UMinho: Um espaço sem rótulos e de tolerância

Um hindu, uma cristã e um islâmico. Em comum, à primeira vista, têm apenas o local onde trabalham ou estudam, a Universidade do Minho. No âmbito do Dia Mundial da Rádio, este ano com o tema “Rádio e Paz”, desafiamos dois investigadores da UMinho e uma estudante de mestrado a conversarem sobre as suas diferenças culturais e religiosas. Fatores que, muitas vezes, estão na base dos conflitos armados.

Porque não podem as mulheres receber o sacerdócio na religião cristã, o que faz o homem/mulher ser intolerante e qual o papel da mulher nas diferentes religiões. Estes são alguns dos temas abordados com: Lisiane Mazzurana (Brasil), Bassem Kheireddine (Libano) e Rupesh Kumar Singh (India).

“Todas religiões promovem os valores humanos”, Bassem Kheireddine.


Bassem Kheireddine, natural do Líbano, está há quase 10 anos, em Portugal. Na UMinho, trabalha como project/financial manager do MIRRI – Infraestrutura de Investigação em Recursos Microbianos. Durante este período garante que sempre foi bem recebido, tendo apenas constatado algum desconhecimento em relação aos países árabes. “Muitos consideram que o Líbano é um deserto”, refere.

Bassem faz parte de uma minoria religiosa, Drusa. Ao contrário de outras divisões do islão, acreditam na reencarnação.

No Líbano existem 18 divisões religiosas, uma caraterística que, segundo Bassem, ajuda a promover a coexistência entre diferentes culturas e religiões. Questionado sobre o estereótipo que relaciona grupos radicais ao islão, Bassem diz-se tranquilo, pois “existem pessoas más de várias religiões”. “Todas as religiões têm regras de paz e promovem valores humanos”, frisa acrescentando que muita da responsabilidade destas associações deve-se à propagando política.

Aos microfones da RUM, partilhou uma experiência que demonstra a tolerância e curiosidade em relação a outras religiões. “No meu primeiro ano em Portugal, uma família de Vizela convidou-me para passar o Natal. Gostei de estar presente nesse dia tão especial para eles”, revela.

“Nunca acreditei no sistema de castas”, Rupesh Kumar Singh.


Natural do norte da Índia, perto do monte Himalaia, Rupesh Kumar Singh escolheu há nove anos rumar a Portugal para fazer um pós-doutoramento. Os valores da família, tolerância, respeito e clima fizeram-no ficar por terras lusas onde compôs família.

O agora investigador do CBMA – Centro de Biologia Molecular e Ambiental – diz-se um praticante da filosofia hindu e não da religião propriamente dita, pois considera que valores como igualdade e respeito pela natureza não são cumpridos. Um dos exemplos é o sistema de castas, visto que estes rígidos grupos hierárquicos são baseados no trabalho e religião. “O que Deus diz é que todos somos iguais, por isso não acredito no sistema de castas. Não tem haver com a religião, mas sim com os representantes”, afirma.

Outro ponto sublinhado é a questão do respeito pela natureza, contudo, a Índia aparece como o terceiro país mais poluidor do mundo.

À semelhança da minoria Drusa, representada por Bassem, os hindus também acreditam na reencarnação que, neste caso, pode envolver animais e a própria natureza.

“Não me sinto menos por não poder receber o sacerdócio”, Lisiane Mazzurana.

Lisiane Mazzurana, cristã e natural do Brasil, está a frequentar o mestrado em Educação no ramo da Mediação Educacional no Instituto de Educação da UMinho. “Único lugar onde encontrei o curso que queria fazer”, revela.

Neste momento, está a desenvolver no âmbito do estágio uma investigação com catequistas da freguesia de S. Vítor. A ideia passa por disponibilizar ferramentas que possam auxiliar os mais novos na aprendizagem da fé cristã. Uma abordagem considerada inovadora.

O contacto com diferentes religiões e povos é algo novo no seu dia-a-dia, visto que do outro lado do Atlântico, o foco era sobretudo na diversidade cultural dentro de portas. Quanto ao cristianismo, destaca a diferente abordagem às celebrações litúrgicas.

“No Brasil, temos missas mais alegres, aqui, é mais o rito tradicional, mais contido”, destaca. 

Questionada sobre a impossibilidade de mulheres receberem o sacerdócio, Lisiane revela que não gosta dessa ideia, visto que essa não foi a escolha de Jesus. “Não acho que seja algo discriminatório. Não me sinto inferior, pois desenvolvemos outros papeis igualmente importantes”, defende. 

Qual o papel das mulheres nas diferentes religiões?


No hinduísmo, mais uma vez, Rupesh faz uma distinção entre o que está escrito e as práticas no dia-a-dia. “A mulher, de acordo com a filosofia hindu é superior, mas na realidade o que vemos é que é tratada como um ser inferior”, explica.

No caso do islão, mais concretamente a Drusa, apela à “igualdade”. “A sociedade está a evoluir, as mulheres podem trabalhar, por exemplo, a minha esposa é professora em Portugal”, revela.

No cristianismo, apesar de as mulheres não poderem receber o sacerdócio, estas são figuras de grande relevância, visto que são elas que passam a palavra de Deus durante a catequese ou desempenham diversas funções em ações de voluntariado.

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Vanessa Batista
Vanessa Batista

Jornalista na RUM

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