“Vamos ver como corre”. Livreiros aguardam festival Utopia com expetativa e dúvidas

Os livreiros e alfarrabistas colocam reservas sobre a criação do Utopia, o novo festival literário de Braga, marcado para novembro, que já mereceu alguns reparos por parte da oposição. A RUM contactou os responsáveis dos estabelecimentos bracarenses que participaram na última edição da agora extinta Feira do Livro.
O mais crítico é o proprietário da Angels Formula. Fernando Pais Moreira considera que essa transformação, nomeadamente o facto de “a vertente comercial não ser privilegiada”, é “uma triste ideia” e “um tiro nos pés”. No seu entender, “os principais prejudicados são as pessoas de Braga e os outros visitantes”. “É anular a Feira de Livro para fazer um festival em que vão aparecer, se aparecerem, meia dúzia de escritores que já toda a gente conhece”, atira, esperando mais esclarecimentos por parte da organização para saber se vai participar no evento.
Já a Livraria Centésima Página deverá estar representada no Utopia. Helena Veloso levanta “ainda muitas dúvidas” sobre o modo como a nova iniciativa, “completamente diferente da Feira do Livro”, vai acontecer, com os livreiros a passarem a assumir “um papel secundário”. No entanto, vê como “uma vantagem” o facto de o festival literário poder ter “ramificações pela cidade”, com a hipótese de as livrarias acolherem, por exemplo, sessões com autores.
Os habituais stands, anteriormente concentrados no centro da cidade, serão convertidos em pequenos locais expositivos no Espaço Vita. Tendo em conta a filosofia do festival, frisa que o tipo de livros à venda estará limitado “aos autores que fazem parte da programação” e não relacionado com os catálogos acordados com as editoras, como acontecia até então.
O responsável da Livraria Minho diz que é cedo para avançar com uma opinião definitiva. António Correia argumenta que a realização de iniciativas nas próprias livrarias pode ajudar a colmatar a ausência dos stands tradicionais, admitindo a hipótese de fazer “uma feirinha no interior” do espaço bracarense. “A vertente económica não é a prioridade deles [organização], mas para nós tem de ser (…) Ainda é o primeiro ano. Vamos ver como corre”, assinala.
Por parte da Livraria ler.com.gosto, Conceição Norberto mostra-se expectante para perceber qual será o impacto ao nível da “faturação”, tratando-se de “uma iniciativa nova”. Contudo, no seu entender, Braga tinha condições para “organizar os dois eventos”, até atendendo “às diferentes alturas do ano” em que ocorreriam.
Já a dona da Livraria Ponte dos Falcões não se opõe à criação do Utopia, mas vê com desagrado o fim da Feira do Livro e “o esquecimento da parte comercial dos livreiros”. “Nós precisávamos de um apoio anual por parte da câmara e isso acontecia com a Feira do Livro. Agora as vendas não serão as mesmas. Isto vai resumir-se a quatro dias, ou seja, dois fins de semana”, lamenta, remetendo uma decisão sobre a adesão ao evento para mais tarde, quando exisiterem “novos dados”.
