“Quando a UNESCO escolhe a confiança está a reconhecer na rádio esse papel que é único”

“A rádio continuar a ter um papel que já não é central na nossa vida, mas continua a ter um papel muito importante”. A afirmação é de Luís Santos, professor e investiagador da Universidade do Minho, que se junta, este domingo, à emissão especial da RUM.
Assinala-se, hoje, o Dia Mundial da Rádio, proclamado na Conferência Geral da UNESCO em 2011, seguindo uma proposta inicial da Espanha. Foi aprovada por unanimidade no ano seguinte pela Assembleia Geral das Nações Unidas, que o declarou um Dia Internacional da ONU.
Este ano, a UNESCO desafia-nos a celebrar a data, tendo como ponto de partida a ‘confiança’.
Segundo o docente de Ciências da Comunicação, “os portugueses, tal como acontece com os consumidores de outros países, têm uma ideia menos simpática dos media em geral do que tinham há 10 ou 15 anos”. Ainda assim, realça, “as audiências de rádio continuam estáveis”, ainda que já não fossem grandes há 10 anos, e “o grau de confiança deve ser semelhante”.
Luís Santos considera que “a rádio cumpre papéis que os outros media não conseguem cumprir”, nomeadamente “um aspeto do ponto de vista político e legal é muito mal tratado que é cuidar da proximidade”. “Quando a UNESCO escolhe a confiança para a celebração deste ano, está a reconhecer na rádio esse papel que e único”, frisou.
A proximidade que a rádio permite “através da voz de um outro ser humano, que se engana, que tem hesitações de voz, isso tudo aproxima-nos da outra pessoa. No papel ou na TV, onde tudo é mais encenado isso não acontece tanto”.
“Política e legalmente a rádio é muito mal tratada”
Para o investigador, “política e legalmente a rádio é muito mal tratada” e o papel social das rádios locais “é muito relevante”, ainda que defenda que este conceito deveria “evoluir para um estatuto de rádios comunitárias e, assim, terem outro tipo de liberdades do ponto de vista formal e das obrigações legais, que talvez permitissem à rádio desempenhar um papel ainda mais importante”.
Luís Santos fala ainda de um “descuido da classe política pela rádio, nos últimos quase 30 anos, significa que subverteu o espírito da lei da rádio e o que aconteceu foi negativo para o setor”. “Esta questão específica da pandemia, em que o Estado assumiu um compromisso de publicidade paga sobra a gestão da pandemia, tivemos um pronunciamento da Entidades Reguladora para a Comunicação (ERC) a dizer que o Estado cumpriu com os grandes grupos de media, mas não com os pequenos. Vinte mil euros para os grandes grupos pode não ser nada, mas para os pequenos pode ser um ano de sobrevivência”, exemplificou.
Com a expansão das redes sociais, os media tiveram que adaptar-se a uma nova forma de partilhar informação. “A rádio é o mais flexível dos três media classicos e a que perdeu menos audiência com as mudanças de estilos de consumo, mas também a que se adaptou com muito menos complexos às novas potencialidades”, afirmou o docente de Jornalismo, lembrando que “muitos programas de rádio utilizam as redes sociais para contactos diretos com as suas audiências no momento em que o programa está a ser feito”. Além disso, “a rádio soube tirar partido do vídeo”. “Há muitos programas de rádio que fizeram a transição para TV e não o contrário, o que significa que há qualquer coisa especial na relação que se cria entre as pessoas que fazem rádio e as que ouvem”, apontou.
Apesar de vivermos uma era marcada pela pandemia, “ouvir ajuda a criar relação com as coisas”. “Se a pessoa que está a dizer é uma pessoa que eu confio é muito natural que eu confie mais e a rádio consegue fazer isso”, finalizou. Para o docente, era importante que a rádio não perdesse esta ligação ao ouvinte, porque “é parte do que torna a rádio importante neste dia”.
A emissão especial da RUM, que assinala o Dia Mundial da Rádio, vai para o ar entre as 13h00 e as 15h00.
A Luís Santos junta-se, na primeira hora, Sérgio Denicoli, docente da UMinho e investigador especializado na área das fake news. Depois, até às 15h00, contamos com a participação de Santiago Veloso, responsável pela associação Ponte das Ondas, e Daniel Pereira Cristo, um dos padrinhos do projeto Meninos Cantores.
