Restaurantes de Braga temem consequências do encerramento ao fim-de-semana

Braga, 12h30. Na rua do Souto, bem no coração da cidade, apesar de ser hora de almoço, multiplicam-se as esplanadas vazias. Entramos em alguns estabelecimentos de restauração para verificar se a realiadade era a mesma no interior. Confirma-se. Um ou dois clientes. O cenário é idêntico um pouco por toda a cidade.
Ao longo da rua, a tabuleta ‘fechado’ é visível em várias lojas.
Para que continuem a ter ‘pão na mesa’, os empresários do sector precisam, mais do que nunca, de clientes, mas estes, antevendo tempos difíceis, teimam em chegar. A situação agrava-se, com as limitações impostas pelo Governo, dizem.
“A maior empresa de Portugal, agora, é a ‘arrenda-se’”
Na rua do Souto, há lojas que não resistiram e fecharam, há também quem pondere despedir funcionários.
A Marcelo Sousa restam duas das três lojas que já teve no centro da cidade. Um dos estabelecimentos não resistiu aos dias difíceis e fechou. Apesar de não saber se terá possibilidade de o voltar a abrir, este empresário não despediu ninguém. Os funcionários foram realocados pelas duas lojas que lhe restam.
“O que mais se vê é arrenda-se. A maior empresa de Portugal, agora, é a ‘arrenda-se’”, disse o empresário .
Para já, Marcelo ainda aguenta os 20 colaboradores, mas não sabe por quanto tempo. Avizinham-se tempos difíceis.
Nos próximos dois fins-de-semana não vai faturar qualquer euro. As lojas estarão encerradas, já que o Governo decretou que há obrigatoriedade de recolhimento a partir das 13 horas.
“É um prejuízo muito grande. Os fins-de-semana são os dias que compensam a semana, costumo estar cheio ao sábado e domingo”, lamentou o empresário.
Marcelo Sousa acredita que esta medida se vai multiplicar por “quatro, seis, oito” fins-de-semana, à medida que o estado de emergência se for renovando.
Para compensar o tombo no orçamento que o encerramento dos restaurantes vai causar, o primeiro-ministro anunciou uma linha específica de apoio ao sector. Marcelo “não acredita” que esses apoios “venham a ressarcir os prejuízos enormes ou as falências”. “Pelos outros apoios que foram anunciados, falou-se muito, mas fez-se pouco”, acrescentou.
“Se não houver lay-off vai ter que haver despedimentos”
Na mesma rua, uns metros mais abaixo, entramos no café/restaurante de Fernando Silva.
As portas do estabelecimento vão manter-se abertas até à hora limite, 13 horas, mas apenas na área da pastelaria. O restaurante estará encerrado. “Seria mais favorável se fosse a partir das 15 horas, porque já conseguíamos fazer o almoço e já ajudava”, admite o proprietário. António Costa já recusou o alargamento de horário.
“Ponderamos muito se a obrigatoriedade de recolhimento devia ser às 13 ou às 15 horas. Não foi por acaso que escolhemos as 13 horas. Sessenta e oito por cento das transmissões do vírus estão a ocorrer em momentos de convívio, mas temos que evitar esses convívios à hora de almoço”, justificou o chefe do Governo.
A medida tem gerado alguns indignação. As grandes superfícies estarão abertas e algumas até já anunciaram o alargamento de horário. A decisão leva muitos pequenos comerciantes a questionar a dualidade de critérios.
Fernando Silva acata a decisão do Governo, que será um sacrifício, já que o negócio anda pela rua da amargura e “está muito mau”. “Se não houver lay-off”, Fernando admite que “vai ter que haver despedimentos”. Dois dos oito funcionários poderão, assim, integrar as próximas estatísticas do desemprego.
Tal como Marcelo, também Fernando espera que os apoios anunciados “se transformem em realidade”. “Às vezes, é só promessas”, finalizou.
Estabelecimento adapta-se à nova realidade e leva refeições à casa do cliente
Na rua D. Paio Mendes, ali mesmo em frente à Sé, um dos restaurantes viu-se forçado a adaptar-se a esta nova realidade. Não era prática comum, mas desde que a pandemia forçou o país ao isolamento, que o espaço implementou um serviço de entregas ao domicílio, para garantir postos de trabalho e fidelizar clientes. Se o cliente não vai ao restaurante, o restaurante vai ao cliente. O lema permitiu que o espaço “nunca fechasse”, admitiu Pedro Martins, um dos responsáveis. Ainda assim, “a expctativa é mais baixa” para os dois fins-de-semana que se seguem. “As regras são mais restritas e as pessoas vão, nesta fase, tentar poupar ao máximo. Não está fácil a nível económico e financeiro para os estabelecimentos e para as famílias”, lamentou.
Ainda assim, para já, os postos de trabalho estão assegurados.
“É insustentável que os proprietários continuem nesta situação”, afirma Pedro, garantindo que o apoio anunciado pelo Governo “nunca será suficiente”, embora seja “uma ajuda”.
Os apoios do Governo ao sector da restauração, afirmou António Costa, deverão ser conhecidos até ao final da semana. Nos dias 14,15,22 e 23 de Novembro há obrigatoriedade de recolhimento a partir das 13 horas. A medida força os restaurantes a fechar portas durante todo o fim-de-semana. Os prejuízos, alegam, poderá ditar o encerramento de muitos estabelecimentos e consequente aumento do desemprego. A medida imposta pelo Governo força os restaurantes a fechar a porta ao vírus e aos clientes. Em Braga, dizem, as consequências podem ser desastrosas.
