Torre da Alfândega poderá ter horário alargado no verão e museu terá realidade aumentada

Mandada construir no século XIV, em pleno reinado de D. Dinis, a Torre da Alfândega, em Guimarães, é a única, das seis que foram erguidas, que persiste no tempo. Envergando a célebre frase “Aqui nasceu Portugal”, este é um ponto de paragem, no centro histórico, para todos os que visitam a cidade berço. Em 2022, teve início o processo de recuperação deste monumento nacional, que integrava a muralha que outrora defendia a cidade.


Ricardo Erasun, arqueólogo que acompanhou as escavações, explicou que não se sabia o que existia por trás da fachada. “Fizemos um trabalho de picagem de rebocos e de revestimentos existentes e, nesse processo, começamos a descobrir o que havia de torre e de muralha, tendo sido um trabalho demorado”, disse.

No que agora é a cave, na altura em que foram colocadas as “sapatas da estrutura metálica, apareceram vestígios medievais que nos indicam que, de facto, a torre foi construída no século XIV e foram encontradas as valas de fundação da muralha”. “Percebemos que dentro da vala de fundação havia grandes esteios em pedra, colocados para fortalecer, caso alguém quisesse minar a torre por baixo”, acrescentou.

A torre, que chegou a ser um café nos anos 60, é, agora, um monumento que permite perceber “quais eram os elementos de defesa projetados” em séculos passados. “Conforme subimos os andares, vamos vendo como as seteiras estão devidamente colocadas, seteiras que já sabíamos que existiam, porque aparecem em uma planta de 1569”, revelou ainda Ricardo Erasun. No processo de requalificação, foram descobertas “três seteiras da parede oeste e duas seteiras da parede oeste”. “Infelizmente, não encontramos as seteiras que estariam na parede sul, que é a fachada principal, porque a Torre da Alfândega começou a ser demolida em 1812, sendo que a Câmara autorizou a demolição não só desta torre, como das demais torres e da muralha, para vender a pedra a particulares”, informou o arqueólogo. A Torre da Alfândega escapou à demolição, porque alguém “considerou que a pedra não era de boa qualidade e não compraram mais pedra”.

“Esta é uma requalificação tão bem conseguida, eu diria que é das obras que parece recolher unanimidade”

Com um elevador, que permite acesso à torre a pessoas com mobilidade reduzida, ou através de escadas, chegamos ao topo, onde a vista sobre a cidade é de 360 graus. As portas deste monumento nacional fecham-se às 18h00, mas o presidente da Câmara Municipal, Domingos Bragança, prevê estabelecer um horário de verão e outro de inverno. “A Oficina, com a Câmara Municipal, ainda está a definir os horários, mas eu penso que tudo indica que teremos um horário de verão e outro de inverno”, disse o autarca.

Para Domingos Bragança, o simbolismo associado a este espaço “condiz com a História de Portugal, com a fundação de Portugal. ‘Aqui nasceu Portugal’, aqui na cidade de berço, em Guimarães”.

A requalificação da torre era um dos compromissos que o presidente pretendia cumprir antes de terminar o seu último mandato à frente dos destinos do município. “Esta é uma requalificação tão bem conseguida, eu diria que é das obras que parece recolher toda a unanimidade”, referiu ainda.

Domingos Bragança desvendou ainda que a unidade museológica que vai nascer naquele local vai “dar a conhecer a cidade tal como era nos seculos XV e XVI, com a muralha completa e as seis torres, através da realidade aumentada, numa visita virtual”. “Guimarães é a cidade mais preservada, ao nível do património, não é por acaso que é Património da Humanidade”, finalizou.

Vimaranenses satisfeitos com a requalificação do monumento

Desde que abriu portas, no sábado, o entra e sai de turistas e vimaranenses é constante, ainda que o elevador não esteja, para já, em funcionamento, devido aos processos burocráticos.

Fernando Reis é natural de Guimarães visitou, esta terça-feira, pela primeira vez, a Torre. “Era um património inutilizado e com a requalificação e abertura permite aos turistas e vimaranenses usufruírem. Estou maravilhado, vê-se a cidade toda e surpreendeu-me pela positiva”, disse à RUM.

O entra e sai de turistas ingleses e Espanhóis também se faz notar, entre selfies e vídeos a visita à Torre faz parte do roteiro pela cidade, mas são os vimaranenses que não resistem a subir ao topo.

Artur Cerqueira, acompanhado pela esposa, Joaquina Ribeiro, estavam a fazer a habitual caminhada, quando decidiram entrar. “Não percebo de obras, mas isto está bem feito. Era pena não ter esta vista. Gostei, não digo que seja uma Torre dos Clérigos, mas se se cobrar um euro já ajuda a valorizar a cidade e a pagar as obras”, afirmou.

Carla Fernandes aproveitou a folga para ter um programa com a amiga Alexandra Gonçalves. A fotografia marca o registo das duas mulheres naturais da cidade berço. “Aqui é que se nota o que temos em Guimarães. Nunca imaginei ver a paisagem que estou a ver, somos uma cidade muito bonita”, apontou Carla. Já a amiga, Alexandra, diz conhecer “a muralha desde que nasceu”, mas também ela nunca pensou poder, um dia, subir ao topo para “ver as paisagens”. O espaço museológico que ali vai nascer, diz, “é mais uma atração para os turistas”. O museu onde vai constar parte da história da cidade ainda não tem data prevista para abrir, mas Domingos Bragança garantiu à Universitária que a Câmara está a fazer de tudo para que seja “o mais rápido possível”.

Quase dois anos depois do início das obras, que custaram cerca de 1,5 ME, comparticipados pelo Norte 2020, a Torre da Alfandega é por estes dias um dos lugares mais concorridos da cidade de Guimarães.  

O monumento pode ser visitado entre as 10h00 e as 18h00, por enquanto, gratuitamente. 

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Liliana Oliveira
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