Braga “está a pagar caro” pelas grandes superfícies que licenciou no passado

O presidente da Associação Empresarial de Braga (AEBraga), Daniel Vilaça, admite que a estrutura “está muito preocupada” com a saída de uma loja âncora do centro da cidade [Zara] onde estava há mais de trinta anos. Fechou portas no sábado passado, numa decisão do grupo Inditex que envolveu outras cidades e que causou alguma surpresa entre a comunidade de clientes dado o sucesso da loja que, na ótica de muitos, era um atrativo para o restante comércio de rua. De momento, não há lojas âncora interessadas em instalar-se no centro da cidade e o licenciamento de grandes superfícies no passado é um dos argumentos apontados.
Em entrevista ao Campus Verbal, Daniel Vilaça aponta agora para o trabalho em curso tendo em vista a captação de novas marcas para o centro, ainda que seja um processo difícil dado o contexto. “Sem dúvida que nos preocupa muito, mas não podemos fazer nada, são estratégias internas. Esta loja estava há 31 anos no centro histórico, mas certamente que vão abrir novas lojas, vamos tentar captar novos investimentos para o centro da cidade”, sublinhA. O presidente da AEMinho assinala ainda que um centro de cidade “apetecível” significa também que quem compra deve “ter consciência de que é preciso apoiar o comércio local”.
Não há marcas de renome à procura do centro histórico de Braga
Notando que “não há marcas de renome à procura do centro histórico da cidade”, Daniel Vilaça afirma que é necessário “ordenamento comercial”, o que “não houve no passado”, acusando o poder político local de “errar” ao licenciar muitas grandes superfícies sem nenhum retorno para o comércio tradicional”. “Agora, estamos a pagar caro aquilo que deixamos abrir no passado”, diz.
“Vemos abrir alguns espaços, mas preocupa-me que não se veja a abrir lojas de roupa e sapatarias. As rendas na área pedonal estão bastante caras. Poderá haver algum trabalho da Câmara Municipal para lojas fechadas ou devolutas. Na Rua do Souto temos duas ou três lojas fechadas, porque os donos não precisam do dinheiro para nada e isso não pode acontecer. Temos de ter um comércio vivo e ativo”, alerta também Daniel Vilaça.
O presidente da Associação Empresarial de Braga vai mais longe e refere que “quem tem o poder de decisão não pode licenciar mais uma grande superfície comercial, pelo menos próxima do centro”, notando que noutras cidades europeias, “os centros comerciais estão bastante desviados do centro urbano”. “Agora temos de tentar dar a volta, reiventar o nosso comércio local e apoiá-los”, aponta.
Santa Cruz tem 150 proprietários o que dificulta o consenso sobre o que fazer com o espaço
Sobre a necessidade de revitalização dos centros comerciais de 1ª geração, o primeiro problema é o “consenso” para o que se pode fazer um espaço como centro comercial de Santa Cruz, por exemplo, uma zona privilegiada da cidade. Cada um destes centros comerciais tem 140 ou 150 proprietários. Na ótica de Daniel Vilaça, provavelmente a situação só se resolve “com a compra de todo o edifício através de um grande grupo”. O presidente da AEBraga admite, ainda assim, que a requalificação do S. Geraldo “possa ser uma alavanca” para um investimento estrutural que revitalize este centro comercial.
Falta de mão-de-obra na restauração e hotelaria é uma evidência
“Não há lojas a fechar para abrir restaurantes”
Questionado sobre o aumento de espaços de restauração no centro da cidade em detrimento de outro tipo de comércio de rua, o presidente da Associação Empresarial de Braga recusa a ideia que estejam a fechar lojas para o surgimento de restaurantes, bares ou cafés. “Nota-se que há um aumento até porque a comunidade brasileira tem alguma apetência para investir no centro da cidade em áreas como restauração e hotelaria, mas não podemos dizer que estão a fechar lojas de comércio para abrir restaurantes, cafés ou bares”, esclarece.
Daniel Vilaça admite ainda que “a falta de mão-de-obra nestes setores e na indústria é muito forte, sem a comunidade imigrante a maior parte dos restaurantes estavam com um problema muito sério em mãos”. “Devemos tratá-los bem, acolhê-los bem porque são muito bem-vindos e muito importantes”, confidencia.
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Nesta mesma entrevista à RUM, Daniel Vilaça anunciou a criação de um novo tribunal arbitral. Projeto de constituição está em curso com a colaboração da Escola de Direito da Universidade do Minho.
