“Se a rádio se quer manter relevante, tem que contar histórias”

A rádio tem que continuar a ser palavra e a contar histórias. A ideia é defendida por Pedro Portela, professor universitário, e partilhada por António Durães e Alexandre Praça, antigos diretores de programação e informação da Universitária.
Este ano, o Dia Mundial da Rádio, instituído pela UNESCO em 2011, é dedicado ao passado, presente e futuro de um meio de comunicação com uma morte anunciada que nunca chegou a acontecer.
Pedro Portela, autor do programa “O Domínio dos Deuses, que integrou a primeira grelha de programação da RUM, diz que “sempre que a rádio se esqueceu que era palavra, perdeu relevância”.
“Se o podcast estourou e é muito consumido, nomeadamente o podcast de palavra, a rádio tem que, por um lado, estar presente também, tem que jogar este jogo, e por outro, perceber que a distinção é a palavra”, defendeu.
O docente de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho defende ainda que “se a rádio se quer manter relevante, tem que contar histórias”, sejam “histórias reais”, contadas pela informação ou através de, por exemplo, radionovelas, como aconteceu nos “primeiros tempos da RUM”.
Pedro Portela diz ainda que “uma estação de rádio musical pode fazer muito para competir com o Spotify”, uma vez que estas plataformas têm “um algoritmo que fecha os ouvintes no seu pequeno gosto” e na rádio existe “um curador, que vai abrir o horizonte de quem escuta a música, vai obrigá-lo a escutar coisas que o algoritmo de Spotify nunca na vida lhe vai revelar”. “A rádio musical tem que ter esse serviço de abrir horizonte, mas também tem que ter a palavra. Aquilo que eu possa dizer acerca da música, que vai trazer algo que no Spotify, provavelmente, não havia possibilidade”, reforçou.
António Durães é, nos dias de hoje, ator, mas ajudou a fundar a Rádio Universitária do Minho, onde foi diretor de produção, programação e informação.
“Hoje em dia é possível que a rádio deixe uma ou outra memória, e é bom que ela deixe essas memórias”, apontou, referindo-se aos conteúdos que ficam em podcast. Para António Durães, “isso ainda é o papel da rádio, nesse outro formato”. “É a maneira da rádio ter memória, não ser uma coisa que só acontece neste momento, mas uma coisa completamente efémera”, apontou.
Alexandre Praça foi jornalista e diretor de informação, uma área à qual ainda se mantém atento. Para que os órgãos de comunicação sobrevivam às ameaças dos dias de hoje, “será preciso investir mais para captar os anunciantes para esses meios”. “A questão do financiamento é muito importante, mas, ao nível da informação, sem a intermediação de um jornalista, a informação não tem a credibilidade que pode ter”.
