“Sou candidato porque quero dar uma hipótese diferente aos portugueses”

Aos 64 anos e depois de uma carreira na Marinha, o Almirante Henrique Gouveia e Melo apresenta-se como candidato a Presidente da República com o selo de total independência face aos restantes candidatos, todos com ligações partidárias.
Acredito que posso ser um verdadeiro moderador da vida política em Portugal
Em entrevista à RUM no âmbito de uma visita de pré-campanha ao distrito de Braga na última semana, Gouveia e Melo confidenciou que decidiu avançar com uma candidatura por considerar que “o país vai viver momentos de instabilidade, quer fruto de uma conjuntura internacional instável e perigosa, que afetará necessariamente a nossa segurança, mas também a nossa economia”, mas também porque na sua ótica, “internamente, o país está um bocado cansado da partidarice”. Por isso quer quebrar com o ciclo de presidentes eleitos por partidos.
“Aqui é eleito um indivíduo pela sua personalidade, pela sua experiência e pela sua capacidade, o que for, mas não porque é do partido A ou do partido B. E, de facto, até agora, a maior parte das eleições presidenciais elegem candidatos partidários. Eu quis dar uma hipótese diferente aos portugueses. Sou o único candidato que não tem uma cor partidária, portanto, eu, um bocado na brincadeira, tenho dito que isto não são eleições para a presidência, são umas segundas legislativas, porque todos os partidos têm um candidato”, respondeu.
Declarando-se com um cidadão “distante dos interesses partidários”, Henrique Gouveia e Melo explica que estaria em melhores condições para falar, não fazendo parte de nenhum desses interesses”. Afirma que esta separação permitirá sempre “uma posição muito mais equilibrada”.
“Partidos querem meter um seguro no edifício presidencial”. “Marcelo Rebelo de Sousa exagerou ao querer afirmar-se como muito querido dos portugueses”,
Henrique Gouveia e Melo, que já está pelo país a conhecer as diferentes sensibilidades e preocupações de cidadãos, instituições e empresas, considera que os partidos “vêem a presidência como a necessidade e meterem um seguro, entre aspas, dentro do edifício presidência”. Acrescenta que um presidente “deve ser isento, um árbitro do sistema e deve ter o máximo de liberdade possível para decidir e não estar dependente dos favores partidários de onde saiu”. E essa é uma das razões para lamentar também que neste contexto não surjam mais personalidades sem amarras partidárias.
A democracia, para sobreviver, tem que se credibilizar junto à população. E eu acho que nos últimos anos fomos perdendo alguma credibilidade
Quer ser um presidente que promova a união no país, mas que não exagere na proximidade como diz que viu Marcelo fazer, sobretudo neste segundo mandato. Nesta entrevista, acabou por falar de Cavaco Silva ao declarar que “era um presidente um bocado hermético, isolado”. Depois surgiu Marcelo Rebelo de Sousa que veio “retirar a tensão da sociedade portuguesa que vinha de um momento “muito crispado da Troika”. Aí, afirma que Marcelo “fez uma coisa muito positiva: retirou essa tensão da sociedade”, mas no segundo mandato já “exagerou”, ao querer afirmar-se como “muito querido dos portugueses”.
Como Presidente, Henrique Gouveia e Melo pretende “resgatar o papel da democracia” com a classe política a recuperar “credibilidade junto da população”, afastando-se de “lutas intestinais partidárias e fraturantes da sociedade” que diz que foram responsáveis por abrir espaço para “soluções populistas, imediatistas, que bem espremidas “não são solução nenhuma, apenas fazem ruído”.
E comparou os políticos populistas a homens com máquinas pneumáticas: “É o indivíduo que está com uma máquina pneumática a partir pedra, mas depois não consegue construir um único muro, mas é muito bom a partir pedra com a máquina pneumática. Isso para mim é ruído”, exemplificou.
Agora, o candidato presidencial, que é apologista de soluções novas que promovam a liberdade e a prosperidade, quer “Portugal com ambição, que não se vai deixar ficar na última carruagem da Europa, ou deixar-se cair para ser a última carruagem da Europa” porque em conjunto já mostrou que tem capacidade para mais.
Ligeiramente crítico a candidatos que se afirmam como candidatos que representam os jovens, Gouveia e Melo destaca o papel que é devido à juventude e a a forma como o país deve trabalhar com o objetivo de interromper políticas “erradas de muitos anos” que promoveram a precariedade e não a valorização salarial.
Afirma que um Presidente da República não tem uma função executiva, mas “tem que forçar o governo, através da magistratura da influência, “à percepção que tem que fazer reformas estruturais e que tem que fazer reformas que garantam uma economia de maior valor acrescentado. Só assim é que vamos conseguir remunerar devidamente os nossos jovens e fazer com que eles fiquem cá em vez de irem para o estrangeiro”.
