Reitor desafia comunidade a encontrar a “âncora de todos os códigos” de ética

Dezenas de oradores de todo o país estiveram reunidos na Universidade do Minho para debater a “Ética e Integridade na Universidade”. Uma análise considerada urgente pela crescente heterogeneidade da comunidade academia, nomeadamente, em termos de estudantes.
Atualmente, a UMinho tem 21 mil estudantes divididos por três campi nas cidades de Braga e Guimarães, dos quais 2.400 são estrangeiros. Para além dos alunos de licenciatura, mestrado e doutoramento, tem crescido a procura por pós-graduações.
Esta sexta-feira, o reitor Rui Vieira de Castro deixou um alerta sobre possíveis “fenómenos de acantonamento de pessoas, guetização de grupos, tensões que podem ter por base posições diferentes em questões de género”, sem esquecer “os casos de assédio”. Deste modo, torna-se premente encontrar “mecanismos que previnam este tipo de fenómenos”.
Eloy Rodrigues, dos Serviços de Documentação e Bibliotecas, também abordou estas questões na sua intervenção, acrescentando que seria importante “encontrar uma forma de consolidar diferentes documentos para que o código de ética não se torne num documento demasiado complexo”.
António Vicente, do Colégio Doutoral, concluiu que o documento deve reger de forma clara as interações, por exemplo, entre estudantes de doutoramento e orientadores, nomeadamente, através de abusos de poder.
No que toca à investigação, o professor da Universidade Nova de Lisboa, Jorge Soares, frisou aspetos como a dificuldade em obter financiamento, pressão para produzir mais e ter resultados a um ritmo mais acelerado o que, por vezes, pode levar a “práticas reprováveis” que podem custar a credibilidade junto da sociedade e que, defende, devem ser alvo de “uma séria reflexão coletiva”. “Hoje, por ventura mais do que nunca, assistimos a alguma tensão entre o valor da verdade em ciência e a prática condicionada pelas métricas de avaliação dos investigadores e das instituições que os acolhem”, declara.
Quanto aos estudantes, o docente deu voz a um estudo que aponta que 60% dos estudantes no ensino superior admitem ter copiado em exames e mais de metade utiliza regularmente trabalhos plagiados.
A presidente da Associação Académica da Universidade do Minho, Margarida Isaías, depois de uma pequena auscultação concluiu que “a grande maioria dos alunos não leu o código de ética da UMinho”. Para a representante estudantil, a academia deve iniciar um trabalho no sentido de promover esse código junto dos estudantes e não só de dar a conhecer os valores e regras presentes no mesmo.
A presidente do Conselho Geral da UMinho e antiga Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal, chamou à atenção para uma possível atualização do documento, visto que está em falta, no que diz respeito ao código de prevenção da corrupção, quais as sanções para comportamentos e violações das regras previstas na lei portuguesa e internacional.
Uma das soluções apresentadas pelo responsável máximo da UMinho passa por um “código âncora”, de modo a não tornar o código de conduta ética da instituição demasiado complexo, sendo que a instituição está, em alguns casos, obrigada por lei a ter códigos para diferentes questões.
Para a presidente do Conselho de Ética, Cecília Leão, é fundamental a existência de uma “reflexão permanente”, de forma “continua e envolvendo todos os membros da universidade e os órgãos de governo e de aconselhamento”, em prol da dignidade humana.
No fecho da sessão a responsável lembrou uma frase do professor Joaquim Pinto Machado, evocado também no arranque da mesma iniciativa, que refere que “as instituições são seres de dever”, logo é fundamental “cuidar de todos”. A sessão pode ser vista aqui.
