Portugueses de classes mais desfavorecidas são os que mais jogam na raspadinha

Os portugueses com mais de 66 anos e de camadas mais frágeis da sociedade, ou seja, com rendimentos mais baixos, têm uma maior probabilidade de serem jogadores frequentes de raspadinhas, em Portugal. Os dados do estudo “Quem Paga a Raspadinha”, serão apresentados, esta terça-feira, no Conselho Económico e Social, em Lisboa.


O estudo foi coordenado por dois investigadores da Universidade do Minho: Pedro Morgado e Luís Aguiar-Conraria.


Na caraterização socioeconómica é apontado que pessoas com rendimentos entre os 400 e os 664 euros, ensino básico ou secundário, demonstram estar mais predispostas a jogar na raspadinha.


Outro dado preocupante está relacionado com as pessoas que podem estar em risco de desenvolver jogo patológico ou doentio. É estimado que sejam cerca de 100 mil, de acordo com Pedro Morgado, investigador da Escola de Medicina da UMinho.

O estudo contou com 3.761 entrevistas, sendo que apenas 2.554 foram concluídas, o que dificulta o cálculo de gastos anuais.

“As pessoas que têm mais tendência a jogar um jogo de sorte e azar, também têm mais tendência a não levar um inquérito deste tipo até ao fim. Por isso, quando nós analisamos e comparamos os gastos médios das pessoas que desistiram de preencher o inquérito, nós temos gastos médios de 227 euros por ano, que comparam com gastos de apenas 38 euros entre aqueles que responderam ao nosso inquérito até ao fim”, adianta.

“Isto é perfeitamente compreensível porque a impulsividade e esta baixa tolerância a responder a algo que leva tempo é uma das características dos jogadores, nomeadamente daqueles que têm mais problemas de jogo patológico. A outra questão é que as pessoas que jogam qualquer jogo de azar tendem a subestimar o seu gasto”, acrescenta.

A percentagem de inquiridos que confessa ser jogador frequente é de 8,7% (221 participantes), contudo, quando a pergunta colocada é se “sentem necessidade de jogar para ganhar dinheiro?”, 83% garante que diariamente. 

No que toca aos indicadores de saúde mental, eles são claramente piores em pessoas com problemas de jogo. Têm maior probabilidade de apresentar sintomas depressivos, ansiedade e stress. Além disso, o jogo patológico pode dar origem a outras dependências como é o caso do álcool.

Questionado sobre que caminho deve ser seguido, de forma a diminuir estes números, ainda que a realidade possa ser mais negra, o investigador aponta, por exemplo, à restrição dos locais de venda de raspadinhas e não à sua proibição, pois isso iria criar mercados paralelos.

Depois da caraterização socioeconómica, primeira fase do estudo “Quem Paga a Raspadinha”, segue-se a caraterização do jogador. Já na terceira fase, a ideia passa por compreender, através de avaliações por ressonâncias magnéticas funcionais, se existem diferenças entre um jogador patológico de raspadinhas e outros.

Para o responsável, “se este estudo tiver algum problema é o de ainda subestimar o uso de raspadinhas em Portugal”, visto que segundo dados publicados em 2020, num artigo na revista médica “The Lancet Psychiatry”, em Portugal, cada pessoa consumia em média 160 euros por mês neste jogo.

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Vanessa Batista
Vanessa Batista

Jornalista na RUM

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