ECREA. Académicos de todo o mundo debatem literacia em saúde na UMinho

A maior parte da população portuguesa tem “níveis inadequados de literacia em saúde”. Estas são conclusões de um dos últimos estudos disponíveis sobre a temática, publicado há dez anos. Quando comparados com outros países da Europa, estes dados “são considerados problemáticos”, revela Rita Araújo, docente do Instituto de Ciências Socias da Universidade do Minho (ICS) e chair da European Conference on Health Communication (ECHC) que terminou esta sexta-feira, no Campus de Gualtar.
Ainda que não haja um estudo nacional que, “efetivamente, tenha medido a literacia em saúde”, uma vez que todos aqueles que foram publicados reportam dados “autopercecionados”, ou seja aquilo que as pessoas percebem ou julgam sobre si mesmas, os baixos níveis de literacia em saúde da população portuguesa são “preocupantes”.
Segundo a docente, ainda que haja uma relação estreita entre os baixos níveis de literacia em saúde e os baixos níveis de literacia geral, a questão torna-se “mais séria” quando relacionada com a saúde, uma vez que maiores níveis de literacia, neste caso, “permite-nos tomar decisões informadas” sobre a nossa saúde e à saúde pública.
“Literacia em saúde é aquilo que nós fazemos no dia a dia, quando decidimos marcar uma consulta médica, quando decidimos fazer um rastreio, quando tomamos decisões relativamente à medicação que tomamos”, acrescenta.
De acordo com Hernâni Oliveira, biólogo especialista em comunicação em saúde, menores níveis de literacia em saúde “estão associados, normalmente, a mais doenças, a uma fraca utilização do Serviço Nacional de Saúde, à fraca adesão a respostas terapêuticas e ao aumento dos gastos na saúde”, por isso, estudar a literacia em saúde é “fazer justiça social”.
A atenção para estas temáticas aumentou durante a pandemia. Ainda assim, de acordo com os especialista, “os desafios continuam os mesmos, principalmente, nas populações mais vulneráveis”.
Na opinião do especialista, a melhoria dos níveis de literacia em saúde dos portugueses “passa por uma escolha política e por uma visão que olhe para a comunicação como um pilar dos bons cuidados de saúde”. É imperativo que “haja um investimento na educação e nos cuidados de saúde” e que o trabalho se faça num “circuito de proximidade” onde os projeto saem do papel e são “efetivamente aplicados”.
Primeira conferência do género num país do sul da Europa
Esta é a “primeira vez que uma conferência de comunicação em saúde da ECREA se realiza num país do sul da Europa”, diz Rita Araújo. Para a docente, este é “um marco”, não só para a UMinho, como para a área da comunicação em saúde ao nível nacional, uma vez que o evento “atrai muitos académicos de Portugal e Espanha para uma área dominada pelos países da Europa Central”.
Com mais de 100 académicos “de todo o mundo presentes”, este ano, a European Conference on Health Communication tratou temas como a inteligência artificial na comunicação em saúde, a questão da literacia associada às vacinas, a importância dos contextos na comunicação em saúde e o acesso dos migrantes à saúde e à comunicação em saúde.
