Sara Barros Leitão apresenta peça sobre trabalho doméstico, “estruturalmente feito por mulheres”

1974, ano da Revolução dos Cravos, foi também a época em que um grupo de mulheres criou o Sindicato do Serviço Doméstico. O objetivo era ter melhores condições de vida e, para isso, seria necessário acabar com a atividade. Nesta base surgiu ‘Monólogo de uma mulher chamada Maria com a sua patroa’, peça estreada em 2021 e que é exibida, esta quarta-feira, às 21h30, no pequeno auditório do Theatro Circo, em Braga.

Entrevistada pela RUM, a criadora, Sara Barros Leitão, conta que o título foi “roubado” a ‘Novas Cartas Portuguesas’, de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, um livro editado antes do 25 de Abril e proibido pela censura. Para a preparação do espetáculo, houve uma investigação, na qual foram encontradas “cartas e histórias incríveis”, complementadas com testemunhos de fundadoras do sindicato.


Nesse sentido, a encenadora e atriz fala de uma peça que “parte de uma base documental daquilo que é a história do trabalho doméstico, o seu retrato em Portugal e também uma história de mobilização coletiva”, já que “queriam acabar com a atividade porque achavam que era uma profissão que ninguém devia ter”.


A peça nasceu na pandemia, altura em que o desnível de trabalho doméstico entre mulheres e homens ficou mais evidente, como retrata a artista. “Os estudos apontam para que a desigualdade entre homens e mulheres ficou mais acentuada, na distribuição de tarefas domésticas, no acompanhamento dos filhos em termos de telescola e até nos próprios espaços utilizados. Há uma investigação recente que diz que, num caso de um casal heterossexual com escritório, ele é 90% ocupado pelo homem e a mulher fica a trabalhar na mesa da cozinha”, aponta.


Por outro lado, ‘Monólogo de uma mulher chamada Maria com a sua patroa’ mostra também a história do trabalho doméstico em Portugal, “estruturalmente feito por mulheres”, e a sua função de “suporte para o mundo”. “É aquilo que é feito dentro das nossas casas e que nos garante depois estarmos tranquilos, alimentados e bem-vestidos para podermos utilizar a nossa força de trabalho fora de casa”, argumenta.

O espetáculo está incluído no ciclo Musa, inteiramente dedicado a artistas do sexo feminino. Fazendo um paralelismo com o conteúdo da performance e com o motivo da criação do sindicato, Sara Barros Leitão diz que integra este tipo de eventos para “acabar com eles”, ou seja, para que “um dia deixe de ser necessário criar focos específicos para a programação de mulheres”. Alerta ainda que a desigualdade de género “continua a existir” e está “presente nos salários, nas programações e nas direções dos teatros”.

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Tiago Barquinha
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