Portugal e o Minho no pós PRR divide opiniões

No final do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), o Presidente da Comissão Nacional de Acompanhamento, Pedro Dominguinhos, acredita que o país estará mais coeso. No debate dedicado ao PRR no Minho, promovido esta segunda-feira pelo Europe Direct Minho, Pedro Dominguinhos salientou que para lá dos projetos físicos, a formação da classe trabalhadora deve ser prioritária e disse ainda que “ninguém perdoará se o país não conseguir investir com impacto positivo os 50 mil milhões de euros à disposição” via União Europeia. Só para a região do Minho, envolvendo as três comunidades intermunicipais, estão aprovados investimentos na ordem dos 567Milhões de Euros.
“Nós temos a população ativa menos qualificada de toda a União Europeia. É o país onde as empresas menos investem em formação. As grandes empresas, médias, grandes investem em formação, 85% das empresas não dão
uma hora de formação. E nós sabemos que numa revolução tecnológica como a que estamos a assistir, isto é incomportável. Isso significa que nós temos de correr muito mais rápido, porque temos de ter o investimento na população que está jovem e ao mesmo tempo ter a capacidade de ir requalificando aquela que está no mercado de trabalho”, frisou.
Através do PRR em vigor até 2026, Pedro Dominguinhos acredita que Portugal pode potenciar ainda mais a dinâmica das cidades de média dimensão como Braga, Aveiro, Évora ou Bragança.
“Com uma ligação entre o ecossistema empreendedor, o sistema de ensino superior, as autarquias, a dinâmica é completamente distinta. Nós estamos numa economia de um país muito mais coeso e depois estamos num país mais competitivo. Isto é um aspecto, é algo que vem desde 2016 e tem muito a ver com a nova capacidade
dos novos empresários, das novas empresas alicerçadas na nova tecnologia, nas novas tecnologias que ligam a indústria com serviços, que são mais híbridas do que aquela dimensão tradicional e precisamos de uma coisa que é fundamental, precisamos de mais indústria”, argumentou.
“Criou-se a ideia de que isto é dinheiro dado. Nós vamos pagá-lo e é dívida que estamos a deixar para as próximas gerações” – Ricardo Costa
Dos 567Milhões de euros de investimentos já aprovados para o Minho através do PRR, 348Milhões são para a Comunidade Intermunicipal do Cávado. No debate, Ricardo Costa, presidente da Associação Empresarial do Minho, sugeriu que os fundos estruturais sejam aplicados de forma estratégica e a longo prazo. Além de reafirmar a perspetiva da AEMinho de promover a fusão entre as Comunidades Intermunicipais do Cávado, do Ave e do Alto Minho para potenciar a região e captar mais investimento para uma competitividade justa com as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, o empresário apelou ao governo que “oiça quem conhece o território, quem está mais próximo da população e conhece as necessidades”. “São muitos anos a receber fundos estruturais. O governo deve olhar para as linhas estratégicas que permitam que o país cresça. Precisamos de um país forte e que não exista esta divisão entre empresas e trabalhadores”, continuou.
Numa intervenção mais dura, Ricardo Costa lamentou que o país viva numa cultura de subsidio dependência. “Mais uma vez, neste PRR criou-se a ideia que isto é dinheiro dado. Vai-nos cair aqui um helicópetro, vai despejar para aqui umas notas e vamos ficar todos contentes a distribuir este dinheiro. Este dinheiro vai ser pago e é dívida que estamos a deixar para as próximas gerações e isto deve-nos responsabilizar da forma como utilizamos este mesmo dinheiro”, avisou. Para os empresários do Minho, “houve um erro no desenho do PRR”, e Portugal teve uma oportunidade “única para investir em áreas estratégicas”. “Uma grande parte das verbas ficou logo no Estado e o que está a chegar é dividido. Mais uma vez, vamos chegar aos últimos anos ou meses e vamos aprovar projetos em catadupa para gastar o dinheiro que ainda está disponível”, sustentou.
“O governo dedicou o documento a satisfazer as necessidades do estado central e das áreas metropolitanas” – Vereadora Olga Pereira
Já a vereadora Olga Pereira considera que o município de Braga merecia mais investimentos de grande envergadura, para lá dos apoios para a residência universitária pública e a primeira fase do projeto BRT, lembrando que numa primeira fase, Braga nem foi contemplada.”Estamos a falar da terceira cidade do país, de uma cidade que nos últimos dez anos cresceu quase 7% em contraciclo com quase todas as cidades do país. Estamos a falar de uma inexistência total de algum tipo de coesão quando o governo dedicou este documento a satisfazer as necessidades do Estado Central e sobretudo das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto”, afiançou.
Em jeito de conclusão, o presidente da Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR avisou ainda que com 50mil milhões de euros direcionados para autarquias, universidades, empresas e outras instituições, Portugal só tem um caminho a seguir, “investir com impacto positivo”. “Os nossos filhos não nos vão perdoar de não conseguirem continuar a viver em Portugal”, admitiu.
Investimentos mais impactantes vão para as grandes cidades da região
Recorde-se que só para a região do Minho, envolvendo as três comunidades intermunicipais estão aprovados investimentos na ordem dos 567Milhões de Euros. A maior fatia surge via agendas mobilizadoras, para as empresas e instituições de ensino superior. Seguindo-se as famílias e as micro e pequenas empresas. As estratégias locais de habitação também ganham destaque.
Os maiores investimentos vão para as grandes cidades como Braga, Guimarães e Famalicão. No Minho, entre as pequenas cidades destaca-se Melgaço.
O responsável lembrou ainda os 10 Milhões de Euros para o concelho de Guimarães para dar resposta ao alojamento estudantil a preços acessíveis. Já no caso de Braga são 25ME para a construção da residência universitária na antiga Fábrica Confiança. Ainda sobre a via do Avepark, o responsável antecipou ainda a nova ligação ao Avepark, processo que está nas mão da Infraestruturas de Portugal.
A instalação da primeira fase do BRT em Braga também foi considerada com o apoio direto de 100 Milhões de Euros.
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