Victor Louro recorda detenções do pai e participação no assalto à Escola Técnica da PIDE

Victor Louro cresceu em Braga num ambiente familiar de combate ao fascismo. O seu pai, Victor de Sá, foi preso “oito vezes”. Na primeira delas, Victor Louro tinha três anos e era o mais velho de três irmãos. “Não apenas o momento da prisão, mas os momentos das visitas à prisão da PIDE, no Porto, são momentos que nos marcam”, começa por explicar. Quando o pai era detido “fazia questão de recomendar” à família que “fizesse a vida normal e não dar parte fraca”, avisando também que era preso mas que não tinha cometido nenhum crime. “Ao domingo, a minha mãe connosco ia tomar o café ao Nosso Café para mostrar que não andávamos fugidos. Essa mensagem era importante, não dar parte fraca ao inimigo”, conta.
Numa das buscas a sua casa, após mais um detenção de Victor de Sá, Victor Louro tinha 14 anos e estava no escritório com a PIDE quando “deitaram a mão à tese de licenciatura do pai”. “Disse-lhe simplesmente que não era um livro proibido, que era a tese de licenciatura do meu pai, e o chefe da brigada não esteve com meias coisas, deitou a mão ao coldre onde tinha a pistola, e com a mão na pistola, disse ponha-se já daqui para fora, se não… uma ameaça a um miúdo de catorze anos, dentro da própria casa, por dizer uma coisa daquelas”, lembra com tom crítico. Momentos que o marcaram a diferentes níveis, trazendo ainda mais consciência a tudo o que se passava no país.
Mais adiante recorda a sua intervenção enquanto estudante no Liceu Sá de Miranda. “Alinhei com muitos outros estudantes na reconstituição da Academia de Braga, o que foi quase uma agressão para o reitor, Feliciano Ramos”, nota. Ele e restantes colegas recusaram-lhe um pedido aquando da visita do presidente da república, Américo Tomás, e assim “não teve capas para pisar”.
Foi ativista do movimento associativo dos Liceus, dirigente associativo universitário numa época muito importante antes da revolução. “Aí a minha intervenção foi permanente e saiu-me cara. Na Crise Académica, o próprio reitor da Universidade de Lisboa teve um comportamento nojento, a comandar a ação da polícia e ele próprio interrogou cada um de nós. Foi das coisas que mais negativamente me marcaram. Isso acarretou um processo disciplinar que resultou na suspensão das aulas por trinta dias e estive preso uma noite. Estes trinta dias andaram atrás de mim até à queda do fascismo”. A acusação era um parágrafo: ‘Barbudo e com sorriso irónico’. “Esta brincadeira deu que, de cada vez que concorri para a função pública não era contratado”, lembra.
“No assalto à Escola Técnica da PIDE tive de fazer aquilo que vi tantas vezes fazer contra os que lutavam pela Liberdade”
No dia 25 de Abril de 1974 estava um ofício no cofre do comando da Força de Fuzileiros a dizer que Victor Louro não dava garantias de colaborar na realização dos fins superiores do Estado. Foi no mesmíssimo dia em que se deu a Revolução. Nessa manhã, o bracarense atravessou o Terreiro do Paço, a caminho da Força de Fuzileiros onde havia muita confusão. Na altura, apesar de ser o menos graduado presente, organizou a participação da força de fuzileiros. “No assalto à Escola Técnica da PIDE tive uma participação muito ativa”, assinala, não escondendo que foi mais um momento “bonito” e “com sabor especial”. “Tive de fazer aquilo que vi tantas vezes fazer contra os cidadãos que lutavam pela liberdade, que foi prender pessoas e pensar exatamente em quantos que ficaram pelo caminho por lutarem por aquele momento”, atira.
Ainda assim, confessa que o momento mais marcante foi ainda durante a manhã do 25 de Abril de 1974, quando um camarada o desmotivava a participar na revolução por se tratar de um movimento de Spínola. “Disse-lhe: tem paciência, seja lá com quem for, agora vamos deitar o fascismo abaixo e depois logo se vê”, recorda, sublinhando que essa decisão “demonstra a compreensão do que é que é importante em cada momento”.
