“Projecto não deturpa espírito de reabilitação da Fábrica Confiança”

Ricardo Rio disse hoje esperar que à terceira, a hasta pública para a venda da Confiança se concretize. Depois da aprovação expectável do novo caderno de encargos para a alienação do imóvel, o autarca admitiu que a autarquia vai encaixar vários milhões de euros assegurando integralmente a requalificação de um imóvel importante para a cidade de Braga.
Para o presidente da autarquia, o projecto de residência universitária privada “não deturpa de forma nenhuma o espírito de reabilitação do edifício e de colocação ao serviço da comunidade”. Em declarações aos jornalistas, Rio disse ainda que “não é pelo facto de estar na esfera pública ou privada que o imóvel é melhor ou pior preservado”. “Há regras que são aplicáveis ao estado ou a um privado. Está claro no caderno de encargos que todo o edifício da Confiança tem que ser preservado e tudo o que ali seja edificado tem que ser reversível”, vincou.
Recusando a ideia de que o preço das rendas possa vir a aumentar com esta nova oferta na cidade – recorde-se que a requalificação e construção de um novo edifício pode resultar em 300 novos alojamentos, ainda que de pequena dimensão – Rio lembrou que a solução encontrada “vai reduzir pressão nas ofertas”.
Uma residência universitária privada não é necessariamente dirigida a estudantes e nada impedirá o aluguer de um estúdio a um “cidadão comum”. Sobre essa possibilidade, Rio admite que sim, mas lembra que a dimensão dos estúdios não interessa ao cidadão comum. “Não há maneira de condicionar se é para um aluno de 1º,2º ou 3º ciclo. Não estamos a falar de apartamentos, estamos a falar de estúdios, portanto uma pessoa normal não conseguiria residir naquele espaço que não fosse uma lógica de serviços partilhados. Quem quer utilizar este tipo de serviços são sobretudo pessoas da comunidade académica”, justificou.
Sobre o valor base de 3.6ME, Rio lembra que a CMB “não é um promotor imobiliário”, mas pode entender que este modelo de projectos “é uma boa forma de reabilitar o edifício”. O autarca disse ainda esperar no dia da hasta pública “vários concorrentes, mas não tantos assim”.
Sobre o agendamento da terceira hasta pública, o autarca não escondeu que está preparado para a possibilidade de uma nova providência cautelar. “Eventualmente teremos uma nova providência cautelar e eventualmente teremos novamente de contestá-la. Se assim acontecer, espero que voltemos a vencê-la e que desta vez seja marcada em definitivo a venda da Confiança”, rematou.
Vereadora Lídia Dias absteve-se da votação
Lídia Dias, vereadora da Cultura, absteve-se na votação. Em declarações à imprensa, a vereadora centrista disse tratar-se de “uma questão de princípio” considerando que a requalificação “não será na plenitude motor de uma relação com a UMinho, sobretudo no domínio cultural”. Lídia Dias considera, no entanto, que a fábrica “ficará salvaguardada”.
CDU não admite a alienação da Fábrica Confiança e refere que argumentos apresentados por Ricardo Rio “não colhem”
Na reunião desta segunda-feira, e antes do momento da votação, Carlos Almeida acusou a maioria de ter procurado nos últimos meses “dar uma nova roupagem a esta venda” que “pode colocar em risco o uso e salvaguarda do imóvel”.
Sobre o novo edifício que pode nascer no logradouro, o vereador da CDU refere que o município “fez questão de adiantar trabalho” a quem vier a adquirir o imóvel. Carlos Almeida acusa ainda a autarquia de “fazer alarido com a ideia de que vai ajudar estudantes da UMinho” quando na realidade a solução “não resolve o problema de estudantes universitários com dificuldades financeiras”. “Um estudante comum não vai pagar o que vão pedir com este projecto privado, isto não vai resolver o problema de falta de oferta”, disse. Antes de votar contra, o vereador da CDU manifestou-se “preocupado o com o novo volume proposto, de sete pisos, numa zona com graves falhas urbanísticas”.
“Há uma vontade inequívoca de vender o edifício a toda a pressa para poder pagar contas”, defende PS
O PS considera que a pressa em vender o imóvel está relacionada a necessidade de receita imediata da Câmara Municipal de Braga. “Se tem obrigações deve perceber que não se pode esbanjar dinheiro”, disse Artur Feio, exemplificando com atrasos de pagamento denunciados por fornecedores da autarquia ou até pela duplicação do investimento na iluminação de Natal na cidade.
Os socialistas recordam que a compra da Confiança para fins culturais “foi o único momento” em que as forças partidárias, sociedade civil e associações estiveram de acordo na cidade de Braga.
Plataforma designa novo caderno de encargos de ‘elefante papel’
Na reunião de hoje surgiram dois dos elementos afectos à Plataforma Salvar a Fábrica Confiança. Os cidadãos garantem que não vão baixar os braços na tentativa de impedir pela terceira vez uma hasta pública.
Cláudia Sil recordou que o fim para a antiga Confiança anunciado pela autarquia já constava dos alertas da plataforma desde o início. Sublinhando os preços praticados nos já conhecidos modelos de residências universitárias privadas, a plataforma estima que o privado que adquirir a Confiança venha a concretizar, em poucos anos, aproximadamente 200 milhões de euros. “Estamos a falar de um excelente negócio para os compradores”, disse a cidadã na sua intervenção depois de terminada a ordem de trabalhos. Os elementos da Plataforma levantam outras questões, entre elas as motivações para um privado optar pela Confiança quando, a 200 metros, está à venda por 3ME a antiga fábrica Sarotos, “com acessos mais fáceis”.
Luís Tarroso Gomes condena a CMB por “desvalorizar a Plataforma”. “Não percebo como é que até hoje não houve disponibilidade do presidente para reunir com a Plataforma. Já não se usa esta forma de governar”, disse.
Na opinião da Plataforma Salvar a Fábrica Confiança, esta é “a opção mais gravosa para o interesse público”, sugerindo à autarquia que para isto seria mais lógico “concessionar o logradouro” para construir a residência privada, obrigando o privado a intervir no edifício da Confiança.
A segunda proposta do caderno de encargos será submetida a votação na Assembleia Municipal de Braga agendada para dia 24 de Janeiro.
Depois disso, o município pretende agendar no imediato uma nova data para a hasta pública que deverá acontecer ainda no mês de Fevereiro.
