UMinho. Estudo alerta para impacto ambiental com mais gastos na Defesa

O aumento dos orçamentos militares proposto pela NATO pode ter fortes impactos na conservação da natureza e da biodiversidade na União Europeia. O alerto é dado pelo investigador Ronaldo Sousa, do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) da Escola de Ciências da Universidade do Minho (ECUM), que surge no contexto da reunião da aliança militar, que se realizou em junho nos Países Baixos, onde se aprovou o investimento de até 5% do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados-membros da aliança militar em Defesa.
Tendo em conta que os “orçamentos são finitos”, e o compromisso da aliança com a defesa é significativo, o docente acredita que o desvio de fundos para este fim terá consequências no investimento dos países noutras áreas, sendo que “logicamente, a biodiversidade e a conservação poderão ser um desses lados”.
Ronaldo Sousa considera que a segurança nacional é “uma prioridade legítima” em tempos de instabilidade, contudo este investimento pode ter “consequências diretas e profundas para vários setores, como a educação e a saúde” para além do ambiente.
Uma aposta desta dimensão na Defesa tem consequências múltiplas e estendem-se além da perda do investimento. De acordo com o investigador, os exercícios militares e o próprio transporte do material têm implicações nos habitats e no comportamento de determinadas espécies de animais, uma vez que “estes exercícios, muitas das vezes, são feitos em grande escala e em terrenos usando uma parte do território muito grande, tanto em terra e, muitas das vezes, em mar”.
“Muitos destes treinos militares, envolvem ruído e luzes intensas que podem alterar o comportamento dos animais. Além disso, quando há grande quantidade de material, que é transportado de um lado para o outro, há a possibilidade de serem transportadas espécies não nativas de um lado para o outro”, acrescenta.
O impacto mais óbvio, “e que muitas pessoas se esquecem” é o consumo de energia fóssil e os gases com efeito estufa que estas operações militares libertam.
Soluções passam por tecnologias verdes e energia renováveis
Para mitigar estes problemas, o investigador destaca a necessidade de integrar práticas ecológicas nas políticas de defesa, “através de tecnologias mais verdes, energia renovável e soluções de biossegurança”.
“Num cenário em que há movimentação de espécies, se fossem feitas quarentenas poderiam-se mitigar, um pouco, estes problemas, mas a maior parte das vezes isto não é considerado”, diz.
Ronaldo Sousa acredita que este investimento é “uma mudança histórica nas prioridades europeias”, que está a ser feita à custa do património natural do continente, construído ao longo de décadas de políticas ambientais pioneiras. “As guerras têm um princípio e devem ter um fim, mas a perda de biodiversidade é para sempre”, remata.
Estas conclusões fazem parte de um estudo agora publicado na revista ‘Ecological Solutions and Evidence’, realizado em coautoria com Joana Nogueira, da Universidade do Porto, Stefano Mammola, da Universidade de Helsínquia, Finlândia, e Phillip Haubrock, da Universidade de Bournemouth, Reino Unido.
