António Leitão da Silva assume PSP de Braga. “Não há comandantes excecionais sem boas tropas”

O superintendente António Manuel Leitão da Silva é o novo Comandante Distrital de Braga da Polícia de Segurança Pública (PSP). O despacho de nomeação, em comissão de serviço por três anos, foi publicado recentemente, oficializando a chegada do oficial de 55 anos, natural do Porto, que liderou a Polícia Municipal daquela cidade nos últimos anos.
No encontro com os jornalistas, realizado esta manhã, Leitão da Silva fez-se acompanhar pela sua equipa de direção, o intendente Sérgio Soares (2.º comandante) e o subintendente Rui Pereira (chefe de operações), sublinhando que a sua gestão será de continuidade e coesão. “Não há excecionais sem boas tropas”, afirmou, ao elogiar o trabalho dos profissionais que encontrou no distrito.
Um dos pontos de destaque da apresentação foi o próprio local onde a PSP opera. O Comando Distrital está sediado no Palácio dos Falcões, um edifício histórico de meados do século XVIII (c. 1750). António Leitão da Silva, um apreciador de arte, confessou a surpresa inicial: “Quando entrei e vi um gabinete do século XVIII, não era propriamente o que estaria à espera”. O comandante reconhece a beleza do espaço, mas admite que trabalhar num imóvel com quase 300 anos traz desafios logísticos diários. “É um espaço belíssimo, mas exigente”, notou, comparando a manutenção das infraestruturas a um “puzzle” que se vai montando.
Para além da sede, o foco nas infraestruturas estende-se ao resto do distrito. Estão previstas obras na Divisão de Guimarães e a finalização da nova esquadra de Famalicão, em articulação com a autarquia, apontada para o início do próximo ano.
“Os polícias não têm um ‘S’ no peito”
A gestão de recursos humanos é o grande desafio do novo comando, que conta com menos de 600 agentes para cobrir uma região com uma densidade desportiva única: quatro equipas na I Liga de Futebol (SC Braga, Vitória SC, Gil Vicente FC e FC Famalicão). Embora o distrito conte ainda com uma quinta equipa no escalão principal, o Moreirense FC, a segurança dos seus jogos encontra-se na área de competência da GNR. Ainda assim, a pressão sobre o efetivo da PSP é constante. Perante este cenário, o novo comandante assume que “gostaria de ter mais efetivos”, mas o foco imediato está em cuidar dos que já vestem a farda. Leitão da Silva colocou a saúde mental no topo das prioridades.
“Os polícias não são super-homens, não vêm quitados, não têm capa azul nem uma t-shirt com um ‘S’ no peito”, ilustrou. O responsável lembrou o “turbilhão de emoções” de um turno policial, onde se pode passar de uma ação pedagógica numa escola para um cenário de violência doméstica ou morte, sublinhando que “cada polícia é também pai, mãe, filho, com os mesmos problemas que todas as outras pessoas”.
Do Darfur ao Canto Gregoriano
O perfil do novo comandante distingue-se pelo ecletismo. No currículo, traz a experiência “pesada” de missões internacionais em cenários de conflito como o Darfur (Sudão), Timor-Leste, Kosovo e Guatemala. Leitão da Silva recordou o tempo que viveu em El Fasher (Darfur), onde viu atrocidades que lhe mudaram a perceção sobre o valor da vida humana, garantindo que “as notícias são apenas a ponta do icebergue”.
O superintendente é mestre em Psicologia do Comportamento Desviante, doutorado em Psicologia pela Universidade do Porto e docente universitário. António Leitão da Silva ainda cultiva um lado artístico: leitor ávido e melómano, com um filho violoncelista, o comandante no Conservatório Nacional e mantém uma paixão antiga pelo Canto Gregoriano, que aprofundou durante sete anos. Para o novo responsável da PSP de Braga, estas “outras áreas de interesse” são essenciais para manter o equilíbrio e encarar a profissão com a humanidade necessária.
