UMinho atribui Honoris Causa a Ramos-Horta num “dia histórico” para os dois Estados

“Um dia histórico” para homenagear alguém que recorreu à força das palavras, em vez da das armas, na luta pela paz. José Ramos-Horta, Presidente da República de Timor-Leste, é o mais recente Doutor Honoris Causa da Universidade do Minho.
A ligação do Nobel da Paz à academia minhota começou em 2007, ano em que escolheu esta instituição para se doutorar na área da Ciência Política e das Relações Internacionais, uma missão que a intensa vida política o impediu de concluir.
No ano em que o curso de Relações Internacionais da UMinho assinala cinco décadas desde a sua criação, a Escola de Economia, Gestão e Ciência Política (EEG) acresce à sua comunidade o nome de José Ramos-Horta, Doutor Honoris Causa em Ciência Política e Relações Internacionais.
O Presidente timorense agradeceu à UMinho a distinção e o facto de acolher “debaixo do seu teto educador dezenas de timorenses líderes de hoje e do futuro”.
“É uma grande universidade, generosa, hospitaleira. Esta universidade é muito especial para os timorenses. Talvez por ser Braga, uma terra tão bonita”, afirmou Ramos-Horta.
O Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, fala de “um dia histórico para a Universidade, que há muito tempo trabalha com Timor-Leste, ajuda Timor-Leste”. Para o Chefe de Estado, Ramos-Horta é “do mais brilhante, ilustre e representativo”. Marcelo Rebelo de Sousa lembrou “a colaboração em todos os domínios, virada para o futuro, com um povo muito jovem, cheio de futuro”. “Tudo isto é simbolizado por este doutoramento de honoris causa, que é fundamental para as relações entre dois povos, duas pátrias, dois Estados”, finalizou.
Ramos-Horta “incorpora muitos dos valores que a Universidade do Minho assume como seus”
Para o reitor da UMinho, Rui Vieira de Castro, sobressai em Ramos-Horta “a preocupação essencial com a dignidade da pessoa humana, com a autodeterminação dos povos, com a liberdade e o cuidado com os outros”. “A Universidade atribuí esta distinção, porque também se reconhece nesses mesmos valores”, justificou. Rui Vieira de Castro denota “o momento importante e significativo” que permite “reconhecer alguém que, na sua prática, incorpora muitos dos valores que a Universidade do Minho assume como seus”.
Para o presidente da EEG, Luís Aguiar-Conraria, “Ramos-Horta tem uma vida verdadeiramente extraordinária”. “É o rosto e a voz de um povo que estava em luta. Ter alguém que fez da diplomacia uma arma tão eficaz e tão duradoura, que nunca desistiu, a ficar ligado à nossa escola, porque ele passa a ser professor da nossa escola, no ano em que celebramos os 50 anos do curso de Relações Internacionais, é a cereja em cima do bolo”, denotou.
Isabel Estrada Carvalhais, docente da EEG e responsável pelo elogio ao candidato, reconhece que Ramos-Horta “encarna muito o espírito da instituição, que são os valores humanistas, uma ética humanista de resiliência pacífica, de resistência, de uma luta intransigente pela diplomacia”.
O objetivo da UMinho, reconhece, é “formar licenciados em relações internacionais, mas, acima de tudo, bons cidadãos, que encarem também este espírito de resiliência, de relevância que é dado à palavra, ao diálogo, na construção da paz.
A a palavra vale muito mais do que as balas que matam, mas nada constroem
O salão medieval da reitoria da Universidade do Minho encheu para assistir ao momento de atribuição do Doutoramento Honoris Causa.
Este foi o 23.º Doutoramento Honoris Causa atribuído pela Universidade do Minho, depois de Hans Flasche (1979), Cornelio Sommaruga, Eurico Dias Nogueira, Émile Noel, Eurico Teixeira de Melo (todos em 1990), José Veiga Simão (1994), Joaquim Pinto Machado, Francisco Carvalho Guerra, José Luís Encarnação (todos em 2002), Joaquim Chissano (2005), Joseph Gonnella, Marcel de Botton, Michel Maffesoli (todos em 2011), Nuno Portas (2012), Ramón Villares (2015), Gene Grossman (2016), Álvaro Laborinho Lúcio, Frei Bento Domingues (ambos em 2019), Angel Carracedo (2020), Dava Newman, José Ramos (ambos em 2023) e Alain Aspect (2024).
José Ramos-Horta nasceu em 1949, em Díli. Exilado durante a ocupação indonésia, foi durante décadas o principal porta-voz da causa timorense na ONU. Recebeu o prémio Nobel da Paz em 1996, pela defesa dos direitos humanos e de uma solução pacífica para o conflito iniciado com a invasão de Timor pela Indonésia. Após a restauração da independência do país em 2002, Ramos-Horta foi Ministro dos Negócios Estrangeiros, Primeiro-Ministro e Presidente da República (2007-12, 2022-). É amplamente reconhecido por ser um defensor do diálogo entre os povos, pela sua habilidade diplomática e pelo compromisso que colocou no fortalecimento da cooperação internacional.
