Seca. Daqui a 40 anos, Minho pode assemelhar-se ao Alentejo

Nos últimos 20 anos, a disponibilidade de água em Portugal reduziu cerca de 20%. Este ano, é já considerado um dos piores em termos de seca. Em setembro, o país continuou a registar classes de seca moderada e severa, de acordo com o IPMA, sendo que o distrito de Braga está entre os que atravessa uma situação de seca moderada.
Todos os cenários climáticos indicam que deverá ocorrer uma diminuição da precipitação entre os 3 e os 7%, sendo que o principal problema será a marcada diferença entre os níveis de precipitação registados, ou seja, os invernos chuvosos e os verões secos.
As piores previsões apontam para que , nos próximos 30 a 40 anos, o Minho venha a assemelhar-se ao Alentejo. Já a região mais a sul poderá assimilar-se a Marrocos.
Nos últimos meses, algumas associações, como a +Tejo, têm defendido “autoestradas de água” entre o Norte e o Sul de Portugal. Questionada em entrevista ao UMinho I&D sobre esta possibilidade, Cláudia Carvalho Santos, investigadora do CBMA – Centro de Biologia Molecular e Ambiental da Escola de Ciências da Universidade do Minho, defende que esta “não seria uma boa solução”. Além dos custos avultados para a construção da infraestrutura, a investigadora recorda que a grande reserva estratégica de água do país está no Sul, o Alqueva, e além do mais, estes canais estão a céu aberto, logo “existem perdas de água” durante o transvase.
“Os nossos reservatórios (no Norte) foram construídos, na sua maioria, com o objetivo de produzir energia hidroelétrica. O Cávado penso que será responsável pelo abastecimento de mais de 1 milhão de pessoas”, afirma.
Para a académica, a solução passa pela adaptação das regiões e, sobretudo, da agricultura.
“Cerca de 70% da água é utilizada para regadio. Apenas 10% é usada para abastecimento público. A agricultura deve adaptar as suas culturas ao terreno e o tempo de colocação das culturas na terra”, defende.
Tendo em atenção que os agricultores devem adaptar as suas culturas, questionamos a investigadora sobre a crescente produção de abacate no sul. Ora, na sua ótica, uma vez que a maioria das empresas que apostam neste fruto estão comprometidas com uma “agricultura sustentável” e já utilizam instrumentos “altamente informativos no solo para perceber, por exemplo, a sua humidade”, não existe um risco acrescido. Cláudia Santos frisa que o abacate já tem um valor económico e socioeconómico importante na região.
Florestas podem contribuir para o aumento da qualidade da água.
As florestas podem contribuir para o aumento da qualidade da água. Esta é a premissa que deu origem ao projeto “Trees4Water- Soluções baseadas em florestas para a melhoria da qualidade da água”, que a partir de janeiro, pretende avaliar os custos e benefícios desta ideia. O estudo conta com o financiamento da FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia.
O trabalho é coordenado pela investigadora do CBMA – Centro de Biologia Molecular e Ambiental, Cláudia Carvalho Santos, em parceria com a Universidade de Kiel, na Alemanha, responsável pela parte económica e a Águas do Norte.
Neste projeto, a equipa de investigadores pretende analisar dois cenários. O primeiro passa por perceber se o aumento da floresta influencia a diminuição de poluentes como o nitrato, fósforo e erosão do solo, sem esquecer a conservação da biodiversidade. Em segundo lugar, os investigadores querem identificar locais em que existe, de facto, um problema com a qualidade da água, por exemplo, em sítios com captação de água e avaliar se será favorável ou não a criação de uma floresta para reduzir os custos do tratamento dos recursos hídricos.
Cláudia Carvalho Santos deu o exemplo de um projeto que foi levado a cabo na Dinamarca, em que este género de práticas teve resultados positivos. Neste momento, a equipa irá apenas avaliar o custo e benefício, ou seja, não está prevista, numa primeira fase do projeto, a criação de florestas.
