Para quando o regresso à vida normal?

A quarentena para travar a propagação da Covid-19 não pode continuar por muito mais tempo. Governantes e economistas apontam que o confinamento prolongado não é hipótese, caso contrário, as consequências na economia podem ser mais devastadoras do que a própria doença.
O coronavírus detectado em Dezembro na China e rapidamente propagado por todo o mundo obrigou os governos a aplicarem medidas drásticas: a quarentena foi decretada em inúmeros países e diversos sectores de actividade ficaram em suspenso.
Em pouco mais de três meses, entre o início da propagação do novo vírus e a previsão dos picos da epidemia, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) já anunciou uma possível recessão mundial de 2,4% para este ano. Em Portugal, apesar das palavras do ministro das Finanças, há estudos que apontam para um recuo na economia entre 4 a 20%.
“Tirando episódios de guerra, isto é algo que nunca foi visto. Acontece em Portugal mas também no mundo e isso faz com que não haja ninguém a puxar pela economia”, diz Fernando Alexandre, docente na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho e antigo Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Administração Interna.
Os danos na economia nacional já se reflectem no aumento do desemprego e na quebra dos rendimentos. O turismo, que representa mais de 10% do PIB nacional, está paralisado. Grandes empresas como a Galp, a TAP ou a alemã AutoEuropa registam quebras acentuadas na produção e nas vendas. Os especialistas apontam que a vacina contra a doença só estará disponível no segundo semestre do próximo ano mas com a recessão anunciada será insustentável a manutenção das quarentenas.
“Os governos têm de fazer regressar as pessoas às empresas com métodos – já desenvolvidos por entidades públicas e universidades – que identifiquem se cada trabalhador está contagiado ou imune. Temos de usar esses instrumentos para ter a certeza de que quem regressa ao trabalho não coloca a saúde dos outros em risco”, esclarece Fernando Alexandre.
O regresso ao quotidiano está previsto para o final do Maio, depois de ultrapassado o pico da epidemia. No entanto, caso a curva epidemiológica não abrande, a escassez de bens pode começar a ser uma realidade no país.
“É um dos grandes desafios do ano: garantir que a produção e o abastecimento não são postos em causa. As coisas não caem do céu e as pessoas precisam de comer todos os dias”.
O balanço entre a produção e a saúde terá de ser, assim, meticuloso. Um estudo do Imperial College de Londres propõe o confinamento de curto-prazo – 3 meses -, da população até à chegada da vacina, em alternativa a isolamentos prolongados. Fernando Alexandre diz que os pareceres técnicos têm de se sobrepor a quaisquer sugestões.
“A manutenção da produção terá de ser feita por pessoas imunes ou recuperadas. Não podemos pôr em causa a vida dos que vão trabalhar nem dos que ficam em casa. Não há nenhum sistema nacional de saúde no mundo que consiga tratar os atingidos pela doença”.
