“Portugal investe muito na qualificação dos jovens, mas economia não cria bons empregos”

“Portugal está a investir muito na qualificação dos mais jovens, mas a economia não está a conseguir criar bons empregos”. A opinião é do professor da Escola de Economia e Gestão (EEG) da Universidade do Minho, João Cerejeira.
No espaço de um ano, desapareceram 105 mil empregos de pessoas com formação superior, uma redução de 6,1%. Esta é maior redução desde 2011. Os números, que foram revelados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), que demonstra ainda que o desemprego entre os licenciados não aumenta tanto, ficando-se pelos 2,7%.
O economista diz que a descida do prémio salarial está a empurrar as pessoas com formação superior para a emigração, uma vez que há menos 138 mil licenciados nas pessoas residentes no país. Entre os que saem, segundo os dados do INE, a maioria tem entre 35 e 54 anos e são, sobretudo, mulheres.
João Cerejeira acredita que estes jovens qualificados “vão para outros países onde encontram melhores condições de trabalho, em termos de salários e de qualidade”. “Portugal está a investir muito na qualificação dos mais jovens, mas depois a economia portuguesa não está a ser capaz de criar as oportunidades para estes jovens”, frisou.
Em contraponto, diz, há “entrada de pessoas menos qualificadas, portanto de imigrantes menos qualificados, para os setores que têm crescido mais em Portugal, como é o caso da construção e das áreas ligadas à recuperação do turismo e da restauração, que são setores que tendem a empregar pessoas com menores níveis de educação”. Na restauração e alojamento, recorde-se, foram criados 58 mil empregos, no último ano, e na construção, foram empregadas 26 mil pessoas.
Governo deve rever “política de emprego, económica e fiscal”
“Nós temos um problema que é o facto de a economia não estar a conseguir criar bons empregos, com requisitos mais elevados em termos das qualificações, e estar a criar empregos menos qualificados, depois também se traduz em remunerações mais baixas”, enfatizou, acrescentando que “não é positivo para o crescimento do país e para aquilo que se deseja a médio e longo prazo”.
Para João Cerejeira, perante estes resultados, o Governo deve rever “a política de emprego, económica e fiscal”.
A redução do emprego foi sobretudo impulsionada pela área da Educação, que perdeu 59 mil pessoas, pela administração pública, com menos 27 mil, e pelo comércio e reparação de veículos, que perdeu 18 mil postos de trabalho.
O professor da UMinho enaltece, no entanto, “o aumento do emprego”, com “quase cinco milhões de pessoas a trabalhar em Portugal, que é o número recorde desde a última série, desde 2011 até agora”. “Tivemos passagem de pessoas que não procuravam emprego ou não estavam disponíveis para trabalhar e começaram a fazê-lo e esse aumento foi superior à criação de emprego”, destacou. Além disso, explicou João Cerejeira, “temos mais desempregados porque a economia não foi capaz de criar empregos para estas pessoas que estavam dispostas a trabalhar”.
