprar ações da TAP, assegurando que ajudaram a salvar a empresa da “insolvência imediata”. As ações da transportadora, advoga, “foram pagas pela Atlantic Gateway à Parpública pelo valor acordado e que correspondeu a dez milhões de euros”.

Neeleman manifesta-se também convicto de que “os sindicatos estavam satisfeitos com a gestão privada”: “Não tivemos sequer uma greve no período da nossa gestão, a TAP cresceu, rejuvenesceu e reorganizou-se de uma forma extraordinária”.

“Perfil algo conflituoso”


Por sua vez, o antigo presidente executivo da TAP Fernando Pinto, que respondeu igualmente por escrito à comissão parlamentar, afirma que a verba de um milhão e seiscentos mil euros que recebia por ano como consultor da TAP servia para assegurar uma transição estruturada da gestão da empresa.Após abandonar a administração da empresa em 2018, Fernando Pinto continuou ligado à TAP por mais dois anos, na qualidade de consultor.

O antigo CEO explica que o contrato de prestação de serviços previa exclusividade e o obrigava à não concorrência. Afirma ter sido solicitado para aconselhar a empresa em matérias como a negociação com os sindicatos, ou a relação com o Governo.

O antigo presidente executivo da TAP revela ainda que a ex-administradora Alexandra Reis “era percecionada como tendo um perfil algo conflituoso”, embora saliente a sua competência, foco e “bom desempenho” na transportadora aérea de bandeira.

“Por um lado, entendo que, como responsável pela área das compras da empresa, foi uma pessoa extremamente focada e que teve um bom desempenho na minha época. Por outro lado, sei que era percecionada como tendo um perfil algo conflituoso”, refere.Quanto à VEM Brasil, Fernando Pinto recorda que esta matéria foi investigada pelo Ministério Público, que arquivou o processo por “inexistência de indícios criminais”.

Nas respostas a mais de uma centena de perguntas, Fernando Pinto expressa a sua discordância com a ideia que a anulação do contrato para a compra de 12 aviões A350 da Airbus tenha provocado danos à TAP.

“A Airbus tinha interesse em ficar com os A350 para outros clientes e, portanto, interessou-se em fazer a troca dos modelos e até em injetar algum dinheiro adicional na TAP atendendo não só a essa troca, mas também às novas encomendas dos restantes modelos de aviões”, aponta.

O antigo presidente da TAP garante que o processo de negociação dos aviões “foi debatido com a tutela, com a Parpública e a Secretaria de Estado do Tesour”.

“Houve um memorando jurídico da sociedade de advogados VdA que se pronunciou sobre a compatibilidade do negócio com a lei”, faz notar, acrescentando que a operação foi benéfica porque “permitiu ficar com aviões novos e mais adequados e, além disso, obteve uma injeção de capital fundamental para a sua atividade”.

Fernando Pinto deixa claro que a “TAP privatizada é a TAP” em que se revê: “Não vejo grande benefício num comprador puramente financeiro. Qualquer comprador deve ter uma noção muito forte da estratégia de tudo o que envolve uma empresa aérea. Entendo que deve ser uma empresa que não coloque em causa o Hub de Lisboa, pois é essencial para a atividade da empresa”.

RTP/Lusa

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