“Um ano que vale por muitos outros comparado com aquilo que é o trajeto habitual de um autarca”

“Os meios ficaram sempre aquém das necessidades”. Esta é uma das reflexões do autarca de Famalicão, Paulo Cunha, depois de um ano de combate à pandemia da covid-19 naquele concelho. Admitindo que foi um ano “difícil e desafiante”, em que as autarquias colocaram de parte as prioridades habituais, os autarcas em Portugal “estiveram à altura dos desafios” num tempo “muito exigente e penoso”, defende. “Um ano que vale por muitos outros comparado com aquilo que é o trajeto habitual de um autarca”, afirma.
O presidente do município de Famalicão manifesta-se esperançado num desconfinamento definitivo e assinala que em Famalião há agora menos hospitalizados, menos infetados e menos mortes. Nesta altura, Famalicão regista dez a vinte e cinco infetados por dia, contrariando as semanas em que o concelho contabilizava mais de duzentos casos diários.
O setor do comércio e serviços é o que mais sofre e a autarquia está a investir para ajudar os pequenos comércios a ultrapassar as dificuldades. “Vivem enormes dificuldades. Já a indústria tem estado a trabalhar com normalidade, apesar da pandemia também ter afetado o setor”, diz.
“É um contador diário. São vários milhões de euros e não há teto orçamental”
Paulo Cunha sustenta que “tudo o que é preciso fazer está a ser feito” pela câmara municipal. Em contabilidade permamente, o autarca explica que “não há teto orçamental para o que for preciso fazer”. Só no projeto “Retomar Famalicão”, uma medida para um ano, a estimativa é de investimento direto de 2ME. “A isto somam-se apoios à renda, bolsas de estudo, um novo tarifário de água, saneamento e resíduos”, além dos apoios às IPSS, associações, ou o investimento de quase meio milhão de euros no Hospital de Famalicão. “Estamos a capacitar o território para que seja resiliente”, justifica.
O desemprego formal, mas sobretudo o informal é preocupante. “O emprego informal desapareceu e não aparece nas estatísticas, mas as pessoas perderam rendimentos e isso traz pobreza”, sublinha o autarca famalicense que garante que a autarquia apoia o que for necessário.
Também em Famalicão, a quebra de rendimentos para fazer face às despesas é um problema “gravíssimo” que está a fazer aumentar o número de pedidos de apoios sociais. O autarca destaca o papel das associações e instituições que estão “à altura dos desafios” e a responder às necessidades sociais com o apoio e acompanhamento da autarquia.
“Este Governo não aprendeu e falhou”
Paulo Cunha considera que o Governo “não aprendeu” com a pandemia porque depois da surpresa da primeira fase, em que não podia fazer diferente, não esteve bem. “Não se pode censurar o governo pela primeira frente de combate à pandemia, mas o governo não aprendeu. Quando surgiu a segunda e a terceira vaga, repetiu os erros”, analisa.
No que respeita à gestão do SNS, o autarca de Famalicão fala em “impreparação imperdoável” porque o sistema “não estava preparado para a fase entre novembro e fevereiro”.
“Não houve uma articulação antecipada para que os infetados fossem bem tratados. Falhou. E depois falhou na educação. As crianças foram para casa e era previsível. As escolas voltaram a fechar e voltamos a ter crianças em casa sem meios informáticos. Isto está como estava há seis ou sete meses atrás e é absolutamente imperdoável”, critica.
Numa mensagem aos famalicenses, o autarca estima que o desconfinamento alargado seja “irreversível”, considerando que agora o país “está a chegar ao fundo do túnel”. Notando que este regresso “deve ser cauteloso”, apela à população que não entre em euforia porque a normalidade deve ser retomada “de forma sóbria e cuidada”. Quanto ao regresso das atividades culturais, recreativas e desportivas e que são “essenciais” vão acontecer de forma faseada e controlada.
OUVIR CAMPUS VERBAL – “Um ano de pandemia. Os desafios dos municípios do quadrilátero”. Com Ricardo Rio, Adelina Paula Pinto, Paulo Cunha e Miguel Costa Gomes