“Uma economia de baixo valor acrescentado e de baixos salários foi um erro que nós fizemos até agora. Nós temos que mudar o modelo de economia, temos que introduzir conhecimento, tecnologia e fazer uma economia muito mais produtiva, porque só uma economia muito mais produtiva permite salários superiores e salários que diferenciem a qualidade e a preparação dos nossos jovens”, argumenta. Além disso, é defensor de uma verdadeira política pública de habitação, saúde e segurança.
Preocupo-me porque vejo na nossa sociedade sintomas de utilitarismo que são perigosos em termos do que é uma sociedade evoluída e uma sociedade humanizada
“A função utilitária não nos pode matar”. “Eutanásia sim, mas em casos muito, muito extremos”.
No périplo por Braga visitou universidades, mas também instituições de solidariedade social e escutou as preocupações das entidades, nomeadamente com a população idosa e vulnerável. Nesta dimensão, alerta para o risco de uma sociedade que olha para o indivíduo com uma função utilitária.
“A pessoa tem uma dignidade própria, que deve ser respeitada até o fim da vida, e hoje em dia fala-se muito em sucesso, em ser empreendedor, tudo isso é importante, mas não podemos esquecer que o projeto de todos nós é ter uma vida longa, e para termos uma vida longa um dia vamos envelhecer. E se formos pessoas menos capazes, que é natural, com a idade, a função utilitária não nos pode matar. A sociedade tem que se preocupar com a dignidade humana das nossas vidas até o fim”, responde.
Sem uma visão fechada sobre a eutanásia, o candidato à presidência da República declara-se como “defensor da vida humana até ao limite do razoável”.
Admite, por isso, “determinadas situações limite em que a eutanásia pode ser uma solução porque essa pessoa está num sofrimento atroz, está numa tortura viva”. Aí, aponta que a dificuldade é “definir a fronteira” (20:22) Qual é esse limite? (20:24) Esse é que é a grande dificuldade, como é que nós conseguimos definir essa fronteira? (20:28) Eu tenho dificuldade em definir essa fronteira. “Portanto, a eutanásia, sim, mas tem que ser em casos muito, muito extremos”, acentua.
Não teria dúvidas em nomear um primeiro-ministro como André Ventura?
Sublinhando que é preciso respeitar o princípio da democracia, Henrique Gouveia e Melo admite que se o partido Chega tivesse uma maioria no Parlamento, na qualidade de presidente, “teria todo o cuidado em garantir que esse partido não mudava as regras da democracia”. Mencionou algumas as frases que classifica como “absurdas” do líder daquele partido relacionadas com a eventual declaração de “ordem de prisão” ou ordem de “expulsão” para argumentar que hoje em dia surge “uma certa mistura de ideias que podem soar interessantes a um público que não está a refletir verdadeiramente sobre as propostas, mas que são ideias muito perigosas m termos do que é liberdade e o que é democracia”. Assumindo-se “100% contra esse tipo de declarações e esse tipo de atitudes”, caso seja eleito Presidente, Henrique Gouveia e Melo assegura que será “muito vigilante na separação dos poderes”. “Nunca deixaria que algum político começasse a fazer esse tipo de atitudes, porque isso seria suficiente para uma dissolução da Assembleia da República e voltar a perguntar à população ´afinal o que é que os senhores querem, querem cair numa ditadura mesmo? ´, conclui.
“Acredito que posso ser um verdadeiro moderador da vida política em Portugal”
Declarando-se com um cidadão “distante dos interesses partidários”, Henrique Gouveia e Melo explica que estaria em melhores condições para falar, não fazendo parte de nenhum desses interesses”. Afirma que esta separação permitirá sempre “uma posição muito mais equilibrada”.
Gouveia e Melo destaca experiência de liderança por consenso na Marinha que pode ajudar no próximo passo que pretende dar
A dias de iniciar os debates com outros candidatos nestas presidenciais, Henrique Gouveia e Melo será também avaliado pela sua postura na discussão política de diferentes matérias, confrontando-se com políticos de carreira, algo que não o parece preocupar. Afasta a ideia de que a carreira militar exiga que se apresente como um indivíduo rígido ou autoritário, afirmando até que se trata de “uma visão completamente irrealista”.
“Nós, para comandar navios e comandar homens, temos que dialogar muito, temos que negociar muita coisa, porque ninguém empurra ninguém, é mais uma liderança por consenso e uma liderança consentida do que uma liderança imposta. Essa ideia autoritária do que são os militares, é uma ideia completamente desfasada no tempo, isso não existe”, esclarece.
Afirma que votar é “um exercício de cidadania”, mas também uma “garantia de liberdade”, aconselha o eleitorado a “decidir sobre o seu futuro” escolhendo a proposta que mais lhe agrada”.
