‘Tudo em Avignon e eu aqui’ revela ao público os fantasmas do teatro

Dedicado ao tema da memória, e à boleia dos 20 anos do Centro Cultural Vila Flor (CCVF), o palco do Grande Auditório Francisca Abreu, em Guimarães, recebe este fim de semana a estreia do espetáculo “Tudo em Avignon e eu aqui”. Uma produção do ‘Teatro Oficina’ com encenação e dramaturgia de Bruno dos Reis, a peça revolve em torno da “máquina de fantasmas” que é o teatro e a inalcançável “ideia do que é a imaginação”.
Num diálogo constante entre a teoria e a ficção, o espetáculo inspira-se num momento da vida da atriz vimaranense Rebeca Cunha que, entre um ensaio em Guimarães e um trabalho no Porto, se acidenta e vê alterado, “em forma de quase maldição”, o rumo da sua sorte.
Apoiada nesta “vida que fica sempre por realizar”, Rebeca é a única personagem viva no meio das “fantasmagorias do real”, neste caso imaginadas na figura de Chalino Sánchez, o malogrado ‘rey del corrido’ do México, assassinado em 1992 após receber um misterioso bilhete em palco.
Numa narrativa que põe em causa tanto a força da promessa como a de um futuro que teimamos em querer encenar, o espetáculo pretende responder, entre outras questões, à inquietação: “somos capazes de imaginar, de facto, ou já está tudo imaginado por nós”?
Nas palavras de Bruno dos Reis, o espetáculo é menos sobre Avignon em concreto e mais sobre “um lugar que imaginamos como uma referência da imaginação e que acaba por ser um sítio ideal que muitos atores podem apenas ver de longe”.
Espetáculo faz parte de trilogia que deverá ficar completa em 2026
Ainda que impulsionado por aquilo que “são as pegadas de Rebeca”, Brunos dos Reis acredita que o espetáculo “será capaz de dizer muito de cada um dos intérpretes que existem nele”, uma vez que “só depois de o casting estar feito, é que o espetáculo foi construído”. Por isso, por ter sido escrito “à medida que os ensaios iam avançando” e porque foram tomadas decisões “antes de ter certezas”, para o encenador, o processo foi “vertiginoso”.
“Está a ser um desafio muito grande, no sentido em que é tudo muito mais simples quando nós nos sentamos em torno de um texto que está pronto e imaginamos a partir dele. Por característica do projeto, foram algumas noites que não parecem sequer uma por inteiro”, admite.
A produção encerra o ciclo programático ‘nova vida para velhos fantasmas’, reafirmando a missão do Teatro Oficina de criar espetáculos que nasçam de Guimarães e do seu território humano e afetivo. Contudo, para 2026, Bruno dos Reis já conta com mais dois espetáculos que completam “pelo menos um arco que não se finaliza por inteiro” neste espetáculo e que dá origem à trilogia.
Segundo o encenador, em coprodução com o Teatro Municipal Constantino Neri, estreia o espetáculo de “tipologia muito pouco convencional” ‘Não é Serpente, é Snake’ que se passa “literalmente, dentro de dois automóveis” e o público é convidado a fazer a viagem com os atores. Já o terceiro e último espetáculo chega no fim do ano e passasse num ambiente de festa que alude ao título ‘Não é uma rave, é apenas longe’.
Com interpretação de Ana Carolina Fonseca, Daniel Seabra, Duarte Melo, Jacinto Cunha, João Cravo Cardoso, Iúri dos Santos, Martinha Carvalho e Rebeca Cunha, ‘Tudo em Avignon e eu aqui’ é o primeiro espetáculo de Bruno dos Reis enquanto diretor artístico do ‘Teatro Oficina’.
A estreia está marcada para o sábado, 13, às 21h30, e domingo, 14 de dezembro, às 18h00, no Grande Auditório Francisca Abreu do CCVF, em Guimarães.
